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Boeing Starliner só volta à Terra quando a NASA liberar

NASA adia retorno da Starliner à Terra para julho, em data ainda não definida; cápsula da Boeing só pode ficar 45 dias acoplada à ISS

13 semanas atrás

A CST-100 Starliner está dando uma tremenda dor de cabeça para a NASA, e não foi por falta de aviso: após anos de atraso, a cápsula espacial da Boeing finalmente subiu e se acoplou à Estação Espacial Internacional (ISS), mas com problemas detectados antes, durante e depois, de vazamentos de Hélio a falhas nos propulsores de manobra.

Na última sexta-feira (21), a agência espacial norte-americana decidiu por "ajustar" a data de retorno da Starliner à Terra, que já havia sido adiada antes, para uma data ainda não especificada em julho, visto que a cápsula só pode permanecer 45 dias atracada.

Cáspula CST-100 Starliner da Boeing acoplada à Estação Espacial Internacional (Crédito: Divulgação/NASA)

Cáspula CST-100 Starliner da Boeing acoplada à Estação Espacial Internacional (Crédito: Divulgação/NASA)

Boeing Starliner só dá problema

Vamos recapitular: tanto a Boeing quanto a SpaceX são partes do Programa de Tripulações Comerciais (CCP) da NASA, voltado ao transporte de carga e astronautas rumo a destinos em órbita baixa (LEO), como a ISS. A Starliner e a Crew Dragon foram aprovados juntos, mas o projeto só se tornou real com a entrada da Boeing, já que ninguém no Congresso atura Elon Musk, e a Dragon jamais seria aprovada sozinha.

A Boeing, mesmo tendo recebido bem mais grana e responder por menos lançamentos, se enrolou por anos, com direito a uma cápsula perdida no primeiro teste, peças que se soltam no transporte, e rusgas com a Rocketdyne, pela responsabilidade nas falhas em válvulas de combustível, com uma apontando o dedo para a outra.

Enquanto isso, a SpaceX mandou a Dragon para o Espaço em 2020, e o resultado foi tão bom que convenceu a NASA a rever seus conceitos, permitindo a reutilização da cápsula e dos foguetes Falcon 9, no que o plano original era descartar tudo, mesmo com Musk e Gwynne Shotwell, presidente e COO da SpaceX, garantindo a confiabilidade. No fim, tiveram que ver para crer.

Voltando à Starliner, durante um teste de aproximação realizado em maio de 2022, alguns dos propulsores de manobra, usados para ajustar a aproximação da cápsula em relação à ISS, deram pau, o que a Boeing afirmou na época ter resolvido com um procedimento de correção durante a missão, e que o problema não deveria voltar a ocorrer.

Já o primeiro teste tripulado foi adiado várias vezes, devido um problema não relacionado com o foguete Atlas V, que a United Launch Alliance (ULA) sanou, e um vazamento persistente de Hélio, usado na despressurização da cápsula, que a Boeing não conseguiu resolver; no fim, a empresa e a NASA chegaram a uma decisão, a Starliner poderia subir mesmo vazando, o que foi considerado um percalço "gerenciável". Assim, o lançamento foi marcado para 5 de junho de 2024.

No dia 30 de maio, outro pepino: durante um teste de ignição, 5 dos 28 propulsores de manobra falharam de novo (lembra do reparo? Então...), o que foi "resolvido" com um reset, em que apenas um não voltou a funcionar. Ainda assim, o lançamento foi autorizado, afinal, o que poderia dar errado, não é mesmo?

Bom... tudo.

Foguete Atlas V e cápsula Starliner partem em direção à ISS (Crédito: AFP)

Foguete Atlas V e cápsula Starliner partem em direção à ISS (Crédito: AFP)

Durante a primeira tentativa de acoplagem, às 13:15 do dia 6 de junho, horário de Brasília, de novo 5 dos 28 propulsores de manobra deram pau, o que a essa altura do campeonato, todo mundo, exceto NASA e Boeing, sabiam que iria acontecer de novo. Isso fez com que a cápsula perdesse a primeira janela de oportunidade.

Após mais um reset, apenas um dos propulsores não voltou, o que é bizarro considerarmos a agência ter permitido o lançamento com um bug do tipo, se lembrarmos que um bichinho desses pode causar muitos problemas, e nem todo astronauta é um Jedi como Neil Armstrong foi. A Starliner se conectou à ISS às 14:34, com o astronauta Butch Wilmore tendo que recorrer ao controle manual, mas os problemas não pararam aí.

Lembra do vazamento "controlado" de Hélio? Pois bem: durante a ascensão, a NASA detectou mais dois pontos abertos em adição ao original, e após a acoplagem, mais dois. Com isso, a Starliner está perdendo gás de cinco "buracos" diferentes, o que a NASA inicialmente minimizou, dizendo que a cápsula tem "o suficiente para 70 horas de voo", e ela só precisa de 7 horas.

O que ninguém está assimilando bem, é a NASA, uma agência nazista com regulações e redundâncias, implicar até o último ponto da costura do traje para atividade extraveicular (EVA) da SpaceX, e dispensar seu plano de usar a Dragon para tentar salvar o telescópio espacial Hubble, e passar a mão na cabeça da Boeing, permitindo que uma cápsula cheia de problemas subisse, pondo em risco as vidas de seus tripulantes, e da equipe já estacionada na ISS.

Agora, sobrou para ambas as partes consertarem a presepada.

Após dois dias de deliberações entre a Boeing e a alta cúpula da NASA, contando inclusive com a presença do administrador associado Jim Free (não se sabe se o diretor Bill Nelson participou das discussões, mas provavelmente não, dada a presença do segundo em comando), foi decidido que o retorno da Starliner, que deveria ter sido realizado dia 18 de junho, mas foi adiado para o dia 26, será "ajustado" para uma data em julho, ainda a ser definida.

ISS vista da Terra; note a cápsula Boeing CST-100 Starliner acoplada à estação (Crédito: Maxar Technologies/Getty Images)

ISS vista da Terra; note a cápsula Boeing CST-100 Starliner acoplada à estação (Crédito: Maxar Technologies/Getty Images)

O plano, segundo a NASA, é postergar a missão o máximo possível, enquanto a agência e a companhia coletam e analisam o máximo de dados possível, na esperança de resolverem os problemas da Starliner; o que se sabe é que ela não deverá descer antes do feriado de 4 de julho, mas há um problema nesse plano, o prazo de permanência.

A Starliner foi autorizada a permanecer até 45 dias acoplada, e esse prazo se encerra em 17 de julho de 2024; em agosto (data final a ser definida), a SpaceX lançará a missão Crew-9, que levará mais 4 astronautas à ISS, e embora a estação suporte até 8 acoplagens simultâneas (4 do lado russo, e 4 do lado americano), a agência aparentemente não quer arriscar.

Por um lado, é melhor para ambas as partes que a Starliner permaneça na doca o máximo possível, para que mais dados possam ser coletados; por outro, embora a NASA diga que "não está com pressa", ela ainda terá que dar explicações, tanto por que permitiu que a cápsula da Boeing for permitida subir com tantos bugs, quanto por qual motivo ela ainda não está autorizada a voltar, se a agência afirma que tudo está sob controle.

Paralelo a isso, a SpaceX lançará em 12/07 a missão Polaris Dawn, em que astronautas deverão estrear o EVA que a NASA criticou, na primeira caminhada espacial com o equipamento desenvolvido pelos engenheiros aeroespaciais da companhia de Elon Musk.

Fonte: NASA, Ars Technica

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