Carlos Cardoso 6 anos atrás
Ontem Donald Trump deu uma pausa na construção de Auschkids (not the happiest place on earth) e surpreendeu todo mundo ao anunciar que mandou o Pentágono começar os estudos para a criação do sexto ramo da Defesa nos EUA (e possivelmente reformas para se tornar o Hexágono). A Força Espacial.
Sim, soa como ficção científica, e os críticos já se apressaram para condenar a idéia. Não há uma necessidade real de uma força especializada. Isso iria gerar um monte de burocracia e superposição de responsabilidades. A cadeia de comando ficaria mais complexa. Os outros ramos são perfeitamente capazes de lidar com suas necessidades espaciais.
São argumentos válidos, e nem são novos. Esse é o problema.
Os EUA demoraram a perceber a utilidade dos aviões em guerra, só criaram o US Army Air Service em 1917. A sugestão de ter um ramo das forças armadas exclusivo para aviação foi proposto em 1925, mas prontamente ignorada. Foi preciso a criação do US Army Air Corps, o desastre burocrático que quase foi a Segunda Guerra Mundial, para que percebessem que cada ramo ter sua própria estrutura aérea era uma péssima idéia.
No final da guerra o US Army Air Corps já havia se transformado na US Army Air Forces, e era basicamente independente, exceto no papel, o que facilitou a criação da United States Air Force, basicamente um RENAME e CHOWN (este é um blog de tecnologia afinal).
Um efeito interessante da dispersão de forças é que a Marinha tinha seus aviões e seus porta-aviões, então a Aviação Naval continuou como parte da Força, no Brasil por muitos anos nosso primeiro porta-aviões não podia levar aviões por ciumeira da Aeronáutica, que se definiu como a única com direito a operar aeronaves de asa fixa.
E claro, como ninguém aprendeu nada, quando começou a corrida espacial tudo se repetiu. O primeiro satélite americano deveria subir com o foguete Vanguard, da Marinha, mas ele explodiu então subiu com o Juno, da NASA, mas por pouco não foi lançado pelo Jupiter-C, do Exército. E isso foi só o começo.
Ah sim, até os Fuzileiros entraram na brincadeira, existe inclusive um USMC Space Operations Working Group.
A unificação das atividades espaciais na área de defesa é algo que já deveria ter acontecido, mas não vai acontecer. Nenhuma das forças armadas envolvidas vai aceitar abrir mão de recursos tão sexy quanto os espaciais. Imagine se a Marinha não vai querer uma Battlestar só dela:
E mesmo que eles dividam, a Força Aérea nunca deixará de voar o F-302.
Esse tipo de centralização de responsabilidades é essencial para evitar gastos absurdos, como durante a Guerra Fria, quando a CIA e a Força Aérea pagaram duas vezes pelo desenvolvimento de basicamente o mesmo avião, o A-12 Oxcart e o SR-71.
O projeto da Força Espacial não tem só críticos, gente como Buzz Aldrin apareceu para dar apoio. Sendo pragmático é uma decisão necessária, alguém teria que tomá-la, e me parece uma decisão muito mais prática do que pessoal, até porque vindo do Trump seria muito mais lógico esperar que a agência que ele criasse fosse uma que caça aliens ilegais!