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Mark Zuckerberg se safa de fritada no Senado, porque políticos não entendem o Facebook

Senadores dos EUA não conseguem causar danos em Mark Zuckerberg em audiência, principalmente por falta de intimidade com o funcionamento do Facebook.

6 anos atrás

O CEO do Facebook Mark Zuckerberg saiu praticamente ileso do primeiro depoimento acerca das recentes polêmicas envolvendo sua companhia e seus produtos, que durou cinco horas e contou com uma série de perguntas feitas por 44 senadores dos Estados Unidos. Embora tenha se desculpado formalmente pelo escândalo da Cambridge Analytica, que afetou cerca de 87 milhões de usuários da rede social, Zuck não sofreu maiores danos principalmente porque boa parte dos políticos não entende como o Facebook, ou a internet funcionam.

A audiência realizada nesta terça-feira (10), dividida em dois blocos e que envolveu os comitês de Justiça e do Comércio, Ciência e Transportes do Senado dos EUA foi um festival de tira-dúvidas, com os advogados direcionando questões a Zuck muitas vezes tentando entender os procedimentos do Facebook ao invés de pressiona-lo contra a parede, de modo que ele fosse levado a reconhecer que sua companhia detém poder demais e é praticamente livre para fazer qualquer coisa com os dados dos usuários.

Houveram exceções, claro. Quando o senador Lindsey Graham (GOP, Carolina do Sul) questionou Zuck sobre os Termos de Serviço do Facebook, que são extensos e complexos demais para um usuário comum entender ("uma baboseira sem sentido", ele resumiu), este admitiu que "o usuário não lê tudo aquilo"; claro que o comportamento "next, next, done" é geral mas nesse caso, o CEO de certa forma admitiu que não é interesse do Facebook esclarecer tudo o que sua rede faz e numa extrapolação, poderiam inserir cláusulas controversas porque o usuário assina sem ler de qualquer forma.

Em outro momento, Zuck admitiu ao senador Bill Nelson (Dem, Flórida) que "foi um erro" não ter conduzido uma investigação quando o Facebook soube pela primeira vez que a Cambridge Analytica estava fazendo besteira, em 2015. Na época, a empresa disse que havia parado de usar os dados dos usuários e que tinha deletado tudo, e a rede social deu o caso como encerrado.

Foi Ed Markey (Dem, Massachussets) quem protagonizou o momento mais tenso da audiência. O senador perguntou se Zuck pretendia apoiar uma legislação que obrigasse redes sociais a pedir autorização aos usuários antes de compartilhar dados coletados, especificamente sobre proteção dos dados de crianças. O executivo respondeu "eu não acho que isso precisa se tornar uma lei", o que prontamente corrigiu dizendo que seria algo a ser avaliado junto à equipe da rede social.

Na maioria das vezes no entanto, Zuck conseguiu sair tranquilamente pela tangente e muito porque os senadores ainda vivem na primeira metade do século XX. Quando Orrin Hatch (GOP, Utah) perguntou sobre como o facebook faz dinheiro para manter uma infraestrutura tão grande, o CEO obviamente respondeu "nós exibimos anúncios". Da mesma forma, Deb Fisher (GOP, Nebraska) questionou as categorias de dados que o Facebook armazena, e Zuck pediu para que a senadora esclarecesse o que ela entendia por "categorias de dados".

Em alguns casos Zuck foi sucinto, como ao negar a Brian Schatz (Dem, Hawaii) que o WhatsApp coleta dados para exibir anúncios; ele também negou a Gary Peters (Dem, Michigan) que o Facebook usa o microfone de smartphones para ouvir o que o usuário fala para o mesmo fim.

Foi o senador John Kennedy (GOP, Louisiana), no entanto quem fez o maior papelão. Este disse a Zuck que os Termos de Serviço do Facebook "são uma porcaria", emendando que eles não informam nada sobre os direitos do usuário e que o CEO "deveria voltar para casa e reescrevê-los". Porém, Kennedy não entende que ele como usuário tem autonomia para deletar seus dados quando quiser, e perguntou três vezes a mesma coisa para o executivo. Zuck só respondeu "senador, o senhor já pode fazer isso" todas as vezes.

Já Ted Cruz (GOP, Texas) tentou desviar a atenção, talvez porque ele já foi um dos clientes da Cambridge Analytica e preferiu perguntar a Zuck sobre a retirada de anúncios de organizações como Planned Parenthood e MoveOn. O executivo negou conhecimento. Já sobre a demissão de Palmer Luckey, ex-fundador da Oculus, Zuck apenas disse que "não foi por causa de política".

Tanto Cruz quanto Roy Blunt (GOP, Missouri) teriam investido uma boa grana na empresa de coleta de dados e não tocaram no assunto. Este se limitou a perguntar se o Facebook rastreia aparelhos com o app instalado mas não em uso. Zuck inclusive reagiu primeiro com um "sério?" e disse que aquela era uma pergunta básica, antes de responder que não sabia e precisaria checar tal informação com sua equipe.

Na maioria das vezes, Zuck respondia perguntas genérica com números e o tamanho do Facebook e produtos agregados (Instagram, WhatsApp, Messenger), principalmente por movimentarem bilhões de interações por dia e que muito não pode ser minuciosamente checado e/ou apurado. Dada a falta de conhecimento técnico da maioria dos senadores, o executivo pode sair da audiência sem ter fornecido informações realmente relevantes sobre a operação da companhia, ou seus métodos para a proteção dos dados do usuário.

Hoje Zuck será questionado no Congresso, pelo Comitê de Energia e Comércio e muito provavelmente, dará respostas tão evasivas quanto as de ontem.

Fonte: CNN.

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