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A sombria relação entre técnicas de prolongamento da vida e o sistema prisional do futuro

Acadêmica defende que no futuro, técnicas e procedimentos que prolonguem a vida das pessoas poderão levar a uma reformulação do sistema prisional, com penas mais longas e programas de correção mais severos.

6 anos atrás

O futuro pode trazer facilidades para todos, mas nem todas as novidades representarão benesses para alguns: um post publicado quatro anos atrás, que faz barulho até hoje relatava como a evolução da medicina e tecnologia, que eventualmente nos permitirá viver mais e melhor poderá ter efeitos controversos no sistema prisional, que poderia se adequar à nova realidade de modo a aplicar penas mais severas.

O texto em questão foi publicado em 2014 pela filósofa Rebecca Roache, na época uma acadêmica ligada ao Instituto Futuro da Humanidade, um grupo da Universidade de Oxford que reúne profissionais e defensores do Transumanismo, um movimento que visa ampliar e melhorar a condição física, psicológica e intelectual do potencial humano por quaisquer métodos possíveis. Nesse conceito entrariam melhorias por implantes cibernéticos, medicamentos que prolongam indefinidamente a vida, digitalização de memórias e outras maluquices. É basicamente um movimento baseado em extrapolação de conceitos.

No artigo em questão, Roache diz que no futuro a possibilidade de vivermos mais seja por implantes, sejam por drogas levariam a uma reestruturação do sistema penal, principalmente por ter que lidar com casos em que um condenado poderia viver por muito mais tempo do que hoje atrás das grades. Por exemplo, caso no futuro possamos retardar ou reverter o processo de envelhecimento, as penas poderiam ser muito maiores. Outra opção seria empregar robôs para fazer o trabalho de carcereiros, cortando custos com profissionais humanos.

Uma das possibilidades mais polêmicas, e que causou muito rebuliço quando o artigo foi publicado (em que muita gente interpretou errado, achando que Roache era uma cientista pesquisando tais técnicas) diz respeito à alteração da percepção de tempo do preso. Segundo a filósofa, uma droga poderia ser administrada no condenado forçando-o a "cumprir", sob seu ponto de vista a sentença determinada em um período muito menor, eliminando dessa forma os custos com a manutenção do infrator nas cadeias.

Seria mais ou menos assim: uma pílula ou uma injeção que forçasse a mente do condenado a perceber um tempo de horas como cinco, dez anos ou ir até mesmo além, com um condenado sendo submetido a uma pena mental muito maior que sua própria expectativa de vida, digamos 200, 500, 1.000 anos de trabalhos forçados em um dia, sendo liberado totalmente reabilitado. Para o Estado, o custo se resumiria à aplicação da droga e um quarto ocupado por no máximo 24 horas, contra uma boa quantia de dinheiro que um preso custa por mês.

Outro método, tão polêmico quanto seria o de digitalizar o cérebro de condenados a prisão perpétua e mantê-los ativos por tempo indeterminado, forçando tais indivíduos (lembre-se, o conceito de transumanidade prevê a transcendência do corpo físico, numa existência "pós-humana") a cumprirem suas penas basicamente por toda a eternidade ou enquanto os sistemas durarem.

Em entrevista, a filósofa que hoje trabalha junto à Royal Holloway University diz que sua intenção nunca foi apresentar novas ideias para o sistema prisional, mas sim de alertar pesquisadores para os rumos que as pesquisas atuais poderão tomar num futuro não tão distante. Segundo sua visão, se não forem colocados limites hoje sobre o que pode e o que não pode ser utilizado para criar novos métodos para a correção de condenados, as prisões poderão se tornar "um pesadelo draconiano muito pior do que são hoje".

Claro, o texto em si é pura futurologia e extrapolação, mas é importante pensar no assunto desde já.

Fonte: The Next Web.

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