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Responsabilidade e Fotografia

14 anos atrás

Já discutimos por aqui um pouco do drama de Kevin Carter ou de Tiago Brandão que foram duramente criticados por fazerem fotos de situações complicadas em vez de oferecerem ajuda.  Fica aquele grande dilema, fotografar ou ajudar? Embora a resposta possa parecer simples, existem vários fatores envolvidos. Isso me lembra de duas situações diferentes. A primeira é a mostrada no filme Fomos Heróis (We Were Soldiers, 2002) aonde o fotógrafo Joe Galloway (Barry Pepper) chegou a conclusão que a melhor maneira de ajudar os seus colegas de combate era registrando o seu sofrimento e perdas para que seu sacrifício não fosse esquecido. Essa é uma vertente do trabalho jornalístico fotográfico. A outra situação aconteceu comigo. Em um fim de semana do mês passado, estávamos fazendo algumas fotos da feira pública aqui da cidade quando presenciamos o atropelamento de uma criança. O garoto, que não sobreviveu ao acidente, tinha fugido dos pais e atravessado a avenida que existe ao lado da feira. Eu estava lá com a câmera na mão. Qualquer imagem daquele acidente poderia ser vendida a qualquer jornal da região, talvez até algum meio de comunicação de maior alcance, mas qual seria o mérito daquilo? Qual seria a compensação social daquela imagem para a família da criança? Nenhuma, seria apenas uma exploração visual para saciar a curiosidade mórbida do público em geral. A cena era dolorosa e os pais estavam desesperados. Em momento algum me passou pela cabeça utiliazar aquela situação para conseguir uma imagem impactante. E depois ainda fui criticado por minha falta de senso de oportunidade.

Mas, estou dizendo tudo isso porque são situações que podem ser colocadas no contexto do vídeo abaixo. O curta metragem One Hundredth of a Second esta percorrendo a blogosfera (ainda se usa esse termo?) fotográfica e grupos de discussão pela internet. A mensagem é mais do que direta, pois não existe resposta simples sobre a questão dos limites do fotojornalismo entre sua função social e a exploração irresponsável da notícia (alguém ai se lembrou da cobertura dos grandes acidentes aéreos pela mídia?). Mas, além disso, mostra que o fotógrafo não é um ser desprovido de emoções e que a carga psicológica desse trabalho é gigantesca.

Eu encontrei esse vídeo primeiramente no Fós Grafê, um blog de fotografia fantástico que todo mundo tem que conhecer. As cenas são fortes, mas vale a pena ser assistido inteiramente. Mais do que o impacto visual, vale pela reflexão sobre essa nossa profissão (ou hobby).

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