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O dia em que o piloto-MacGyver salvou um avião de US$ 6 bilhões

Dentre todas as quase-tragédias da Guerra Fria talvez nenhuma tenha sido salva tanto aos 48 do segundo tempo quanto o avião futurista alienígena Valkyrie, US$ 6 bilhões em componentes exóticos e engenharia impossível resgatados da destruição certeira por algo que você provavelmente tem em sua mesa.

6 anos atrás

xb-70-valkyrie-revelacao

Sem sombra de dúvida a Guerra Fria foi muito mais assustadora para os militares dos EUA do que a Segunda Guerra Mundial. A possibilidade de ataques nucleares devastadores, junto com a possibilidade de que o inimigo tenha desenvolvido um meio de anular os seus próprios ataques nucleares devastadores deixou muito general sem dormir, e quando os generais não dormem, os engenheiros viram a noite.

O lado bom é que havia uma fonte infinita de dinheiro, com o qual subornaram alienígenas para fornecer a tecnologia usada em aviões como o SR-71 e, principalmente, o North American XB-70 Valkyrie.

O projeto começou em 1955, quando ainda morávamos em cavernas, as especificações eram tão avançadas que HOJE não há nada voando que se assemelhe ou chegue perto dele. Inicialmente seria um bombardeiro de grande altitude, no meio do projeto alteraram para bombardeiro de penetração (ui!) e no final se tornou algo híbrido.

Ele voou pela primeira vez em 1964, tinha 57,6 metros de comprimento, 6 motores movidos a um combustível especial aditivado com Boro e que só seu desenvolvimento custou US$ 1 bilhão. Era capaz de voar a 3.309 km/h, mais rápido que a maioria dos mísseis, as pontas das asas tinham geometria variável, o resfriamento dos motores era feito pelo próprio combustível, algo que a NASA e a SpaceX hoje fazem. Nitrogênio era usado para preencher a atmosfera dos tanques e evitar explosões. Sim, a aviação comercial copiou a idéia, décadas depois.

O Aviões e Músicas fez um excelente vídeo mostrando de perto o bicho, o único que sobrou.


Aviões e Músicas — XB-70 VALKYRIE - VEJA DE PERTO

Foram construídos dois protótipos. Um deles se acidentou durante um vôo de demonstração, quando um F-104 colidiu com a ponta da asa. O Valkyrie mergulhou descontrolado, o co-piloto conseguiu ejetar mas o piloto, provavelmente tentando salvar a aeronave acabou morrendo.

Além da perda dos pilotos (o F-104 também foi pro saco) houve a perda do protótipo, avaliado em US$ 6 bilhões em dinheiro atual. Uma senhora grana. O protótipo remanescente era o único XB-70 em existência, e pouca gente sabe mas dois meses antes, em abril de 1966 ele quase foi destruído também.

Sob o comando do Coronel Joe Cotton, o protótipo estava sendo testado voando a mais de Mach 3 por 33 minutos. O teste foi excelente, mas na hora de pousar, o trem dianteiro não quis baixar nem com reza braba.

Eles abortaram o pouso e começaram a circular enquanto estudavam as possibilidades. Todos os procedimentos do manual foram usados, mas nada da roda baixar. Um pouso sem o trem estava descartado, o avião iria se partir ao meio. Em terra os engenheiros discutiam cenários possíveis e impossíveis, até que depois de uma hora identificaram o problema:

Um curto-circuito estava desarmando um disjuntor do sistema elétrico de backup, impedindo que o trem de pouso fosse acionado. era preciso fazer um gato contornando o disjuntor. Pilotos não costumam voar com ferramentas, então Joe teve que improvisar. Deixando o comando nas mãos do outro piloto, ele procurou em suas coisas e achou um clipe de metal.

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Joe fechou o circuito entre dois disjuntores, o outro piloto acionou o trem de pouso. O mecanismo respondeu prontamente e bingo: três luzes verdes no painel e US$ 6 bilhões do Tio Sam não viraram poeira na pista de pouso.

Fonte: Big Wings: The Largest Aeroplanes Ever Built, pág 112.

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