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Você anda na linha?

E se toda a ideia dos tênis que utilizamos estiver errada? E se houver uma maneira mais natural de saudável de caminhar, correr e praticar exercícios?

13 anos atrás

Há um crescente movimento de saúde que se originou primeiro nos EUA e se espalha rápido pelo mundo e envolve os seus pés e um novo paradigma.

Embora tenhamos pelo menos 40 anos de uma sofisticada engenharia para a fabricação daquilo que vestimos e calçamos, segundo Christopher McDougall ela ainda não é totalmente capaz de vencer quase dez mil anos de uma lógica simples para uma pergunta complexa.

Há alguns anos ele decidiu responder duas perguntas. A primeira era "como eu faço para conhecer essa tribo famosa por indivíduos capazes de percorrer maiores distâncias que qualquer outro ser humano... a pé?" e uma outra, um pouco mais pessoal "por que os meus pés doem tanto?"

O resultado dessa busca acabou em um volume que até beira a narrativa de um romance. "Born to Run" ("Nascidos para Correr: Uma tribo oculta, super atletas e a maior corrida que o mundo já viu") é, à primeira vista, um título bastante provocante. O novo best-seller dá forma a um desafio pessoal de McDougall muito interessante e provoca um embate de resistência que envolve conceitos, saúde e uma indústria acostumada a fazer fortunas com algo que, segundo ele, nem faz bem: tênis caros e um jeito de andar que não é totalmente "humano".

Mas a história foi bem além disso e acabou não só perturbando a desova das prateleiras de lojas de desporto pelo mundo, mas também colocou em xeque os engenherios e designers das maiores marcas de tênis do planeta.

Mas, de quem McDougall fala em seu livro?

Além de si próprio e alguns personagens e histórias bastante interessantes, McDougall fala em particular dos índios Taharumara, uma isolada e reclusa tribo de índios mexicanos que moram na região de Copper Canyons, no estado mexicano de Chihuahua, fazendo vizinhança com o Arizona norte-americano.

Por milhares de anos, os Taharumara têm sido capazes de percorrer distâncias absurdas e correr muito rápido atrás de uma caça ou de um maratonista olímpico, não ficam doentes, não se cansam como qualquer outro e... não tem dores nos pés nem nas pernas.

Com as vendas despencando mundo afora, a oportunidade e o momentum acabam determinando quem se sai bem quando toda uma tormenta desaba sobre uma indústria já obesa de tanto lucrar com a venda de mais e mais modelos de calçados esportivos.

Com uma passada sincronizada, os idealizadores dos Vibram FiveFingers estão funcionando como o epicentro dessa nova febre. Diga-se de passagem, uma boa febre. Comercialmente, eles vendem um produto barato (no custo e na venda) e colaboram para que um intenso debate se forme ao redor dos conceitos antigos. A Vibram é uma empresa com mais de 75 anos de experiência no desenvolvimento de solados para calçados e que já comentamos brevemente por aqui.

A história dos índios reclusos, laboratórios de testes em Harvard e super atletas ganhou o mundo rapidamente e cada vez mais pessoas atingem limites jamais antes alcançados, fazendo uso apenas de um conhecido milagre da biomecânica humana: seus pés.

Quem pratica corrida sabe o quão incômodas podem ser as dores causadas por uma prática mal orientada. Até bem recentemente, sempre achamos que a falta do equipamento correto, em especial tênis adequados, eram os maiores responsáveis por elas. O que temos descoberto é que muito provavelmente o eles mesmos é que podem ser o principal vilão.

De uma maneira bastante breve, o foco da polêmica reside no fato de que estamos acostumados a andar, trotar e correr de um jeito "modificado" em relação à biodinâmica natural dos músculos, nervos, ossos e tendões espalhados por nosso corpo.

Especialmente em nossos pés, tem-se descoberto que nossa complexa combinação de 26 ossos, 33 articulações e 20 músculos em cada pé não é, nem de longe, usada totalmente. Algo próximo da metade dos nossos pés não é utilizada naturalmente durante o movimento, provocando uma série de impactos em cadeia que podem até ser a causa para aquela sua corcundinha charmosa, seu pânceps avantajado, e por aí vai...

