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Melhor Coreia lança satélite espião e explode foguete

Satélite espião Malligyong-1 é lançado com sucesso pela Coreia do Norte; primeiro estágio do foguete Chŏllima-1 explodiu no ar

16 semanas atrás

Nesta terça-feira (21), a Coreia do Norte comemorou seu primeiro lançamento orbital bem-sucedido desde 2016, de um satélite de vigilância e reconhecimento, o Malligyong-1 (telescópio-1 em coreano), com a missão de espionar alvos estratégicos sul-coreanos e norte-americanos.

A nova empreitada do governo de Kim Jong-un foi entendida como uma afronta aos acordos do Conselho de Segurança da ONU, que o Grande Líder vira e mexe adora desafiar, mas o que chama a atenção é o foguete usado: adaptado do programa de ICBMs do país, seu primeiro estágio explodiu segundos após sair do chão, o que pode ter sido intencional.

Foguete Chŏllima-1 é lançado com satélite espião Malligyong-1, o primeiro da Coreia do Norte a entrar em operação (Crédito: Reprodução/Korean Central News Agency)

Foguete Chŏllima-1 é lançado com satélite espião Malligyong-1, o primeiro da Coreia do Norte a entrar em operação (Crédito: Reprodução/Korean Central News Agency)

O lançamento do Malligyong-1 não vem chamando tanta atenção em si, diferente do foguete utilizado para colocá-lo em órbita baixa (500 km). O Chŏllima-1 (nome tirado de uma criatura do folclore coreano, e faz referência à versão local do movimento Stakhanovista) é uma adaptação do Hwasong-17, a versão mais nova do programa local de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), apresentada em 2020.

Com alcance teórico de 15 mil km, o Hwasong-17 é virtualmente capaz de atingir alvos em quase qualquer canto do mundo, partindo de Pyongyang; curiosamente, a América do Sul é a única região povoada do planeta fora de seu alcance, mas isso pode não ser mais tão reconfortante, pois a mídia norte-coreana afirma que a distância máxima real supera a divulgada publicamente. Só não diz qual ela é.

A título de comparação, o mais recente ICBM russo RS-28 Sarmat, vulgo Satan II, que encabeça a lista dos mais "viajandões", tem um teto oficial de 18 mil km, e partindo de Kaliningrado, ninguém está fora de seu alcance, visto que ele pode chegar até o Polo Sul.

Assim como o RS-28, o Hwasong-17 é capaz de carregar mais de uma ogiva, o primeiro norte-coreano com tal capacidade, o que especialistas apontam como um indício de que o governo Putin está ajudando Kim Jong-un a modernizar seu arsenal, se não com suprimentos (improvável), pelo menos com know-how.

O primeiro estágio do mais recente ICBM da Melhor Coreia é a base do Chŏllima-1, foguete de três estágios voltado a colocar satélites espiões em órbita baixa (LEO). Os dois primeiros lançamentos, em maio e agosto de 2023, resultaram em fracassos, no que a marinha da Coreia do Sul recuperou restos do Mar Amarelo, a fim de identificar a possível presença de componentes russos (se encontraram ou não, o público não vai saber, já que nunca disseram).

O terceiro lançamento, realizado em 21 de novembro de 2023, foi o primeiro bem-sucedido e posteriormente confirmado pela inteligência militar dos EUA, com o satélite Malligyong-1 posicionado em órbita polar. O que chamou a atenção, no entanto, foi o fato do primeiro estágio explodir pouco tempo depois do lançamento.

A ocorrência foi capturada por uma câmera de visão noturna do Laboratório de Observação Astronômica da Universidade de Yonsei, na Coreia do Sul, desenvolvida para observar o céu e captar a ocorrência de meteoros. É possível ver o primeiro estágio explodindo, enquanto o restante do Chŏllima-1 segue seu curso.

A causa do "espetáculo" é disputada. A mídia estatal da Melhor Coreia classifica o lançamento como um sucesso, talvez referenciando o posicionamento adequado do Malligyong-1, ignorando a explosão do Chŏllima-1, que pode muito bem ter ocorrido devido a alguma falha. Porém, há quem acredite que o primeiro estágio foi detonado de forma intencional.

Shin Won-sik, ministro da Defesa da Coreia do Sul, aponta para os dois primeiros lançamentos falhos do Chŏllima-1, realizados antes do encontro entre Vladimir Putin e Kim Jong-un, o que seria um indício de que houve ajuda de Moscou a Pyongyang de alguma forma, que se refletiu na terceira tentativa ter dado certo.

Há a possibilidade de que a Melhor Coreia venha usando há algum tempo designs de motores soviéticos, mais especificamente do motor RD-250, que combina tetróxido de nitrogênio com hidrazina, desde o Hwasong-12, introduzido em 2017 e testado em 2022.

Trata-se de um design simples de implementar, que usa dois reagentes que entram em combustão instantânea ao serem misturados; quanto à explosão do primeiro estágio, o Dr. Marco Langbroek, arqueólogo e especialista neerlandês em engenharia aeroespacial, diz ser possível os norte-coreanos terem implementado uma sequência de autodestruição no foguete, para evitar que seus restos caíssem em mãos inimigas, como já aconteceu antes.

Kim Jong-un inspeciona satélite espião Malligyong-1, em foto divulgada pela agência de notícias estatal da Melhor Coreia, na época do primeiro lançamento falho do foguete Chŏllima-1 (Crédito: Divulgação/Korean Central News Agency)

Kim Jong-un inspeciona satélite espião Malligyong-1, em foto divulgada pela agência de notícias estatal da Melhor Coreia, na época do primeiro lançamento falho do foguete Chŏllima-1 (Crédito: Divulgação/Korean Central News Agency)

Informações sobre o satélite espião Malligyong-1 são mais difusas. Do tamanho de uma geladeira, ele seria capaz de fotografar bases e pontos estratégicos da Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos, e de seus aliados, em qualquer parte do globo, mas as imagens teriam uma resolução bem inferior às captadas por equipamentos de vigilância similares das nações rivais.

Por outro lado, a mídia estatal da Melhor Coreia afirma que o país tem agora a capacidade de lançar mais satélites de vigilância, e "em pouco tempo" entre uma missão e outra, dando a entender não só que os problemas com o foguete foram resolvidos, mas também que a família Malligyong estaria sendo produzida em série. De fato, as imagens oficiais do satélite datam da época do primeiro lançamento do Chŏllima-1 que, diferente dos fogos Caramuru, deu chabu.

Claro, o lançamento acendeu todos os alarmes na Coreia vizinha, que considera o ato uma violação dos acordos do Conselho de Segurança da ONU. Oficialmente, a Melhor Coreia é proibida de desenvolver ICBMs, não importa para qual finalidade, mas todos têm visto ao longo dos anos o quão bem essa resolução deu certo.

A Coreia do Sul anunciou que irá retomar ações de vigilância e reconhecimento das forças norte-coreanas na região da fronteira, um acordo estabelecido em 2018, em resposta ao que é considerado por Seul uma violação de acordos antigos. Vale lembrar que, na possibilidade do primeiro estágio ter funcionado conforme esperado, e sido detonado de forma intencional, este foi mais um teste que confirma a viabilidade da plataforma Hwasong-17 para atingir alvos em qualquer lugar do mundo.

No mais, fica o lembrete da maldição chinesa: "que você viva em tempos interessantes".

Fonte: Ars Technica

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