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Humanos só podem ficar 4 anos em Marte, aponta estudo

Ausência de um campo magnético em Marte exporia humanos a níveis altíssimos de radiação, inviabilizando missões de longa duração

2 anos e meio atrás

Marte é o segundo planeta mais próximo de nós e o candidato natural a num futuro distante se tornar nossa segunda casa, mas o processo de nos deslocarmos para lá não será nem de longe simples, e segundo um novo estudo, nem se dará tão cedo.

Segundo um time de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), missões humanas só poderão ficar em Marte por até 4 anos, o tempo limite para que o corpo receba uma dose letal de radiação proveniente do espaço. Isso porque diferente da Terra, o planeta vermelho não possui um campo magnético.

Primeira foto em cores reais de Marte, tirada pela câmera OSIRIS da sonda espacial Rosetta, em fevereiro de 2007 (Crédito: Divulgação/ESA)

Primeira foto em cores reais de Marte, tirada pela câmera OSIRIS da sonda espacial Rosetta, em fevereiro de 2007 (Crédito: Divulgação/ESA)

Não é novidade que NASA, ESA, Roscosmos e cia. ltda. (você não, AEB) quebram a cabeça há muito tempo para encontrar meios de viabilizar missões humanas em Marte, um planeta que só foi virtualmente colonizado. Seus habitantes são todos máquinas, não há nenhum prospecto realista de quando poderemos enviar uma tripulação para lá, com todos os protocolos de segurança garantidos.

Se enviar humanos para Marte já é um problema e tanto, estabelecer missões de longa duração, ou mesmo uma colônia permanente, é uma dor de cabeça ainda maior, e independente do que companhias independentes afirme, como Elon Musk através da SpaceX, com seu desejo de se instalar e morrer lá, há uma série de fatores que precisam ser levados em contas, de modo que o primeiro assentamento marciano não se torne um repeteco da colônia de Roanoke.

A pesquisa conduzida pelo time do prof. Dr. Yuri Shprits, líder do grupo de Modelagem de Ambientes Espaciais da UCLA, se concentrou em determinar se é seguro enviar astronautas para Marte, e por quanto tempo eles poderiam ficar lá, com a tecnologia disponível hoje. Isso porque Marte não possui um campo magnético, diferente da Terra.

O campo geomagnético é formado graças ao movimento das correntes elétricas oriundas da movimentação do núcleo externo fundido da Terra, este rico em ferro e níquel. A magnetosfera, gerada pelo campo, cria um "escudo" entre o planeta e o Sol, protegendo o primeiro da radiação oriunda dos ventos solares.

A magnetosfera desvia ou reflete boa parte deles e dos raios cósmicos, que em sua ausência, aniquilariam a atmosfera superior, incluindo a camada de ozônio, inviabilizando o desenvolvimento da vida por aqui.

Representação artística de como o campo magnético da Terra protege o planeta dos ventos solares (Crédito: Reprodução/PBS)

Representação artística de como o campo magnético da Terra protege o planeta dos ventos solares (Crédito: Reprodução/PBS)

Marte até tem um campo magnético, mas ele não é gerado pelo próprio planeta, e cientistas especulam se ele já existiu no passado, o que poderia ter viabilizado a formação de oceanos e rios em seu passado remoto, visto que seus rastros ficaram impressos no relevo marciano.

A proteção natural hoje presente lá é insuficiente para garantir a segurança de qualquer ser vivo terrestre complexo, humanos incluídos, já que radiação não é algo que faz bem para a nossa pele. Nós temos meios de mandar uma equipe para lá, de modo a conduzir experimentos e tudo o mais, mas as primeiras viagens se resumirão em um bate-e-volta, com um tempo de permanência bem curto.

Nossa tecnologia permite criar escudos para as espaçonaves, garantindo um percurso de ida e volta sem problemas, mas ficar em Marte hoje é inviável, pois os colonos ficariam permanentemente expostos a ventos solares e raios cósmicos. Segundo a pesquisa, um humano não resistiria a mais do que 4 anos, considerando o lançamento das missões entre 6 meses e 1 ano após o período mais intenso da atividade solar.

Há também o fato de que o tempo de viagem precisa ser descontado. Diferente da Lua, que é ali na esquina, uma missão tripulada rumo a Marte levaria hoje 9 meses para chegar lá, e mais 9 para voltar, ou seja, um ano e meio. Sobrariam 2,5 anos para os exploradores conduzirem seus experimentos e picarem a mula, antes de virarem torradas.

O artigo também não leva em conta outros pormenores marcianos, como o solo rico em percloratos, algo que não é bom para micro e macrorganismos, e a microgravidade, que pode causar efeitos diversos na equipe. Em suma, Marte não é para qualquer um.

No livro/filme "Perdido em Marte", Mark Watney permaneceu 549 sols no planeta vermelho, ou 1 ano, 6 meses e 18 dias (Crédito: Reprodução/Scott Free Productions/Kinberg Genre/TSG Entertainment/20th Century Studios/Disney)

No livro/filme "Perdido em Marte", Mark Watney permaneceu 549 sols no planeta vermelho, ou 1 ano, 6 meses e 18 dias (Crédito: Reprodução/Scott Free Productions/Kinberg Genre/TSG Entertainment/20th Century Studios/Disney)

A NASA tem planos para enviar a primeira missão tripulada à Marte na próxima década, e até lá, pode ser que tenhamos desenvolvido novos métodos e materiais que resolvam o problema da radiação, ou ao menos reduzam sua incidência a níveis mais civilizados. Mesmo assim, as primeiras missões serão de curta duração, a fim de conduzir experimentos com mais desenvoltura do que máquinas remotas.

Assim, qualquer plano de colonização do planeta vermelho não deverá sair do papel por muito e muito tempo, até que a segurança dos astronautas/colonos seja garantida, o que pode nem ser alcançado nesta geração.

Foi mal, Elon.

Referências bibliográficas

Dobynde, M. I. et al. Beating 1 sievert: Optimal radiation shielding of astronauts on a mission to Mars. Space Weather, Volume 19, Edição 9, 13 páginas, 7 de agosto de 2021. Disponível em https://doi.org/10.1029/2021SW002749

Fonte: UCLA, ExtremeTech

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