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Tecnologias Sem Fio: simples erro clássico de implantação

16 anos atrás

Em mais um episódio da série "Tudo o que você não deveria fazer, mas acabou fazendo do mesmo jeito e agora está com um pepino nas mãos", narro aqui um caso de erro de implantação de uma tecnologia que utilizava transmissão por rádio e que encontra-se encalhada por falta de planejamento.

Hoje em dia já existe um cuidado muito maior com o uso de redes sem fio (e o termo aqui tem uma abrangência grande, como veremos adiante), com o exemplo mais simples sendo a predominância das redes WiFi já com alguma criptografia configurada. Claro, uma boa parte ainda usa WEP de 40 bits, o que em termos de segurança quer dizer aproximadamente "o rei está nu". Mas não se pode exigir muito da maioria da população, então simplesmente fiquemos felizes.

Infelizmente erros de configuração, uso e cálculos na implantação de redes sem fio, ou de equipamentos que utilizem tecnologias sem fio ainda é comum, e varia do vizinho de cima até grandes companhias. Já me desculpo de antemão, e aviso: não serão citados nomes, localidades ou marcas. Sinto muito, mas o importante é a lição, não os bois.

Uma empresa do ramo de tecnologia foi contratada para fornecer uma solução de massificação para uma concessionária. A solução, já consolidada em outros casos iria cobrir a área de uma ilha com pouco mais de 4.000 habitantes/visitantes. A solução em questão utilizaria uma tecnologia PLC para cobrir os desafios da comunicação da chamada "last mile", utilizando concentradores em locais específicos para fazer a comutação dos dados para uma tecnologia muito comum de comunicação sem fio: o General Packet Radio Service, ou GPRS, utilizando a rede de telefonia celular.

A contratada recebeu o pedido de compra e enviou os equipamentos. Tudo parecia indo bem, o sistema foi totalmente instalado, cobrindo a totalidade da ilha. Apenas um mês depois do startup foi percebido que havia pontos sem comunicação. Inúmeras sugestões foram dadas, mas o diagnóstico só foi definitivo quando a contratada enviou uma equipe para inspecionar as instalações. O resultado encontrado foi tragicômico:

celular_pwned_tng

Nesta obra prima da simulação do Google Earth temos os seguintes itens:

- Em azul, o mar (d'oh);
- Em cinza, a ilha;
- Em preto, a localização aproximada da única torre de celular num raio de 150 km;
- Em verde, um monte genérico de várias toneladas de material bloqueador de sinais de rádio;
- Em vermelho transparente, a cobertura de celular da ilha.

Estou bastante convencido de que detalhes adicionais são desnecessários. É isso: Epic Fail.

Não vou apontar culpados. Mas como isso pôde acontecer?

O fato é que, um ano antes, um outro projeto da mesma tecnologia foi implantado em uma outra ilha. Poderia ser mais similar? Sim, essa ilha também tinha um monte numa configuração extremamente semelhante e apenas uma única Estação Rádio-Base (ERB). Foi cometido o mesmo erro? Não. Nesse caso em especial a concessionária também solicitou como parte do fornecimento o destacamento de uma equipe de campo, formada por um funcionário de cada empresa que foram ao local e fizeram análises de todas as variáveis possíveis no decorrer de duas semanas. O monte não passou despercebido...

Então, finalmente, como isso pôde acontecer? Simples. A causa do erro foi suposição. Suposição de que, já que a cobertura da rede celular atinge mais de 95% do território nacional, as chances de cair nos 5% era inexistente. Mas um grande projeto desse tipo e vários outros de tamanhos até maiores falham por falta de planejamento que, num olhar mais apurado, é uma subcategoria do vício da suposição.

Então, caros leitores, fica a dica: Murphy é implacável e quando for implementar qualquer coisa, desde a rede WiFi do seu apartamento até uma implantação em nível internacional, certifique-se de checar as variáveis envolvidas. O tempo que você "gastar" antes de pôr mãos à obra pode salvá-lo de situações difíceis, gastos desnecessários e, o que eu considero o mais importante, uma mancha de otário em seu nome entre os profissionais da área.

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