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Sinclair C5 — o carro elétrico que misteriosamente não deu certo

Muito antes do Tesla um carro elétrico ameaçou dominar o mundo, começando pela Inglaterra. Como você nunca ouviu falar do Sinclair C5, dá pra adivinhar que não exatamente dominou…

8 anos atrás

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Sir Clive Sinclair é um de meus heróis pessoais. Mais que Bill Gates ou Woz ele foi o responsável por minha introdução (epa!) no mundo da Informática. Seus microcomputadores extremamente baratos, como o ZX-81 e o ZX Spectrum, pirateados aqui como CP-200, TK83, 85 ou 90X abriram as portas de toda uma geração que não tinha grana para um Apple ][, mesmo a versão igualmente pirateada.

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Ele é um gênio, inventor, empresário e excêntrico mesmo pros padrões ingleses, demonstrando com total certeza esse lado quando achou que o Mini Cooper original ou o Reliant Robin eram grandes demais e os súditos de Sua Majestade adorariam um carro menor ainda. Aliás, carro não: o C5 não é um carro, é um veículo.

E que veículo…

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Se te parece um velocípede com um guidom que para pilotar você tem que ficar na posição em que Napoleão perdeu a guerra, se serve de consolo ao menos essa última parte não é assim. Sua integridade retrofuricular está protegida, ao contrário de sua dignidade. O C5 é pilotado apenas da forma menos ergonômica do Universo:

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Os números também não são estelares. Seu motor elétrico tinha potência equivalente a 0,34 bhp; sua autonomia era de 32 km e a velocidade máxima 25 km/h. Se você reparou na imagem viu que ele tem… pedais. São para ajudar na propulsão. Sem pedais ele só aguentava subir uma ladeira de 8% de inclinação. Com pedais, 14%. Isso se o incrível porta-malas de 28 litros não estivesse levando suas compras do mês.

Como você pode reparar ele não tem capota, o que não é problema em uma terra notória por seus longos verões e quase total ausência de chuva, como a Inglaterra.

Custando o equivalente hoje a R$ 5.523,09 o C5 eram bem barato; £ 399 era uma pechincha: havia poucas formas mais em conta de se suicidar atropelado por um caminhão (ou um Fusca) do que comprando um C5.

Misteriosamente o velocípede de Sir Clive não fez exatamente sucesso. A idéia de um “carro” que perde feio mesmo quando comparado com um daqueles delírios de designers ecochatos não atraiu o público.

Taxado de uma das maiores bombas de marketing da indústria britânica do pós-guerra, o C5 foi avaliado unanimemente como tudo de ruim por todas as revistas automobilísticas. O British Safety Council emitiu um relatório tão alarmante que Sir Clive processou por difamação, mas James Tye, autor do relatório manteve sua posição, dizendo-se apavorado com a idéia de que crianças de 14 anos estariam dirigindo aquela abominação em estradas, sem habilitação, proteção ou treinamento.

Incrivelmente 14.000 foram construídos, e boa parte vendidos, apesar das péssimas resenhas. Só que o grupo de fãs inveterados de Sir Clive não era muito maior que isso e a Sinclair começou a fazer água. Logo ficou claro que o fôlego do C5 havia acabado.

Hoje o C5 existe apenas entre fãs, que chegam a pagar 5 mil libras por um 0 km na caixa (sim, ele vinha em caixas) e modificam de todo jeito. Tem até um com motor a jato, quase tão emocionante quanto um Formula E:


RocketryInSchools — Rocket Powered Sinclair C5

Existem idéias que fracassam por chegarem fora de seu tempo, mas no caso do C5 isso não acontece. Em nenhum momento da História da Humanidade houve ou haverá época onde essa abominação seja uma boa idéia.

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