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iMessage na mira das operadoras. Apple não surpreende, mas faz direito

O iMessage é um tiro contra as operadoras e seu SMS. Como o mercado reagirá a essa novidade da Apple?

13 anos atrás

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O iPhone 5 está logo aí. O iPad 2 acabou de chegar. E quanto ao iOS 5, durante a WWDC a Apple fez o combinado. Falou sobre os produtos que informou que iria falar e apresentou as novidades, que não foram muitas mas foram... boas. Campo de distorção modesto e tímido? Hmmm.. O que isso pode significar?

O novo layout bipartido do teclado para o iPad e a integração dos devices com o iCloud vieram sem todo aquele escândalo midiático, quase religioso e tão comum para a época, mas de todo provocaram uma ótima impressão.

Beta testers passaram a inundar a rede com screenshots e comentários e tudo caminha para que o mercado vá se acostumando com o novo release. Essa fórmula sempre funcionou muito bem para a Apple.

E nessa atmosfera fluída de preparar o mercado para o que vem por aí, o iMessage acabou ganhando o olhar surpreso das operadoras de telefonia celular. A idéia fundamental do messenger é o movimento mais óbvio para uma empresa a vender milhões de aparelhos em todo o mundo: um comunicador gratuito entre eles. A RIM fez isso com o BlackBerry, agora é a vez dos iOS.

A principal diferença é que a RIM sempre teve um modelo independente de contratação de serviços via uma tecnologia própria que, associada indiretamente às operadoras que atuavam apenas como repetidoras dessa oferta, em um acordo claro de cross-selling, tudo sempre funcionou muito bem e todo mundo fica feliz.

Não foi o que ouviu John Gruber do Daring Fireball em relação ao iMessage. Diz ele ter sido informado por uma fonte fidedigna que as operadoras de telefonia ficaram sabendo do iMessage no mesmo momento em que eu e você, ou seja, durante WWDC. E não gostaram nada do que viram, como se pode imaginar.

A apresentação do iMessage, segundo sua fonte, chegou a ativar o alerta dos maiores provedores de serviço de SMS nos EUA e não foi nada bem-vinda por eles.

Parte do lucrativo acordo de cross-branding nos serviços com que se afiliam à Apple é proveniente de pacotes de mensagens curtas, algo que com o iMessage praticamente desaparece e em uma escala difícil de ignorar.

O simples iMessage, diferente da cena com a relação RIM/operadoras, acabará capando não apenas o SMS, mas também canibalizando até mesmo outros aplicativos da App Store, que já pensam no que fazer após o iOS 5 e cuja base principal é a venda de créditos para o texto.

Com a abordagem "integradora" da Apple na última WWDC, o velho dilema mercantil no mobile ressurge ainda mais forte, onde as operadoras se voltam para os indicadores para poderem decidir para onde devem flutuar com suas ofertas: ora nos super lançamentos e inovações que dessa vez não vieram, ora focadas em produtos agregados, ora em gadgets e seus OSs, ora em tudo junto.

Ralph de la Vega, da AT&T disse na semana passada que o consumidor "tem escolhido outros produtos e pacotes, ao invés dos tradicionais BlackBerry".

Essa escolha parece ter sido a principal mola propulsora para o sucesso da expansão de aparelhos Android pelo mundo, via fabricantes de celulares que foram espertos o bastante para perceber a tempo que essa era a única maneira real para competir contra um OS superior como é o caso do iOS.

Enquanto a Apple trabalha dessa vez em uma real integração de sua plataforma, algo tão solicitado por seus usuários de longa data, o mercado também deve começar a se preparar para se orientar nessa direção.

No exato momento em que os gadgets de outros OSs começam a sofrer mutações como os web-tops e os dock-tablets que tentam mostrar a cara, Steve Jobs lidera um momento de manter a linha bem sucedida de produtos sem praticamente nenhuma inovação, exceto por dentro, costurando-as num grande bloco funcional e indo contra a expectiva de injetar "a nova grande idéia".

Parece até estranho falar isso da Apple e WWDC, mas eu ouvi um discurso modesto, mesmo diante da quantidade substancial de mudanças, APIs e novidades, mas jamais inovações. Talvez, esse possa ser o pavimento para um outro bom-iTreco que só deve vir, obviamente, a passos largos de médio e longo-prazo.

Eu sempre tenho lá minhas suspeitas, como todo mundo, e conhecendo a predileção da Apple por se enveredar junto à mão-de-obra quase sempre discreta dos chineses, não me surpreenderia se a Apple investisse em hardwares inventivos de integração daqui uns dois anos.

Isso me lembra a época em que a Apple começou a vender seus próprios roteadores, HDs externos e esses iMedias como o Apple TV. Pode ser aquele instinto megalomaníaco de querer fazer tudo, ou apenas oferecer algo melhor e mais controlado, às custas de muita grana, claro. Me parece que essa retomada pelo conhecido home-hardware com selinho da Apple seja caminho mais óbvio após essa onde de "integração e nuvem" se consolidar.

Mas de volta à relação e acordos com as operadoras que distribuem iPhone e iPad, a Apple já se acotovelou muitas vezes com todos eles. Ano passado, as operadoras europeias ameaçaram cortar subsídios para o iPhone após terem descoberto que a empresa estaria desenvolvendo um SIM card que permitiria aos seus usuários comprar serviços externos via wireless diretamente do aparelho.

O máximo que se comprovou nessa direção foi o serviço Newsstand, onde se é possível adquirir pacotes de revistas e jornais diretamente do iPhone. Com os mais de 1.500 novos APIS, novas 200 funções no iOS e a independência declarada de toda a linha, que não precisa mais de um PC/Mac para se habilitar, sicronizar e consumir, a Apple pode estar dando início a uma longa jornada em direção a um modelo ainda mais autônomo e menos interdependente. Alguns chamariam isso de complexo de semi-deus, outros apenas de negócio.

O que mostra claramente que para a Apple, no caso do iMessage e do tom comedido e conciliador da última WWDC, que parcerias podem minguar a qualquer momento... e sem aviso prévio.

É óbvio, a integração, a inclinação por criar seus próprios iHardwares e a monopolismo autoritarista nas participações (que tem funcionado) AINDA não apagam o fato de que ambos iPhone e iPad são "tele-fones" e sua relação com as operadoras não pode ser rompida assim do nada. Mas que a Apple não se incomoda em sair e voltar dela, até na surdina se necessário, isso ela não se incomoda mesmo.

E a cada movimento, a Apple deixa claro que seu negócio é mesmo o Show Business, não o Show Friends.

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