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10 dos mais bizarros mitos tecnológicos

Mitos envolvendo ciência e tecnologia existem aos montes, e mesmo os mais absurdos continuam sendo perpetuados. Vamos conhecer alguns deles...

27/08/2024 às 12:12

Mitos fazem parte de nossa cultura tecnológica. Por mais racionais e objetivos que sejamos, todo mundo convive com algumas dessas histórias apócrifas que resistem a todo tipo de esclarecimento.

Quanto mais complexa nossa tecnologia se torna, mais o desconhecimento gera dúvidas, incertezas, temores, que com explicações simples (e falsas) se perpetuam como um vírus no imaginário popular. E não, isso não é coisa de país subdesenvolvido. Na moderníssima Pior Coréia existe um mito sobre ventiladores ligados em lugares fechados provocarem até morte.

É uma bobagem total, obviamente, mas é tão sério que ventiladores lá possuem timers, para desligarem depois que você dormir. E esse “perigo” é reconhecido oficialmente pelo Governos.

Mas muita hora nessa calma, antes de zoar nossos nobres amiguinhos de Seul, lembre-se que temos nossos próprios BOs. Veja nesta lista alguns dos vários mitos tecnológicos difundidos em nossa sociedade:

 

1 - Videogame estraga televisão

Hoje ouve-se menos isso, mas quando os videogames surgiram no Brasil, nos Anos 80 (Tecnicamente o Telejogo da Philco começou a ser vendido em 1977, mas só pegou mesmo bem mais tarde) a conexão era via antena, usando aquela famigerada caixinha que sempre tinha mau-contato e não funcionava na hora da novela.

Essa (Crédito: Reprodução Internet)

O fato de crianças mexerem na antena da TV já preocupava os pais, que desconfiavam daquela estranha novidade tecnológica que foram convencidos a comprar.

Obviamente ninguém com mais de 25 anos entendia aquela coisa de videogames, e os boatos se espalhavam. Fulano teve a TV queimada por causa do videogame, o amigo do primo GARANTIU que o videogame iria estragar a TV, e não deveria ser usado.

Eu tive um desses. Todo mundo só jogava o Tênis (Crédito: Raphael Toledo / Wikimedia Commons)

A gente brigava, implorava, pedia para ouvir um relato de fonte primária, mas não existia. Era sempre o amigo do amigo, o sujeito do trabalho que conhecia alguém que tinha perdido a TV...

Por anos fomos obrigados a ligar nossos videogames em TVs pequenas vagabunda preto-e-branco, que obviamente não eram afetadas ou estragadas pelo videogame.

Esse mito persiste, uma busca no YouTube revela vídeos de 2024 questionando se videogame estraga TV.

2 – Carregar celular pela metade vicia a bateria

Esse mito é até perdoável. Por décadas pilhas sempre foram descartáveis. Bateria só em carro. Poucos equipamentos tinham bateria recarregável, como telefones sem-fio. E um dos maiores problemas das baterias da época é que elas eram muito, muito sensíveis.

Não havia inteligência nenhuma controlando a recarga, então era muito fácil “viciar” a bateria. Se você carregasse com metade da carga, dava problema. Se deixasse carregando muito tempo, dava problema. Deixou descarregar totalmente? Problema.

A confusa diversidade de tipos de baterias, LiPo, NiMH, NcCd, Li-Ion, LiFePO4, LiMnO2 e muitos outros, cada uma com uma curva de carga e descarga diferente, contribuiu para a percepção (correta) de que baterias eram um inferno.

Também não é assim (Crédito: Flux)

Quando os celulares apareceram e começaram a usar matérias Li-Ion, eles traziam sofisticados circuitos de recarga, que protegiam as baterias de variações de corrente, carga mínima e uns 18 outros cenários danosos.

As próprias baterias possuem circuitos de proteção, e seu celular a carrega de forma inteligente e eficiente, mas o mito continua. Até hoje você acha gente que espera o celular descarregar totalmente (nota: ele NÃO descarregou totalmente, o 1% é pura mentira) ou não deixa o celular carregando durante a noite, para não “forçar” a bateria.

Esse mito é um dos mais difíceis de desmentir.

3 – Celular é perigoso em posto de gasolina

Esse mito virou inclusive Lei em vários municípios. Você sabe, seu humilde celular, se usado enquanto estiver abastecendo, vai gerar um enorme campo magnético quântico que produzirá uma faísca estática, provocando a ignição do combustível no tanque, em uma grande e cinematográfica explosão que matará todos em um raio de 1km.

O que não faz sentido: Celulares não geram faíscas ou fagulhas. O transceptor está sempre em uso, mesmo quando você não está “falando” (sim, celulares antigamente eram usados para falar). Quando transmite, um celular emite um sinal com potência entre 0.1W e 2W.

