Meio Bit » Arquivo » Cultura » Rapidinhas do YouTube: a YouTuber virtual e o filme sobre os famintos por atenção

Rapidinhas do YouTube: a YouTuber virtual e o filme sobre os famintos por atenção

Conheça A.I. Kizuna, a primeira YouTuber virtual e saiba mais sobre Like Me, o filme que critica a cultura do bizarro atrás de audiência no YouTube.

7 anos atrás

Personagens virtuais não são nenhuma novidade. Max Headroom, "desenvolvido" para a TV britânica é considerado o primeiro apresentador de TV virtual (na verdade um ator). Nos anos 1990 e 2000 várias empresas tentaram criar indivíduos virtuais para desempenhar funções na mídia, como a Ananova (a verdadeira primeira 100% digital) e até a brasileira Eva Byte, que foi co-apresentadora do Fantástico.

Nenhuma dessas iniciativas revolucionou o jornalismo, ninguém consegue se conectar com um personagem "quase real" por diversos motivos e o Vale da Estranheza é um deles. O Japão sabe disso, e não é coincidência que a idol virtual Hatsune Miku faça tanto sucesso: ela é um anime ambulante, projetado em shows ao vivo e não é nada diferente do que o Gorillaz fez há quase vinte anos (mas o Japão também tem umas ideias estranhas, mais de uma vez).

Ambos os casos são personagens animados mais facilmente aceitáveis pelo público. Eles não causarão aquela repulsa que um modelo quase humano gera e como são empregados em mídias de entretenimento, acabaram tendo vidas muito mais longevas do que os “jornalistas virtuais”.

Por isso não surpreende que um artista japonês tenha percebido o óbvio: YouTubers por si só são personalidades tão descartáveis quanto artistas pop, logo criar um do zero e promover seu canal não é nada tão difícil assim.

E assim nasceu A.I. Kizuna.

A.I.Channel • 【ホラー】INSIDE(インサイド)【実況】

Criada por um desenvolvedor que não quer se identificar e muito provavelmente utilizando o mesmo software de animação que a Yamaha utilizada para criar os modelos da Hatsune Miku (você pode inclusive baixar os arquivos), Kizuna é uma YouTuber como qualquer outro com a única diferença que ela só existe no mundo virtual. Ela aborda uma série de assuntos em seus vídeos e até “joga” alguns games populares. Acima ela testa Inside, dos mesmos criadores de LIMBO.

O canal da YouTuber virtual já é bem popular: ele foi inaugurado em setembro e hoje já conta com mais de 200 mil assinantes. Seus vídeos tem uma média de 25 a 30 mil visualizações, mas o acima é o campeão: mais de 415 mil execuções. Embora seja um caso isolado, ser popular no YouTube tem muito de originalidade e querendo ou não, a grande sacada de A.I. Kizuna não está no conteúdo e sim na forma. Tudo o que ela faz é comum, mas um apresentador virtual é algo que até então ninguém havia pensado em fazer.

E é exatamente este o problema da maioria dos canais no YouTube hoje: mais do mesmo. São poucos aqueles que se destacam pelo diferencial em seus assuntos (como o Aviões e Músicas) e acabam apelando para estratégias mais banais. O tanto de canais com conteúdos que variam do ridículo ao lixo se proliferam por um simples motivo: nós gostamos de besteirol.

Outra alternativa é chocar por chocar, e foi dessa forma que PewDiePie se estrepou de verde e amarelo. Em uma análise fria essas pessoas precisam de sua audiência para se sentirem completos, é uma espécie de solidão virtual de pessoas que atingem milhões de viewers por vídeo mas não interagem diretamente com quase ninguém, e para manter as visualizações altas acabam apelando cada vez mais.

É o que o filme Like Me, apresentado na última semana no SWSX 2017 aborda. A personagem principal é Kiya, uma adolescente com um forte desejo de ser aceita e se conectar com as pessoas. Como todo introvertido da atualidade ela acaba abrindo um canal no YouTube, onde publica vídeos que fazem as estripolias de PewDiePie e cia. parecerem brincadeiras de criança.

É aí que a coisa desanda. Ela se envolve com um espectador (nitidamente bem mais velho) e por causa da rejeição a suas tentativas de chamar-lhe a atenção, acaba produzindo e publicando vídeos cada vez mais controversos: de filmagens de assaltos e sequestros que ela executa à produção de snuff movies. E óbvio, daí para a frente é ladeira abaixo.

BD Horror Trailers and Clips — LIKE ME | SXSW Teaser Trailer HD 2017

Embora a ideia do filmes seja a de chocar, não é tão alienígena a ideia de que um caso como esse pode realmente ocorrer. As pessoas estão em busca de sempre atingir o público e conseguir audiência, e sempre haverão aqueles dispostos a dar um passo além e cruzar a linha.

Não há previsão de lançamento de Like Me nos cinemas, é provável que ele acabe exibido em festivais; de qualquer forma, sempre há a Locadora do Paulo Coelho.

relacionados


Comentários