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CCXP 2016 — For the Love of Spock — Resenha (sem spoilers)

Confira nossa resenha de For the Love of Spock, o documentário dedicado à vida e obra de Leonard Nimoy que foi exibido em primeira mão na CCXP 2016.

7 anos atrás

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Não há o que discutir: Spock é um dos personagens mais famosos de Star Trek e um dos mais reconhecíveis da cultura pop de todos os tempos, mesmo para quem não se interessa por ficção científica. O meio-vulcano que tinha dificuldades de se encaixar por pertencer a duas sociedades tão diferentes e que reprimia suas emoções o tempo todo foi abraçado pelos fãs, que se identificaram com o personagem ao se considerarem eles próprios como "estranhos", "forasteiros", etc.

Leonard Nimoy era também uma unanimidade, um artista completo que deu vida a um dos personagens mais completos e fascinantes de todos. Muito do mérito de Star Trek se deve não só a Gene Roddenberry e ao elenco fantástico da TOS, mas às improvisações e comprometimento de Nimoy com a obra, o que fez de Spock o mais popular acima de todos os outros, que transcendeu a obra e se tornou um ícone.

Muitos conhecem Nimoy como um multi-homem: ator, roteirista, diretor, fotógrafo, cantor (que desafinava segundo William Shatner mas ainda assim, melhor que ele próprio — o que é verdade). Porém não são todos que conheciam o homem por trás do uniforme da Federação e sem as orelhas pontudas. O marido, o pai de família. O jovem de Boston que chegou em Los Angeles aos 18 anos contra a vontade dos pais, que não queriam que ele investisse numa carreira artística.

Esse é o mote do documentário For the Love of Spock, dirigido por seu filho Adam Nimoy. Lançado na última semana no Brasil através de distribuição digital, a première foi exibida na última sexta-feira em um painel especial na CCXP 2016.

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Originalmente o documentário seria apenas uma homenagem aos 50 anos de Star Trek, focado em lembrar como Spock nasceu e explicar como um personagem secundário se tornou o primeiro que todo mundo lembra quando pensa na USS Enterprise (ou nem isso). A produção teve início no fim de 2014, com Adam e Leonard Nimoy tocando os trabalhos juntos. No entanto, pouco tempo após a morte do pai em 27 de fevereiro de 2015, a comunidade de fãs conseguiu convencer o diretor a ampliar o escopo e fazer da produção uma homenagem à vida e carreira dele, indo além de Spock.

Adam então iniciou uma campanha de crowdfunding para arrecadar US$ 600 mil, o dinheiro que ele julgava necessário para não só assegurar os direitos para a utilização de trechos dos episódios da série e dos filmes, mas também para trazer para o projeto o maior número de pessoas possível: há depoimentos de amigos de série (Shatner, Nichelle Nichols, George Takei, Walter Koenig), do elenco dos novos filmes (Zachary Quinto, Cris Pine, Zoe Saldana, Karl Urban, Simon Pegg, JJ Abrams), Catherine Hicks (a dra. Gillian Taylor de Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa) Jim Parsons e Mayim Bialik (The Big Bang Theory), Jason Alexander (Seinfeld), Neil deGrasse Tyson, Nicholas Meyer (diretor do segundo e quarto filmes) e Jeffrey Katzenberg (hoje CEO da DreamWorks, nos anos 1970 o jovem executivo da Paramount que conseguiu convencer Nimoy a participar do primeiro filme, por conta de um processo por direitos de imagem que ele movia contra o estúdio). E obviamente testemunhos de fãs, amigos e familiares.

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É no entanto Adam Nimoy (e sua irmã Julie) que desfia o novelo mais emocionante do documentário: ele tira o pai do pedestal e revela um homem comum, um workaholic que colocou a carreira em primeiro plano (ainda que com uma motivação nobre, explicava no filme) e se tornou ausente, não acompanhou o crescimento de seus filhos e mais importante: ao ser alçado ao estrelato Nimoy jogou sua família no olho do furacão da fama, algo que com o tempo seus filhos começaram a rejeitar.

O relacionamento entre Adam e seu pai foi em geral conturbado, de ambos os lados. O diretor tenta com o filme mostrar como mesmo um astro como Leonard vive dilemas que todos nós enfrentamos, ainda que as facetas mais negativas tenham sido suavizadas (mas não escondidas). O que se tem é um retrato de Leonard Nimoy absolutamente humano, ainda que não corresponda 100% à realidade. Isso nunca acontece, o que temos é como Adam via seu pai e como lidava com a pressão de ser filho de um astro, na sua visão da época tendo que competir com os fãs pelo amor de Spock.

Conclusão

For the Love of Spock é, como o nome diz uma carta de amor não só de fãs, amigos e pessoas que viveram ou foram tocadas pelo vulcano mais querido da galáxia, mas de um filho para seu pai. A lente de Adam Nimoy faz um emocionante passeio por toda a vida daquele que se tornou uma das figuras mais reconhecidas e reverenciadas da cultura pop em todos os tempos, mas toma o cuidado de não mitifica-lo e revela um Leonard Nimoy absolutamente humano, com falhas como todos nós.

Talvez seja essa a mais adequada homenagem, aproximar de seus fãs o homem que fez milhares de pessoas em todo o mundo não mais se sentirem deslocadas, se aceitarem como são e encontrarem seu lugar. Como o sr. Spock assim fez.

Cotação:

5/5 Ballads of Bilbo Baggins.

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FOR THE LOVE OF SPOCK (2016) Official Theatrical Trailer

Aos interessados, é possível assistir For the Love of Spock tanto na Netflix quanto na Google Play Filmes (aluguel ou compra).

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