Meio Bit » Engenharia » Starliner voltará à Terra em breve, se nada mais der errado

Starliner voltará à Terra em breve, se nada mais der errado

Retorno da Starliner (vazia) à Terra é marcado para 6 de setembro; decisão sobre quem cortar da misssão Crew-9 gerou climão na NASA

02/09/2024 às 10:35

Enfim, a CST-100 Starliner tem uma data para retornar à Terra, ainda que vazia. A NASA e a Boeing estão executando os ajuste finais para a manobra de reentrada na atmosfera, que deverá ser realizada no dia 6 de setembro de 2024, com o módulo pousando no porto espacial de White Sands, no estado do Novo México.

Isso, claro, se a Starliner resolver colaborar e se comportar direitinho de agora em diante, o que não aconteceu até agora.

Cápsula CST-100 Starliner durante manobra de acoplagem à ISS (Crédito: NASA TV/YouTube/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Cápsula CST-100 Starliner durante manobra de acoplagem à ISS (Crédito: NASA TV/YouTube/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Starliner volta vazia (espera-se)

Como o Meio Bitdesfiou o novelo sobre todos os perrengues envolvendo a Starliner, mais de uma vez, vamos direto ao ponto: no dia 24 de agosto de 2024, a NASA enfim admitiu, após dois meses se fazendo de cachorro do meme, que a Starliner era insegura demais para trazer os astronautas Butch Wilmore e Sunita Williams de volta.

Assim, ficou decidido que a Crew-9, que subiria em uma cápsula Dragon da SpaceX com quatro tripulantes, será lançada com apenas dois (o que gerou outro problema; mais sobre isso a seguir), mas o cronograma em si não será alterado, a missão será lançada no dia 24 de setembro, mas Wilmore e Williams, além de Nick Hague e o cosmonauta russo Aleksandr Gorbunov, só voltam à Terra na data original, em fevereiro de 2025.

Ao contrário dos teóricos da conspiração de sempre, os dois não estão "ilhados" na Estação Espacial Internacional (ISS), ninguém está passando necessidade, há espaço e suprimentos suficientes para a estadia prolongada, e 8 meses no Espaço não é nem de longe um recorde: Valeri Polyakov, cosmonauta russo que ficou mais tempo em uma missão contínua, permaneceu por 437 dias e 18 horas na Mir, entre 1994 e 1995; a medalha de mais tempo entre várias missões é do também russo Oleg Kononenko, 1.089 dias e contando, pois ele está a bordo da ISS no momento.

No mais, é seguro afirmar que Wilmore e Williams estão ADORANDO que sua missão de 8 dias foi estendida para 8 meses. Todo mundo quer ir para o Espaço, poucos são os selecionados, e qualquer período a mais é muito bem-vindo. Claro, quem não ficou bem na foto nesse caso, foi a Boeing.

Não é segredo que a companhia aeroespacial só pode culpar a si mesma, a mudança em sua cultura interna, onde o comando por engenheiros especializados passou para a mão de burocratas e contadores de feijões, que visam lucro acima de tudo, inclusive da segurança, levou aos desastres envolvendo os aviões da linha 737 Max, no que um processo feroz está correndo nos Estados Enidos, incluindo a empresa ter mentido e descumprido acordos com o Departamento de Justiça.

Voltando à Starliner, a Boeing admitiu tarde demais que a cápsula não possuia 100% das rotinas de voo autônomo, e que removeu a de desacoplagem remota, porque na sua conta, "não precisava". Foi necessário subir patches de atualização, para completar o software e habilitar a manobra, e se tudo correr bem, a cápsula será desacoplada da ISS às 19:04 do dia 6 de setembro, horário de Brasília, e pousará à 1:03 de 07/09.

ISS vista da Terra; note a cápsula Boeing CST-100 Starliner acoplada à estação (Crédito: Maxar Technologies/Getty Images)

ISS vista da Terra; note a cápsula Boeing CST-100 Starliner acoplada à estação (Crédito: Maxar Technologies/Getty Images)

A NASA e a Boeing aguardam agora confirmação de clima adequado para a manobra, a data para o início do procedimento não é final, e caso hajam previsões de tempo instável na região de White Sands, a missão será adiada. Isso, de novo, se a Starliner funcionar da maneira esperada, e não faça mais nenhuma gracinha, como gerar ruídos do Além.

NASA: quem cortar da Crew-9?

Se por um lado o problema da Starliner está "quase" resolvido, restava ajeitar o retorno de Wilmore e Williams na Crew Dragon, no que a NASA decidiu, para a surpresa de ninguém, que agendar um voo extra era desnecessário (e caro demais, mesmo com a SpaceX tendo recebido bem menos grana que a Boeing no Programa de Tripulações Comerciais), assim, a missão Crew-9 seria modificada.

Originalmente programada para subir à ISS com quatro tripulantes, foi decidido que a missão partirá com apenas dois, de modo a dar lugar aos astronautas da Starliner. A pergunta era, quem ficaria no chão?

Como o especialista de missão Alexandr Gorbunov está a caminho da estação como parte do programa de rotatividade da tripulação, em que um membro a bordo tem que ser russo, ele era o único com vaga garantida. A também especialista Stephanie Wilson, por sua vez, foi a primeira cortada.

A segunda astronauta afroamericana a ir ao Espaço, depois de Mae Jemison, Wilson participou de três missões a bordo do ônibus espacial Discovery, e faz parte da equipe de 18 astronautas selecionados para o programa Artemis, em que os EUA pretendem voltar à Lua.

Com uma cadeira vaga, restava decidir o segundo corte, entre o piloto Nick Hague, e a geobióloga Zena Cardman, que além de realizar seu primeiro voo, seria protagonista de um feito inédito: ela é a primeira selecionada como comandante de missão de um voo tripulado da NASA, com ZERO experiência de pilotagem.

Tripulação original da missão Crew-9. Da esq. para a dir.: cosmonauta russo Alexandr Gorbunov (especialista de missão), Nick Hague (piloto), Zena Cardman (comandante), e Stephanie Wilson (especialista de missão); Cardman e Wilson rodaram (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Tripulação original da missão Crew-9. Da esq. para a dir.: cosmonauta russo Alexandr Gorbunov (especialista de missão), Nick Hague (piloto), Zena Cardman (comandante), e Stephanie Wilson (especialista de missão); Cardman e Wilson rodaram (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Joseph "Joe" Acabá, ex-astronauta e diretor do Departamento de Astronautas da NASA, teria manifestado a intenção de manter Cardman como comandante, o que, segundo fontes internas, teria causado um mal-estar dentro do setor, por ela não ser piloto. Hague, além de já ter ido a ISS em 2019 em uma cápsula Soyuz, é um coronel da Força Espacial com histórico de missões no Iraque, e seria a escolha óbvia para comandar a Crew-9 em um cenário com apenas dois tripulantes, assim, ele foi promovido e Cardman foi cortada.

Acabá teria defendido Cardman como comandante, pelo fato de que a Crew Dragon é totalmente automatizada, e não há necessidade prática de pilotá-la, mas a NASA teria decidido, antes tarde do que nunca, que não vai correr mais nenhum risco desnecessário, e fazer de Hague o comandante da Crew-9 cria mais uma redundância.

De qualquer forma, Stephanie Wilson tem o dela mais do que garantido quando a Artemis entrar em ação; já Zena Cardman terá que esperar por outra oportunidade de ir à ISS no futuro, quando ela surgir.

Fonte: NASA, Ars Technica

Leia mais sobre: , , , .

relacionados


Comentários