Dramatização (Crédito: Flux)

Uma estação de rádio AM transmite com potência entre 20kW e 50kW, sinais de TV ficam em torno de 8kW. O ar em volta de um posto de gasolina está REPLETO de radiação eletromagnética muito mais potente do que qualquer coisa que o celular consiga transmitir.

Mais ainda: Seu carro, que muitas vezes você abastece com o motor ligado, tem velas gerando faíscas, dezenas de km de fios e cabos, era ruído eletromagnético muito mais potente que seu celular.

Mas não, o mito é que o problema é o celular.

4 – Celular causa câncer

Esse mito é o clássico exemplo de medo do desconhecido. Algum desocupado resolveu não entender como celulares funcionam e decidiu que ficar com o aparelho encostado no rosto era perigoso. Rapidamente evoluiu para puro efeito cancerígeno.

As pessoas, com seu natural medo de tudo que não entendem, começaram a replicar o mito, e como sempre acontece, surgiram “estudos científicos” apontando uma correlação entre uso de celular e câncer.

Só que há um problema: Todo mundo escutava que os celulares emitiam “Radiação”  e associavam com filhos esquisitos e mutantes morlocks, mas a “Radiação” que o celular emite é radiação eletromagnética não-ionizante, que pode ser traduzido por “luz fraca”.

O perigo, o perigo... (Crédito: Flux)

Ninguém fala que a lâmpada de cabeceira dá câncer, mas ela emite radiação eletromagnética, como qualquer coisa que emita luz ou calor.

O ponto é que a radiação não-ionizante não tem energia para arrancar elétrons dos átomos de seu corpo, muito menos afetar partículas como prótons e nêutrons.

Nós vivemos mergulhados em radiação eletromagnética, sua TV, seu relógio, estações de rádio, o Sol, a Lua, radar de aeroporto, linhas de transmissão, tudo emite radiação eletromagnética, e nada disso nos afeta.

Estudos e meta-estudos foram feitos com centenas de milhares de acompanhamentos, e nenhum, absolutamente nenhum achou uma correlação real entre celular e câncer.

Até porque, se celular causasse câncer teríamos uma epidemia mundial, e nenhuma estatística de câncer na cabeça mostra qualquer aumento de casos.

Sim, isso é real (Crédito: Amazon)

Claro, isso não impede picaretas de venderem “bloqueadores de radiação para celular”, um adesivo idiota que obviamente não faz o MENOR sentido físico ou biológico, mas dá tranqüilidade pro leigo e dinheiro pro espertalhão.

5 – Bluetooth derruba aviões

Quando celulares começaram a se popularizar, a aviação, que é uma indústria bem conservadora, emitiu várias recomendações para que os aparelhos permanecessem desligados durante o vôo, sob risco de interferirem com os sistemas da aeronave.

Isso foi ampliado para todo tipo de equipamento eletrônico, mas o grande perigo eram os fones Bluetooth. Mesmo quando liberaram os celulares em modo avião, Bluetooth nem pensar. Havia algo misterioso no fato do fone ser sem-fio, talvez.

Tenho essa imagem desde 2003. Finalmente achei onde usar. YAY acumuladores! (Crédito: Reprodução Internet)

Na prática foi testado e demonstrado que -sem a menor surpresa- um fone de US$5 da Ali Express não afeta um avião de US$80 milhões. Mesmo assim as companhias continuaram a exigir que os equipamentos fossem desligados durante pouso e decolagem.

Um belo dia tudo mudou. As empresas descobriram que podiam ganhar dinheiro vendendo acesso de voz e dados a bordo, e subitamente passou a ser 100% kosher seu celular não só estar ligado, como transmitir e receber sinais de rádio normalmente.

6 – Microondas causam câncer

Esse mito me dá profunda raiva. “Eu não gosto de microondas”.  Então joga fora, infeliz. Joga da janela, sei lá. A pessoa fala que não gosta mas usa pra fazer pipoca, descongelar carne, ressuscitar hamsters, etc.

É uma mistura de medo e preguiça. A pessoa não sabe como o microondas funciona, e tem preguiça de abrir o celular e perguntar ao Google, aí cria toda uma narrativa de desconfiança, de que usa a contragosto.

Como o microondas funciona:

Um negócio chamado Magnetron emite um sinal de rádio na faixa de 2.45GHz, região chamada de microondas (daí o nome). Esse sinal é bem forte, entre 600W e 1200W. Ele afeta moléculas polarizadas, e quanto menor a molécula, melhor.

Em alimentos a molécula mais comum é H2O, que é uma molécula pequena. O sinal faz com que a molécula se mova acompanhando campo dielétrico gerado pelo sinal. Imagine uma molécula girando 2.45 bilhões de vezes por segundo. Esse movimento molecular gera calor. Esse calor se espalha pelo alimento, cozinhando-o.