O fato é que dentro de um sapato ou tênis comum, os dedos dos pés são alojados juntos em uma espécie de cápsula (bico), enquanto que o controle da pronação e do impacto ficam por conta de modelos e mais modelos de solas, amarrações, costuras e saltos, cujo principal discurso se apóia na "absorção e distribuição" do impacto. Faz sentido, porém, apenas se você andar como manda o tênis: de um jeito não natural.

Talvez pela primeira vez se notou que o arco dos pés não é utilizado para aquilo que foi desenhado: absorver o impacto do corpo durante o movimento. Da mesma maneira, a educação implícita que recebemos sobre caminharmos de maneira que nosso calcanhar seja a primeira coisa a tocar o chão para assim distribuirmos a energia provocada pelo impacto parace estar incorreta. Polêmicas à parte, ao menos todos concordam agora que essa não é a maneira mais eficiente para livrar você de dores e outras encrencas.

O assunto é tão vasto que implica até outras regiões do corpo, aumento de peso, distribuição cinética de energia e até mesmo hormônios, dentre outras coisas.

Há alguns meses tenho perseguido essa questão e avaliado qual é o impacto de se dar um passo na outra direção. Para não ser muito partidário do que certamente caminha para ser mais um inferno do tipo pulseirinhas do sexo também por aqui, vou procurar apenas relatar brevemente a minha experiência pessoal e você decide por conta o que deve fazer com isso.

Hoje, chegaram os meus dois novos pares de Vibram FiveFingers que eu comprei recentemente. No meu caso, escolhi dois modelos: o KSO (KeepStuff Out) e o Treksport. Ambos são para corrida e pilates (meu caso), porém o Treksport tem uma sola um pouco mais reforçada. É um carnaval de cores que está disponível nos modelos à venda no site. Mesmo pegando dois modelos diferentes, para propósitos diferentes, escolhi novamente os dois bem neutros, em preto.

Em resumo, os Vibram obrigam todo o corpo a assumir uma postura mais ereta, exigem mais das panturrilhas e toda a musculatura da parte frontal do pé, todos os dedos e metacarpos, da perna e glúteos, devolvendo a atividade a músculos e tendões praticamente não utilizados por conta de proteções e desvios biomecânicos existentes no tênis que você já conhece.

É óbvio que se você procurar caminhar ou correr com os Vibrams do mesmo jeito que o faz com tênis comuns, você vai ganhar um monte de lesões. O curioso é que logo após calçar um, isso é praticamente impossível. Naturalmente, você entende que o primeiro toque do pé com o chão jamais virá novamente pelo calcanhar e a coisa toda toma uma fluidez que, sem exageros, chega a surpreender.

É exatamente como andar e correr descalço, porém com uma proteção adicional na sola dos pés. Se você é candidato à transição, o que eu posso dizer é que é MESMO uma grande mudança. E positiva. Entretanto, o início pode ser um pouco desconfortável e a adaptação varia de pessoa para pessoa, de comportamentos e do tempo de cada um.

Isso porque ao caminhar de outra maneira, deixando a absorção do impacto à cargo do arco dos pés e usando um equipamento totalmente diferente daquele que estamos acostumados, tendões e músculos que você praticamente não usava são novamente ativados. Até mesmo as dezenas de médicos e fisiologistas do exercício que testemunham a favor dos Vibrams e da nova onda de Barefeet Lifestyle recomendam que você meça bem o seu passo e vá devagar.

Infelizmente, para comprar um par de Vibrams você tem que aceitar ser refém de um certo reduto daslúdico playbozóicos dos shoppings e escolher entre apenas dois modelos masculinos e dois femininos, por não menos do que R$ 310. Eu inclusive mandei um email para a tal empresa que obteve a licença de importação para o Brasil e descabelei contra os valores abusivos e uma margem de lucro que é quase um assalto à mão armada. Veja você que um Vibram sai em média U$ 70 a U$ 100 — o mais caro.

Disse inclusive que boicotaria mesmo, na cara de pau. Portanto, quem quiser comprar um fale comigo depois por email que eu dou um contato de um de meus fornecedores nos EUA e você não vai gastar mais do que R$ 200 e uns quebrados, isso já dando um bom lucro pro cabra. Ou então, importune aquele seu amigo por lá.

Segue abaixo algumas fotos dos dois filhotes mais novos. Recomendo os Vibram. Recomendo o Livro. Recomendo a ideia, desde que seu bom-sensômetro não esteja sem pilhas. Mais para frente vou escrevendo a respeito. E fico às ordens para qualquer dúvida.

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