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Startups inventaram a Inteligência Artificial Fake

Uma praga está se espalhando pela internet: é a ameaça dos robôs falsos, empresas que contratam pessoas para fingir que são bots e interagir com pessoas que acham que estão falando com bots tentando parecer pessoas.

6 anos atrás

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Muitos anos atrás, quando eu era jovem e fazia qualquer coisa por dinheiro, me aventurei a programar homepages. Um dia um cliente disse que queria uma página “com Java”. Expliquei que não havia necessidade de Applets no site, mas ele insistiu. Havia lido que Java era a tecnologia do momento e se eu não pudesse implementar ele iria procurar outro. Lembro que botei uma applet de texto espelhado ou algo assim, e o cara ficou feliz. Foi um dos meus primeiros contatos com a indústria do hype na indústria.

A área de tecnologia ama, ADORA modinhas. Uma época era o Thin Client, outra a solução completa ActiveX, depois veio a computação distribuída, então o pessoal que fazia servidores de hospedagem glamourizou o serviço rebatizando de nuvem. E teve a época da Fuzy Logic.

Hoje vivemos a época da Inteligência Artificial e do Blockchain, como tivemos a do XML, que me rendeu muitos desafetos quando falei que era um TXT metido a besta. E é.

Um produto para ser popular precisa se vender como tendo Inteligência Artificial, da mesma forma que em ciência de base para conseguir verba sua pesquisa precisa envolver “nanotecnologia”, “CRISPR” ou “grafeno”.

Só há um problema: escrever softwares de IA é bem complicado. Você precisa de gente cara com bons PhDs, tempo e dinheiro, coisas que startups não costumam ter sobrando. O resultado é que muitas apelam para a solução mais rápida e eficiente: Elas mentem.

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Um artigo do Wall Street Journal revelou que centenas de apps de celular principalmente requisitam acesso a seus emails e eles são lidos não por IAs, mas por gente mesmo.

Alguns usam isso para calibrar e treinar suas IAs mas muitos acabam vendendo pros investidores a idéia de uma IA que simplesmente não possuem, e suplementam o serviço contratando centrais de processamento na China ou na Índia, onde humanos treinados fingem que são robôs, respondendo e encaminhando emails e até falando em chats.

A situação é antiga. Em 2008 a Spinvox foi acusada de usar humanos para fazer o trabalho de máquinas. No caso eles teriam tecnologia de reconhecimento de voz que acessaria as secretárias eletrônicas ou o voicemail dos usuários, converteria as mensagens em texto e enviaria por SMS.

Problema: a BBC investigou e descobriu que o serviço de transcrição estava sendo feito manualmente, com funcionários de um Call Centre egípcio acessando os celulares das pessoas, ouvindo as mensagens e as transcrevendo. A empresa nega tudo e diz que só uma ínfima parte das mensagens foi tratada manualmente. Okey.

Na China serviços de agendas online usam extensivamente trabalho manual vendido como IA, com direito a jornadas de 12 horas, enquanto usuários e investidores se maravilhavam com a eficiência dos robôs.

Fora toda a questão da privacidade, com o risco real de gente estar fuçando seus emails, baixando seus nudes e dados financeiros, há uma questão mais ética ainda: há muitos sites que oferecem serviços de aconselhamento usando bots, e pesquisas demonstram que as pessoas são mais honestas e abertas quando sabem que estão falando com um bot.

Pedir para alguém expor seus problemas mais íntimos e enganar dizendo que é uma máquina quando é um humano, isso é uma atitude canalha.

O pior é que é um caminho sem volta. Desenvolver IA de qualidade continua sendo caro, muito mais caro que mão de obra barata, e todo mundo está indo atrás, até o Facebook.

M, o Assistente Virtual do Facebook no Messenger é vendido como uma Inteligência Artificial, mas por enquanto está sendo basicamente operado por humanos, que estariam “treinando” o sistema indicando as respostas corretas para cada pergunta. Ou seja, todas as vezes que você digitou "show me your tatas" uma velhinha em Bangalore se confundiu pensando que você se referia ao carro dela.

Fonte: Guardian.

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