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Sobre a IBM, o Governo e o resto de nós

13 anos e meio atrás

O bom de se escrever sobre o mercado de informática, é que as verdades absolutas de alguns anos atrás se tornam as irrelevâncias desconhecidas de hoje. Por exemplo, a frase “Eu adoro a IBM!”, dita há 20 anos, causaria uma avalanche de cartas para a redação. Hoje? No máximo um ou dois emails (ou comentários aí embaixo) ao estilo “IBM? Que nada! Eu adoro é a nVidia!”.

Pois é. Mas apesar da (antiga) fama de “burocrática” e “lenta”, cá para nós, o pessoal de Armonk é muito competente no que faz. Tanto que o governo americano (ou estadunidense, para quem preferir), através da boa e velha DARPA, selecionou apenas duas empresas para a etapa final de um projeto que pretende desenvolver um supercomputador capaz de processar vários PetaFLOPS, por vários segundos (nada de “performance de pico”). Apenas como um detalhe, a segunda empresa escolhida foi a não menos famosa “Cray”.

E como os engenheiros de ternos azuis gastariam os quase US$ 250 milhões do bom contribuinte americano? Utilizando “módulos” de processamento, interligados por canais ópticos de de 1 Tb/s. Cada módulo possui quatro processadores Power7 (com 8 núcleos cada, 4 “threads” por núcleo, 32MB de cache L3). Ao final do projeto, o supercomputador resultante deve ter “apenas” 64 mil processadores.

Em tempo: sou só eu ou vocês também acham que o Jobs adoraria ter um desses em cada Mac?

O processador em si tem várias “features” interessantíssimas, como a possibilidade de se desabilitar metade dos núcleos e repartir a cache entre os que ficaram funcionando, otimizando a performance para transações de banco de dados, por exemplo.

Um dos pré-requisitos do governo é que o supercomputador resultante (vocês não acharam que uma “doação” de US$ 250 mi viria sem algumas restrições, não é?) seja economicamente viável e disponível para a indústria, não apenas para a DARPA.

Aqui na Terrinha, isso também acontece (em menor escala, obviamente). Anualmente, a FINEP e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos estados despejam milhares de Reais na indústria (não só de TI), alavancando pontos importantes da nossa pesquisa. Infelizmente, ainda há muitos políticos e advogados (sempre eles) que acham absurdo o governo injetar dinheiro na iniciativa privada sem pedir um tostão de volta. Mas se há algo que possamos aprender com o restante do mundo (americanos em especial) é que esse dinheiro não é, nem de longe, perdido. Incrementa a pesquisa e o desenvolvimento e gera dezenas de sub-produtos que benecifiam, sim, as empresas, mas muito mais o País, que lucra com impostos. E isso sem contar a especialização da mão-de-obra.

Em 2002 o governo americano iniciou o projeto para ter um supercomputador capaz de fazer cálculos em “multi PetaFLOPs”. Por sorte (ou melhor, planejamento), isso deve poupá-los do vexame de perder a primeira posição na lista dos 500 mais rápidos supercomputadores do mundo, já que a China vem a galope (já está com o segundo lugar).

Nós já aparecemos juntamente com a África do Sul, com apenas um sistema. Isso é um termômetro da nossa pesquisa (afinal, sem poder de processamento, como fazer pesquisa de ponta?). Estaremos fadados a vender soja e petróleo ao mundo e ainda achar que essa é a nossa única “vocação natural”?

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