Carlos Cardoso 9 anos atrás
A BBC sempre teve uma relação complicada com o Top Gear. Um canal de TV do governo, alinhado com a esquerda liberal européia, sem necessidade de publicidade e vivendo do imposto pago por todo cidadão britânico que possui uma televisão, não engoliam um programa que glorificava carros de luxo, fazia piada com vegetarianos, comunistas, mexicanos, outros ingleses e… basicamente todo mundo. Incluindo e principalmente eles mesmos.
O problema é que o programa era vendido no mundo todo, tinha audiência mundial de 250 milhões de espectadores, lançou versões locais em vários países, e basicamente rendia centenas de milhões de libras pra BBC. Mesmo assim depois de um incidente onde Jeremy Clarkson socou um produtor, resolveram que não era caso de uma punição, mas de cancelamento. Fácil, quando você imprime seu próprio dinheiro.
Curiosamente não foram tão implacáveis com Jimmy Savile, DJ e apresentador da BBC que durante décadas abusou sexualmente de crianças impunemente, sendo acobertado pelos altos escalões da emissora.
Sim, eles tem um programa espacial melhor do que o nosso.
Quando a notícia de que o programa seria cancelado apareceu fãs juntaram um milhão de assinaturas e entregaram na BBC com um tanque de guerra, sem resultado, comprovando a hipótese de que petições online são tão inúteis que anulam o poder de convencimento de um tanque.
Vendo a hagada que fez a BBC tentou oferecer uma baba para Richard Hammond e James May ficarem no programa. Não rolou. Tentaram negociar a volta de Clarkson, não deu, e Andy William, o produtor co-criador do programa também pediu as contas. Anunciaram um novo Top Gear com Chris Evans (não aquele) mas os fãs não perdoaram. TODOS os reviews, vídeos e posts são inundados de comentários e avaliações negativas, um vídeo típico do Top Gear no YouTube é assim:
A brigada politicamente correta enquanto isso batalha pra afundar o que restou do programa (basicamente o formato), prometendo um Top Gear mais maduro, menos ofensivo, com mais diversidade e “mais voltado para mulheres”. Estranho, 40% da audiência do programa ERA composta de mulheres, mas os executivos não devem saber disso.
Um Alfa Romeo vs um quadriciclo. Será?
Que os 3 apresentadores iriam acabar em um novo programa todo mundo sabia, mas restava a dúvida: aonde? O contrato dos três tinha uma cláusula de não-competição, por dois anos não poderiam ter um programa na TV inglesa. Eis que entra a internet, que não constava no contrato. Os boatos envolviam Netflix, Hulu, Google, mas no final eles fecharam com a Amazon.
Farão parte do Amazon Prime, segundo Jeremy Clarkson foi como sair de um biplano e entrar em uma nave espacial. A Amazon também tem bolsos bem mais fundos que a Netflix, e eles receberam total liberdade criativa.
Melhor ainda: fecharam um pacote de 3 temporadas, que irão ao ar em 2016, começando a ser produzidas muito, muito em breve.
As interwebs estão celebrando esse imenso CHUPA BBC, e esperando que a equipe mantenha o lema do programa: “ambicioso, mas lixo”.
Resenha do Porsche 918 Spyder. Um híbrido, ecológico, que salva as foquinhas.
A BBC insiste no erro em achar que Top Gear é um programa de carros. Não é, é um programa COM carros onde 3 idiotas que gostam muito de carros falam sobre eles, quase de passagem. Não é um programa para você escolher seu próximo carro, é um programa para você ver uma corrida entre um skatista e um carro de rally.
Resenha do Ford Fiesta, nenhum programa foi mais completo.
Para os fãs foi o fim de uma longa e tenebrosa noite, adiamos mais uma vez a inevitável extinção do último bastião de verdadeiros petrolheads, de gente que ama o barulho dos motores, que se preocupa mais com km/h do que com km/L. Gente que acha ofensiva a simples visão do carro do Google, com suas linhas horrendas onde beleza a performance foram removidas da equação.
Acho que nada resume mais esse sentimento do que esses dois vídeos, ambos com o Clarkson. O trailer do Forza 4…
E este filme sobre o Aston Martin Advantage.
Estamos vivendo o fim de uma era; Clarkson, Hammond e May são três dinossauros, nós sabemos disso, mas amamos esses patetossauros e graças à Amazon podemos dizer pro metafórico meteoro: hoje não.