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E 2016 levou Vera Rubin, a Rainha das Galáxias

Vera Rubin, a astrônoma que praticamente forçou a descoberta da Matéria Escura com suas observações, acaba de falecer. Um grande nome da ciência que se vai, mas em suas palavras, o importante é que seus dados permanecem e servem para novas gerações de pesquisadores. Clique e conheça mais da vida dessa grande mulher!

7 anos atrás

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Vera Rubin nunca soube seu lugar. Sem aceitar não como resposta, se tornou a primeira mulher a ter acesso aos instrumentos do observatório do Monte Palomar, em 1965, então o maior telescópio do mundo. Detalhe: até 1965 mulheres sequer podiam entrar no prédio.

Nascida em 1928, em vez de arrumar um marido e cuidar da família, como uma boa moça, ela foi estudar… astronomia. Por sorte o pai era engenheiro elétrico eletricista e a mãe trabalhou fazendo cálculos para a Bell Telephone Company, então ambos apoiaram a carreira científica da filha.

Não que tenha sido fácil. Ela completou seu bacharelado em astronomia, e tentou fazer o doutorado por Princeton, mas como mulheres só seriam admitidas no curso de astronomia por lá em 1975, foi ignorada. Seu plano B era Cornell, onde estudou astrofísica com Richard Feynman e mecânica quântica com Hans Bethe. Ok, ter aula com dois ganhadores do Nobel não deve ter sido tão ruim assim.

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Tão acostumada com todo mundo dizendo o que ela não poderia fazer, Vera apenas ignorou a ordem geral de não desafiar o conhecimento estabelecido, e acabou descobrindo que suas observações de galáxias distantes não batiam exatamente com as previsões da Teoria do Big Bang e da Lei de Hubble.

Por algum motivo misterioso elas estavam se movendo mais rápido do que deveriam, como se estivessem girando em torno de um centro invisível. Também se aglomeravam em grupos, em vez de uma distribuição uniforme pelo cosmos.

A tese foi mal-recebida e abandonada por 20 anos, até que foi redescoberta, os dados reavaliados e a incômoda e inconveniente verdade apareceu: Vera Rubin estava certa, as galáxias se comportavam como se tivessem muito mais massa do que aparentam. Isso levou à redescoberta do conceito de Matéria Escura, proposto pelo astrônomo suíço Fritz Zwicky nos anos 30.

Vera comprovou com suas observações uma teoria fundamental da cosmologia moderna, que muda conceitos e teorias básicos da física e da astronomia.

Alpha Magnetic Spectrometer, instrumento de mais de 1 bilhão de dólares procura por evidências de Matéria Escura, essa entidade misteriosa que sabemos que existe, vemos seus efeitos mas não interage com matéria comum. Soa quase sobrenatural? Bem-vindo ao Maravilhoso Mundo da Alta Cosmologia.

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Vera Rubin tem 144 pesquisas publicadas, um asteróide batizado com seu nome e 4 filhos, David e Allan, PhDs em Geologia, Karl, PhD em Matemática e Judith, PhD em física de raios cósmicos. Sorry Tedson.

Ela sempre defendeu uma maior presença de mulheres na astronomia e na ciência em geral, e fez o máximo que alguém pode fazer para promover isso: mostrou que é possível vencer as dificuldades e se destacar no mais árido dos campos de estudo, independente de seu gênero.

Como boa cientista Vera aceitou a descoberta da Matéria Escura, mas nunca foi fã da idéia, não achava uma solução elegante. Só que mais que ninguém Vera Rubin sabe que o Universo não existe para ser elegante ou para atender nossos desejos, o Universo é o que fazemos dele, nada vem de mão-beijada.

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Vera recebeu boa parte das honrarias de sua área, sendo inclusive a segunda mulher a ganhar a Medalha de Ouro da Sociedade Astronômica Real Caroline. Isso foi em 1996. A primeira foi Caroline Herschel, em 1828.

A Dra Rubin nos deixou hoje, dia 26/12/2016, aos 88 anos, mas seu trabalho permanece. E isso é o que importa, inclusive para ela:

Fama é passageira, meus números significam muito mais para mim do que meu nome. Se astrônomos ainda estiverem usando meus dados no futuro, essa será minha maior realização

Vera Rubin

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