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Miyazaki e a busca pelo RPG ideal

Mesmo com uma carreira invejável, nos dando jogos como Dark Souls e Elden Ring, Hidetaka Miyazaki afirma que ainda procura o RPG ideal

18/06/2024 às 10:52

Com apenas duas décadas de carreira, o que direi pode parecer exagero, mas me sinto seguro ao afirmar que Hidetaka Miyazaki já responde como um dos melhores game designers da história. Responsável por alguns dos jogos mais influentes dos últimos anos, ele criou um subgênero e com o lançamento do Elden Ring, parecia que havia chegado ao ápice. Contudo, o “pai dos Soulslikes” acredita que ainda pode melhorar.

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Com a expansão Shadow of the Erdtree prestes a chegar ao Elden Ring, Miyazaki conversou com o site PCGamer e durante a entrevista falou sobre o que precisaria acontecer para que chegasse ao tão desejado título ideal.

“Quando dei entrevistas sobre o Elden Ring, acho que mencionei que ainda estava no processo de criar meu RPG de fantasia ideal. E embora o Elden Ring não seja exatamente isso, está bem perto. Está chegando perto.

Acho que uma coisa que não necessariamente está faltando, mas que dificulta alcançar o meu ideal, é que quando jogo, sei tudo o que irá acontecer. Eu já sei tudo o que irá acontecer. Então em termos de aproveitar o jogo por um ponto de vista do jogador, eu adoraria não saber disso e que alguém fizesse o meu jogo de fantasia ideal, por favor, se possível. Então eu poderia aproveitá-lo apenas como um jogador.”

Essa é uma declaração interessante, pois quase nunca pensamos naqueles que criam jogos como simples pessoas, alguém que muitas vezes também foi, em algum momento de sua vida, um apaixonado por jogar.

Hidetaka Miyazaki

Crédito: Reprodução/FromSoftware/Time

Imagine ser uma figura como Hidetaka Miyazaki, Shigeru Miyamoto, Hideo Kojima ou Neil Druckmann e nunca ter a oportunidade de experimentar pela primeira vez uma das suas criações. Imagine nunca ter a surpresa que várias de suas obras de artes nos proporcionaram e ainda carregar consigo o peso de que um título só será ideal quando conseguir entregar essa sensação de ineditismo.

Por sorte, essas pessoas ainda podem se divertir com o brilhantismo uns dos outros, como declarou Druckmann na seleção de pessoas mais influentes da revista Time, quando Miyazaki foi escolhido. “A primeira vez que joguei um dos jogos de Hidetaka Miyazaki, fiquei infeliz,” disse o criador do The Last of Us. “Eu continuava morrendo seguidas vezes no primeiro inimigo. Mas quando desacelerei minha abordagem, prestando atenção aos detalhes, de repente deu um clique. Consegui derrotar o primeiro inimigo e avançar mais pelo jogo. Mereci o meu progresso e senti uma espécie de adrenalina! E à medida que avançava pelo jogo fui muito mais deliberado e cuidadoso na forma como explorei o seu mundo. E em troca, o mundo me recompensou com tensão, beleza e surpresas.”

Ao ser questionado sobre como seria passar por uma curta amnésia para poder aproveitar algumas das suas criações, o homem que influenciou muitos desenvolvedores, primeiro com o Demon’s Souls, depois com a série Dark Souls, gostou da ideia, em partes.

“Isso seria o sonho,” afirmou, para depois ponderar. “Mas eu poderia ficar com muita raiva e quebrar o controle ou algo mais. Talvez não seja uma boa ideia.”

Elden Ring, de Hidetaka Miyazaki

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Brincadeiras à parte, a ascensão meteórica de Hidetaka Miyazaki fez com que ele chegasse ao cargo de presidente da FromSoftware e como tal, muitos profissionais dependem das suas decisões. Funcionando como uma subsidiária da Kadokawa Corporation, o estúdio comandado por ele responde como um dos braços mais lucrativos do conglomerado, mas no estado atual da indústria, sabemos que isso não quer dizer muita coisa.

Gigantes como Microsoft, Embracer, Sony e Electronic Arts recentemente estiveram nas manchetes por fechar desenvolvedoras e demitir milhares de pessoas, incluindo estúdios que lançaram títulos de sucesso, como o Tango Gameworks. Logo, que garantia a FromSoftware pode ter que não passará pela mesma situação?

Pois se depender de Miyazaki, esse é um problema que não deverá afetar a empresa. “Falando por mim e por esta companhia, quero dizer que isso é algo que não desejo para a equipe da FromSoftware nem um milhão de anos,” declarou. “Tenho certeza de que a Kadokawa entende isso e compartilha tal visão.”

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Então, o game designer usou um exemplo para explicar por que acredita que as demissões, ou o risco delas, é algo prejudicial para uma desenvolvedora e foi enfático sobre o futuro da sua empresa.

“Acho que foi o antigo ex-presidente da Nintendo, Iwata-san, que disse que ‘pessoas que temem perder seus empregos tem medo de criar coisas boas.’ Estou parafraseando isso, mas concordo totalmente com essa visão.

Acho que é verdade. E acho que as pessoas na Kadokawa, nossa empresa-mãe, entende que tenho essa visão muito fortemente. Embora não possamos dizer 100% — não podemos dizer com total certeza o que o futuro guarda para a From e a Kadokawa — ao menos enquanto eu tiver essa companhia sob minha responsabilidade, isso é algo que não acontecerá. Então, espero que os nossos jogadores e nossos fãs possam ter um pouco de segurança em relação a isso.”

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Esse não é o tipo de declaração que vemos por parte de executivos da indústria de games, pois sabemos que os planejamentos e promessas feitas pelos estúdios não costumam se sustentar por muito tempo. Basta a FromSoftware lançar um jogo que não alcance o padrão de qualidade que ela tem entregado ou mesmo não se mostre um sucesso comercial para que cabeças comecem a rolar.

Porém, Hidetaka Miyazaki alcançou um status que o coloca em uma posição tão ou até mais difícil de ser derrubada que alguns monstros que ajudou a criar. Em muitas empresas, esse seu posicionamento provavelmente renderia uma reunião em que os executivos da empresa dona do estúdio tentariam colocar o sujeito em seu devido lugar, mas quem arriscaria desagradar um game designer que conta com tanto prestígio?

Portanto, provavelmente Miyazaki seguirá sua busca pelo RPG que considera ideal, inclusive com o projeto para um próximo jogo já estando em curso. Se conseguir isso, todos que adoram suas criações terão motivos para comemorar e de quebra, um gênio ainda terá a oportunidade de experimentar uma obra de arte em sua plenitude.

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