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Da série “Coisas Esquisitas que Voam” — Short Mayo Composite

Houve uma época em que a melhor forma de atravessar o Atlântico sem escalas era de avião. Nas costas de… outro avião. Clique e conheça o Short Mayo Composite, uma idéia tão doida que acabou dando certo.

6 anos atrás

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Hoje em dia você viaja de avião com conforto inimaginável algumas décadas atrás. Há aviões como os A380 da Emirates que tem chuveiro e bar, alguns tem até cabines individuais. Nos primórdios o máximo de conforto era cadeirinha de palha. Sério.

Não havia muita potência sobrando, e isso dificultava vôos longos. Dirigíveis eram muito caros, lentos e já era conhecimento comum que viajar com trocentos quaquilhões de metros cúbicos de hidrogênio acima de você não era muito bom pra saúde. Aviões eram a saída, mas como?

Também era conhecido por todo mundo, ou ao menos por engenheiros, que o peso máximo de decolagem de um avião era diferente do peso máximo em vôo, o que por sua vez é diferente do peso máximo no pouso.

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Hoje em dia poucos aviões possuem sistemas de alijamento de combustível justamente por causa disso. O peso máximo de pouso é menor que o peso máximo de decolagem, mas por um fator razoavelmente pequeno: se for preciso, o avião voa até queimar o combustível excedente, ou em último caso pousa. O trem não vai gostar mas vai aguentar. Sai muito mais em conta do que levar centenas de kg de equipamento para alijamento de combustível.

No caso dos aviões do final da década de 1930, sabia-se que eles podiam voar com mais peso do que podiam decolar. Várias soluções foram propostas para se aproveitar disso, a mais esquisita da mente de Robert H. Mayo e seu designer-chefe Arthur Gouge. A empresa, Short Brothers fazia hidroaviões, e queria o mercado transatlântico. A idéia deles? Acoplar um Short S.20 Mercury no alto de um Short S.21 Maia.

Os dois voariam até atingir atitude de cruzeiro, o Mercury carregado de carga e/ou passageiros até o talo. Na altitude correta, e na distância máxima possível os pilotos acionariam alavancas, os aviões se separariam. O Maia voltaria para a Inglaterra, o Short seguiria para os EUA. Foi o primeiro vôo comercial transatlântico sem escalas de uma aeronave mais pesada que o ar e que não explode em chamas oh the humanity.

O mais incrível: funcionou. Em 6/2/1938 a engenhoca fez seu primeiro vôo de testes. em 21/7/1938 foi o primeiro vôo transatlântico. decolando da Irlanda e pousando no Canadá.

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Foram 4.714 km, pouco mais de 20 h de vôo, a uma velocidade média de 232 km/h.

Depois disso o conjunto foi incorporado à Imperial Airways, voando para lugares exóticos como Alexandria, mas o recorde de distância foram 9.726 km da Escócia até a África do Sul.

O projeto acabou não indo adiante, aviões mais potentes capazes de fazer o mesmo vôo sem a complicação de ser acoplados a uma nave-mãe foram surgindo, a 2ª Guerra Mundial paralisou o desenvolvimento aeronáutico de aviões comerciais, e para piorar o Maia foi destruído em 1941, quando os malditos chucrutes bombardearam o porto onde ele estava atracado.

Apesar disso a idéia do Short Mayo Composite não morreu: grandes idéias nunca morrem. Nos anos 70 a NASA criou planos de contingência para o Ônibus Espacial pousar em vários aeroportos do mundo, mas ele precisaria ser transportado depois. Por muito tempo bateram cabeça, até um engenheiro chamado John Kiker lembrar do Short Mayo, criar coragem e sugerir o impensável: espetar um Ônibus Espacial no alto de um Boeing 747.

O resto, como dizem, é História.

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E antes que reclamem, o ônibus espacial não foi só carregado, também decolou para testes de planeio. Em 1977, e foi a fucking Enterprise!

A única coisa triste da história é que Robert Mayo morreu em 1957, e não viveu para ver sua idéia maluca deixar de ser realidade e virar praticamente ficção científica.


Lotus4115 — Enterprise First Test Flight 1977 cut 2

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