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Supergêmeos, ativar: forma de um porta-aviões de gelo!

Qual material você usaria para construir um navio de guerra? Nos anos 40 os Aliados resolveram que o maior porta-aviões do mundo seria feito de… gelo. Clique e leia sobre essa improvável saga.

7 anos atrás

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A Guerra gera muitos avanços, mas nem todas as idéias são boas. Algumas são insanas, outras desesperadas, outras megalomaníacas demais. De todas talvez a mais ousada foi o Habbakuk, um mega power porta-aviões, com números que humilhariam até o porta-aviões da SHIELD.

A Inglaterra estava ilhada, não tinha recursos para produzir número suficiente de navios, e isso deixou os comboios do Atlântico desprotegidos. Havia um espaço no meio da rota onde os aviões de patrulha não chegavam, e os navios ficavam à mercê dos submarinos alemães. O ideal seria manter porta-aviões de prontidão, com vôos de patrulha, mas os ingleses não tinham como construir um, aço era escasso.

Ressurgiu então uma velha idéia, proposta inicialmente por um alemão em 1930: construir uma ilha de gelo. Sim, é uma idéia que soa ridícula e todas as vezes que foi redescoberta a recepção foi a mesma: zoação, exceto que agora o bicho estava pegando e toda idéia era avaliada seriamente.

Isso quase acabou com o projeto. Gelo se mostrou frágil, um iceberg artificial não seria estável e as ondas do Atlântico Norte acabariam com ele. Torpedos e canhões inimigos também estilhaçariam a estrutura. Ao contrário de 1912, os navios levavam a melhor sobre o iceberg.

Entra na história um inventor levemente insano chamado Geoffrey Pyke. Ele foi correspondente durante a Primeira Guerra, espionou a Alemanha nazista, e pipocou de feitos memoráveis seu currículo, mas ficará para sempre na História por sua invenção, o pykreto.

O Almirantado inglês estava a ponto de abandonar a idéia de um barco de gelo, quando Pyke foi chamado para opinar sobre o projeto. Imediatamente ele se lembrou de experimentos onde seus assistentes relataram que uma mistura de serragem e água produzia gelo com integridade estrutural excelente.

Os Mythbusters fizeram um programa sobre o pykreto. Uma placa de gelo quebrou sob o peso de 18 kg de chumbo. A placa de pikreto do mesmo tamanho suportou 138 kg e só não foi mais porque ficaram sem pesos na oficina.

Justin Bozeman — Ice vs Pykrete vs Newspaper Pykrete

O pykreto também era à prova de balas. Podia ser consertado com um simples trabalho de pedreiro e levava muito mais tempo para derreter do que gelo convencional.

Um projeto-piloto foi encomendado e a construção começou no Lago Louise, em Alberta, Canadá. Longe dos olhos dos espiões nazistas e com o clima frio ideal. O modelo teria 1.000 toneladas, 18 metros de comprimento e 9 metros de largura. Era refrigerado por um motor de 1 hp, com canos percorrendo as paredes.

Para confundir espiões os trabalhadores foram informados de que estariam construindo um protótipo de casa ou prédio, e a presença de um telhado confirmava isso:

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Pyke entretanto não teve muita sorte. Ele bateu de frente com muita gente, e acabou sendo removido do projeto, em parte para dar mais espaço para os americanos. Mesmo assim o sucesso da demonstração fez com que um navio de verdade fosse encomendado, e aí surgiram os problemas.

Da mesma forma que Ruby, pykreto não escala. O custo de materiais seria imenso. Só de aço seriam 10 mil toneladas, 35 toneladas de madeira, 300 mil toneladas de polpa mas ao menos a água era de graça.

À medida que os cálculos eram feitos o sistema de refrigeração foi ficando mais e mais complexo. Aparentemente os projetistas exageraram na megalomania.

O Habbakuk seria um monstro. Aqui, comparado com um porta-aviões moderno, Classe Nimitz:

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Seriam mais de 600 metros de comprimento. O casco teria 12 metros de espessura, torpedos não fariam nem cócegas. Ele teria capacidade de suportar bombardeiros pesados. O deslocamento seria de 1 milhão e 800 mil toneladas.

Também estava nos planos o Habbakuk 2 — A Missão, que teria 1.200 metros de comprimento.

Infelizmente como todo projeto de engenharia a Realidade atrapalhou, os custos foram se acumulando e no final a idéia não fazia mais sentido. Os EUA estavam produzindo navios de escolta em número suficiente, Alan Turing estava decifrando as comunicações nazistas e apontando a localização dos comboios e aviões agora tinham autonomia para cobrir o espaço antes desprotegido.

O Habbakuk foi cancelado, não por ser uma idéia ruim ou por custar caro demais, ele apenas não era mais necessário. Geoffrey Pike morreu em 1948, orgulhoso de sua invenção. O seu barco de pykreto, abandonado em um lago canadense levou três longos anos para derreter completamente.

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