Carlos Cardoso 5 anos e meio atrás
No meu excelente livro Calcinhas no Espaço, eu conto a história do desenvolvimento dos trajes espaciais da NASA para o Projeto Apollo, que ficou empacado muito tempo até a entrada de uma empresa de lingerie, com zero experiência em espaço mas boas idéias.
A questão não é trivial. Embora na ISS dê pra ficar só de shortinho de lycra e camiseta justinha, se você não for a Sandra Bullock não é recomendado, e mesmo as roupas casuais mais comportadas que os astronautas usam são só parte do guarda-roupa.
Um astronauta hoje em dia usa três tipos de roupas: o primeiro são as bermudas e camisetas do dia-a-dia na Estação Espacial.
O segundo é o traje de vôo, usado durante as viagens entre a Terra e a ISS. Sua principal função é garantir o suprimento de oxigênio em caso de algo dar errado no vôo, e proteger o astronauta de fogo e outros perigos. Ele só tem suprimentos para suporte de vida por 10 minutos.
Aqui na foto os trajes americano, russo, da Boeing e o da SpaceX:
Esse traje não ajuda se o astronauta for exposto ao vácuo. Aí o bicho pega. Se você quiser trabalhar por longas horas precisa de um traje que é uma mini-nave espacial, com sistemas de suporte de vida, controle de temperatura, comunicações, eletrólitos e até banheiro. Ok, esse último é mentira, você mija no fraldão mesmo. Ainda acha astronauta uma profissão glamourosa?
O Extravehicular Mobility Unit (EMU) tem capacidade de manter um astronauta vivo por 8 h, com mais 30 minutos na reserva de emergência. Pesa 50 kg e é usado nas atividades no exterior da Estação Espacial. Foi projetado nos anos 70, entregue no começo dos anos 80 e usado nas missões do Ônibus Espacial.
Foram encomendados 18 trajes, mas entre os usados em testes e os perdidos nos desastres da Challenger e da Columbia, hoje só existem 11. Isso mesmo, 11. Quantos trajes os russos têm não se sabe, mas não deve ser muito diferente.
O terceiro traje é mais complicado ainda:
Ele precisa ter todas as características do traje para atividades extraveiculares, mas ser leve e flexível o suficiente para permitir que o astronauta se movimente, tem que lidar com regimes de variação de temperatura completamente diferentes e ser resistente a todo tipo de contaminação. A poeira lunar tende a ser bem abrasiva e danificou bastante os trajes do Projeto Apollo.
Agora a realidade: depois de US$ 200 milhões investidos a NASA não tem nada exceto conceitos, como o Z2:
E pior, o Z2 tem vários problemas de design que não o tornam um bom candidato pra andar na Lua.
Os projetos para voltar de vez para lá estão sendo encaminhados, a China que construir um posto avançado em órbita lunar, a Rússia pensa em utilizar módulos da Estação Espacial Internacional que ainda não estão prontos para a mesma finalidade.
O relógio está correndo, na improvável possibilidade de todo o resto não atrasar, podemos acabar com um ou mais estações espaciais em órbita da Lua, naves capazes de pousar e decolar da superfície, e astronautas vendo tudo da janela pois assim como aquele casamento daquele amigo bacana, não terão roupa pra vestir pro evento.