Ricardo Bicalho 16 anos atrás
Depois de 30 dias de espera, consegui finalmente retirar meu passaporte. Justamente no dia em que a Polícia Federal entra novamente em greve, congelando a entrada de documentos. No website, eles dizem 6 dias úteis, mas isso é apenas uma piada de mau gosto.
Dica: leve uma cadeira de praia, água, café, biscoitos e sanduíches. Leve revistas e uma lanterna, para ler à noite ou um mp3 player. No Rio, você irá dormir do lado de fora, na rua, então, leve guarda-chuva e um agasalho.
A emissão de um documento como esse mostra claramente a face do Brasil. Ao mesmo tempo que estamos investindo em programas como o One Laptop Per Child (OLAP), declaramos imposto de renda via internet e temos um dos sistemas bancários mais informatizados do mundo, ainda demora maisd e 1 mês para conseguir uma mísera carteira de identidade e o mesmo para um passaporte.
O interessante é que, por causa da informatização dos bancos, pagar ao governo é super rápido e fácil. Ter o retorno na qualidade dos serviços é outra estória. Os R$ 90,00 pagos de taxa administrativa lhe dão o direito de pedir o documento, mas não qualidade e muito menos velocidade.
O prédio da Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, chama a atenção por ser um retrato de 40 anos atrás: armários arquivo, cadeiras desconfortáveis, sujo, no máximo 180 atendimentos por dia, filas desde a madrugada e atendimento lento, muito lento. Se você chega tarde, umas 5 da manhã, conseguirá ser atendido 2 da tarde ou nem mesmo isso.
E não há computadores, em lugar algum. A informatização passa longe, em uma galáxia distante. O protocolo é uma folha impressa cortada com a mão e escrito o seu nome/sobrenome e uma data do mês seguinte.
Estou dizendo, como cidadão, que isso é um absurdo, uma vergonha. É incompetência somada a falta de investimento. E a culpa não é dos policiais federais. Fiquei desanimado ao constatar que as condições de trabalho não mudaram nada desde o meu último passaporte, 10 anos atrás: carimbos, armários-arquivo verdes, em salas caindo aos pedaços, com cadeiras decrépitas, sem material de escritório. Pergunto: isso é o retrato de um país globalizado.
E aos cínicos, não é viagem para Disney que estou falando, mas consultoria, exportação de serviços e software. Ou será que somos bons demais para os dólares e euros que entram no país? Estimular negócios e exportação não é apenas financiamento no BNDES, mas essa miopia de governo após governo é simplesmente incompreensível. Eles dizem que querem um Brasil moderno, exportador, globalizado e conectado. Aí descemos das nuvens e encontramos serviços de qualidade péssima, uma verdadeira merda mesmo.
Sim, só um palavrão para expressar tanta frustração. E quem sabe, em 5 anos, as coisas não tenham mudado?