Perigo mortal (Crédito: Flux)

Apesar dessa violência toda, a radiação eletromagnética é -adivinhe- não-ionizante. Não vai afetar as ligações entre os átomos, não vai te dar câncer.

Claro, se você colocar a mão na frente de um feixe de microondas, ela vai ser lentamente cozida. Não faça isso. Olha pela porta, tudo bem. Aquela grade traz furinhos que são menores que o comprimento de ondas a 2.45GHz, então as microondas que refletem nas paredes de metal do forno são fisicamente impossibilitadas de sair e te atingir.

 

7 – Pneus protegem carros durante tempestades

Você já ouviu esse mito, raio atinge carro, mas nada acontece com os passageiros por causa dos pneus de borracha. É um mito fofo, mas totalmente errado.

Ele parte do princípio que a borracha é isolante, e vai impedir a passagem do raio, mas pense bem: Quem apresenta maior resistência? Um bloco de material isolante, ou... nada?

Um raio atravessa vários quilômetros de ar até atingir o carro, guiado por pura diferença de potencial, ele salta entre minúsculas moléculas de ar. Um objeto sólido, mesmo isolante, será milhares de vezes mais fácil de atravessar.

O que protege o carro é, ironicamente, o metal.

A carroceria de um carro funciona como uma Gaiola de Faraday, se baseando na Lei da Física que determina que em um condutor, a carga elétrica permanecerá na superfície.

O Top Gear fez uma demonstração didática, atingindo um carro com 800KvA de pura energia, com Richard Hammond dentro:

8 – Ver TV de perto estraga a visão

Esse é um mito auto perpetuante, que quem defende tem certeza de ser verdadeiro, afinal “comprovou” pessoalmente.

A idéia do mito é que quando a criança senta perto demais da TV, isso forçará seus olhos, e ela eventualmente desenvolverá problemas de visão. De novo, curiosamente não há problema em ver tablets e celulares de perto, tem a ver com a “radiação” emitida pela TV. Você sabe, luz.

Não nego nem confirmo... (Crédito: Flux)

Em boa parte dos casos, após alguns anos sentando colada na TV, a criança vai pra a escola. Uma professora identifica que a criança tem problemas em enxergar o quadro-negro quando está sentada no fundo da sala, recomenda uma visita ao oftalmologista e o pimpolho acaba com um par de óculos.

Os pais chegam à conclusão lógica (e errada): Ele precisa de óculos porque assistia TV muito de perto.

Não, sua mula, ele assistia muito de perto porque tinha problema de visão.

9 – Espelhos atraem raios

Quando começava a trovejar minha vó corria para cobrir os espelhos da casa com lençóis, para evitar atrair raios. O que não faz o menor sentido, apesar dos espelhos terem uma superfície metálica.

Esse mito é tão mal-entendido que até o INPE fala besteira em sua página oficial. Dizem eles:

“A crença surgiu na época em que os espelhos tinham grandes molduras metálicas – elas, sim, um grande atrativo para os raios”

Isso é uma imensa bobagem. Um raio vai, sim, preferir um caminho melhor condutor de eletricidade, mas o fato de você ter um espelho no seu quarto não significa que atrairá um raio. Não há nenhum “campo condutor” emitido pelo objeto metálico.

Bzzzzz (Crédito: Flux)

O raio terá que cair na sua direção, até quase na altura da moldura do espelho, e só então seguirá o caminho da moldura, destruindo o espelho no processo. É preciso tanto azar pra isso acontecer que você provavelmente já terá quebrado o espelho antes.

De resto, chega a ser fofo a idéia de que um lençol impedirá o raio de atingir o espelho. Se não ver o próprio reflexo o raio não funciona?

10 – Soprar cartucho resolve mau-contato

Essa no Brasil vem pelo menos desde o tempo do Atari. O jogo dá erro? Você puxa o cartucho, sopra, coloca de volta e pronto, volta a funcionar.

Estatisticamente é uma certeza, como o conector USB que só encaixa depois que você gira o bicho duas vezes. Na prática é um mito que funciona com base no conceito de viés de confirmação, o efeito matemático que faz gente que sonhou com avião caindo ter certeza de que previu o desastre da semana.

Mais ou menos babado assim (Crédito: Flux)

O que acontece: O conector provavelmente estava sujo ou mal-encaixado. Ao remover o cartucho e colocar de novo, você limpou e reforçou a conexão. Só isso.

O que soprar o cartucho faz? Nada de bom, apenas enche seu cartucho de bactérias, baba e restos de comida, criando um ambiente propício para futura oxidação. Mas vai você dizer pro povo do Nintendo que não funciona...

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