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Rebeldes do Yemen lançam dois mísseis contra destroyer americano

Alguns dias atrás um navio dos Emirados foi atingido por um míssil dos rebeldes do Yemen, Agora tentaram de novo, lançando dois contra um destróier americano. Digamos que não foi tão fácil.

7 anos atrás

swift

Animados com o sucesso, depois que polpificaram o HSV-2 Swift, os rebeldes Houthi do Yemen colocaram as asinhas de fora, se por asinhas você entender os mísseis C-802 chineses fornecidos por alguém que de forma alguma é o Irã.

O alvo dessa vez foi o USS Mason, um destróier classe Aleigh Burke, comissionado em 2003. Com 9.200 toneladas, era um alvo suculento para os dois mísseis, e por isso mesmo seus 380 tripulantes estavam alertas, durante sua patrulha no estreito Bab-el-Mandeb, entre o Golfo de Aden e o Mar Vermelho.

Por volta de 7 da noite um operador de radar alertou, em voz alta para ser ouvido dentro do CIC — Centro de Informações de Combate:

“VAMPIRO! VAMPIRO! Detecto dois, confirmando, dois vampiros, direção 25 graus, velocidade Mach 0,9; altitude e RCS indicam míssil antinavio provavelmente um C-802”

O comandante Chris Gilbertson, capitão do Mason com certeza se lembrou do que aconteceu com o Swift alguns dias antes, e imaginou que DOIS C802 estragariam o dia de sua tripulação. Bem, “not today” e o USS Mason tinha mais que quatro metralhadoras .50 para se defender.

ussmason

Segundo o procedimento ele comandou Postos de Combate, e o sistema de radar Aegis, que normalmente fica em prontidão ou baixa potência, foi acionado ao máximo: 6 megawatts de energia criando uma bolha rastreando tudo em um raio de centenas de quilômetros.

Em uma guerra de verdade ele ativaria as defesas no automático, o computador identificaria e neutralizaria tudo que fosse remotamente hostil, mas o Mason estava em uma das águas mais navegadas do mundo. Afundar um cargueiro da Libéria ficaria feio nos jornais, e ninguém quer repetir a cagada (não tem como amenizar com H essa) quando o USS Vincennes derrubou por engano um Airbus da Iran Air.

As defesas deveriam ser precisas e pensadas. Felizmente o Mason levava em seu arsenal o ápice da tecnologia criada justamente para lidar com esse tipo de ameaça: os Mísseis Anti-Navio da Guerra Fria.

A primeira arma usada foi o RIM-66 SM-2, o Standard Missile Modelo 2 como a Marinha gosta:

standard_missile

O lançador duplo do USS Mason disparou os dois mísseis, que depois de um ou dois segundos de ascenção vertical giraram 90 graus e seguiram em direção ao alvo, guiados pela posição e direção indicados pelo computador do navio. Mais ou menos assim:


bdrickards89 — USS Lake Erie SM2 launch

O SM-2 viaja em direção ao alvo a Mach 3,5; enquanto isso recebe correções de curso e usa o reflexo do radar do sistema Aegis para refinar a trajetória. Foi a primeira vez na História que um SM-2 foi usado contra o alvo que havia sido projetado para interceptar.

Quando o computador indicou que a solução de alvo de um dos dois mísseis não era 100% garantida, o Mason lançou um RM-162 ESSM Evolved SeaSparrow Missile, projetado para interceptar mísseis supersônicos.

Não era o caso do C-802, mas dado o tempo ficando curto, melhor um míssil rápido do que um lento, e voando a Mach 4+ o ESSM é quase tão rápido quanto más notícias.


NavyRecognition — ESSM - Evolved SeaSparrow Missile - Raytheon

Caso tudo desse errado, o USS Mason ainda tinha seu CIWS Phalanx, apelidado pelos marinheiros de R2D2. Completamente autônomo, seu sistema de radar identifica o alvo indicado, calcula ângulo de deflexão, dispara uma rajada, compara a trajetória dos projéteis com a calculada, efetua correções, dispara de novo e continua até o alvo ser neutralizado ou ficar sem munição.

Enquanto isso o que quer que vá em direção ao alvo tem que enfrentar uma chuva de 4.500 projéteis de 20 mm. Por minuto.


Gung Ho Vids — CIWS Shoots • Radar Guided Gatling Gun In Action

Mesmo assim o Phalanx é uma arma de último recurso, e o Comandante Gilbertson ainda tinha uma arma na manga: o Nulka.

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Fruto de um projeto conjunto EUA/Austrália, o Nulka é um chamariz ativo. Em essência é um foguete que paira na vertical (chupa Musk, chupa Bezos) e quando lançado voa para uma posição algumas centenas de metros distante do navio. Ele então começa a transmitir uma assinatura de radar suculenta, maior e mais nítida que a do próprio alvo real.

Mísseis são programados para em formações escolher os maiores alvos, isso elimina a chance de reflexos de chamarizes passivos (ui!) e na melhor das hipóteses, melhor afundar um porta-aviões do que um saveiro.

Os relatos iniciais eram de que os mísseis haviam caído no mar, agora é evidente que foram “caídos”. Se foram os SM-2 ou o Sea Sparrow, dificilmente saberemos. No momento há duas certezas.

A primeira é que os marinheiros do USS Mason voltarão para casa com um monte de histórias para contar, e isto aqui no uniforme:

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É a fita de ação em combate, outorgada a praças e oficiais que viram a situação ficar preta.

A outra certeza, bem, é que não vai ficar por isso mesmo. A declaração oficial do Pentágono foi:

Vamos descobrir quem fez isso e tomar atitudes de acordo. Qualquer um que coloque navios da Marinha dos EUA em perigo o faz por sua conta e risco”.

Recado tá dado.

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