Ronaldo Gogoni 4 anos atrás
A Kodak pode ter finalmente se encontrado, após anos atirando para todos os lados: a companhia anunciou nesta terça-feira (28) sua entrada no mercado farmacêutico, graças a um investimento de US$ 765 milhões do governo dos Estados Unidos.
O novo ramo da matriz se chamará Kodak Pharmaceuticals, ficando responsável pela produção de componentes necessários para a fabricação de remédios, entre eles a hidroxicloroquina, mesmo ela sendo ineficaz contra a COVID-19.
A Eastman Kodak pagou um preço altíssimo por ter perdido o bonde da inovação na indústria fotográfica: a outrora gigante conseguiu a proeza de ser a responsável pela criação da câmera digital, mas não teve a capacidade de enxergar além e capitalizar em cima do invento. Como resultado, as concorrentes saíram muito na frente enquanto a Kodak passou anos insistindo nos filmes.
Isso não quer dizer que a Kodak não tenha sido inovadora em seu setor, são delas marcos como o filme de rolo, o Super-8 e a câmera Instamatic, mas como quem vive de passado é museu e a empresa não soube se atualizar, ela eventualmente entrou em processo de falência. Como forma de se recuperar ela tentou de tudo, de trazer o Super-8 de volta a investir em celulares, até mesmo lançar uma mineradora de bitcoins, posteriormente barrada pela SEC.
Como nada deu certo, a Kodak decidiu meio tarde que talvez o mercado fotográfico não tenha mais futuro, até porque ele está encolhendo graças à evolução dos celulares. Assim, a injeção volumosa de grana provida pelo DFC (Corporação de Desenvolvimento Financeiro dos Estados Unidos) será aplicada na produção de "ingredientes farmacêuticos usados na produção de medicamentos genéricos não-biológicos e não-antibacterianos".
Em entrevista ao The Wall Street Journal, o CEO Jim Continenza espera que a Kodak Pharmaceuticals eventualmente se torne o principal negócio da companhia, respondendo por entre 30% e 40% da receita total, mas a pergunta que as pessoas estão se fazendo é: que remédios exatamente a Kodak vai produzir?
Embora a declaração oficial posicione a nova missão da Kodak como uma empresa que vai sintetizar os componentes básicos e não os remédios propriamente ditos, a reportagem do The Wall Street Journal apurou que os US$ 765 milhões foram liberados como parte de uma investida dos EUA em combater a COVID-19.
Segundo a matéria, a Kodak produzirá componentes da hidroxicloroquina, medicamento originalmente usado no tratamento de lúpus e já comprovado como ineficaz contra o SARS-CoV-2 (cuidado, PDF), mas que o presidente Donald Trump insiste em promover; na pior das hipóteses é mais estoque a ser desovado no Brasil, já que Bolsonaro aceita qualquer coisa que os EUA mandar para cá.
De qualquer forma, o anúncio fez muito bem à Eastman Kodak: as ações da companhia tiveram uma alta considerável nesta terça-feira (28), chegando a uma valorização de 244% às 15:44, na Bolsa de Valores de Nova Iorque; são bons números considerando que a empresa fechou o primeiro trimestre fiscal de 2020 com receita de US$ 267 milhões e prejuízo líquido de US$ 111 milhões, segundo o portal Investing.
Com informações: DFC, The Wall Street Journal