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Emissora suíça troca câmeras por repórteres com iPhones e paus de selfie

Emissora de TV suíça dispensa câmeras profissionais; repórteres de campo passam a cobrir notícias com um kit composto por iPhones 6 e paus de selfie

8 anos e meio atrás

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A maioria dos canais de mídia tradicional ainda operam como se estivéssemos nos anos 1960, quando muito. Isso se aplica a todos os setores, dos jornais impressos a emissoras de rádio e TV. Incapazes de entender que o mundo evoluiu e a internet não é um simples acessório, a tratam como uma opção que pode abarcar a mesma linguagem ou ser simplesmente menosprezada como uma modinha (ainda há quem acredite nisso), não tendo seu potencial aproveitado. Resultado, deixam de ganhar dinheiro.

Só que há o outro lado, o mergulho de cabeça em mar aberto sem salva-vidas. É preciso realizar estudos, avaliar opções, adaptar suas estratégias e criar novas linguagens de modo que não acabe com um pato nas mãos: um produto que faz um monte de coisas, nenhuma delas direito.

A consequência disso: executivos preocupados em economizar dinheiro e ao mesmo tempo inovar para se destacar acabam metendo os pés pelas mãos. Um bom exemplo disso foi o que o Chicago Sun Times fez alguns anos atrás ao demitir todo o seu staff de fotojornalistas e entregar iPhones nas mãos de seus repórteres, como se fotografia profissional fosse algo que qualquer leigo faria. Hoje o jornal compra fotos de freelancers para a cobertura de grandes eventos, o resto os repórteres que se virem. Ele basicamente virou o Clarim Diário.

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Repórter da Léman Bleu em ação

Agora uma emissora de TV suíça tomou uma decisão parecida. Em um movimento que alguns macfags veem como “revolucionário” (eu não estou inventando), a Léman Bleu forneceu kits de filmagem a todos os seus repórteres de campo durante o verão: um iPhone 6 e um pau de selfie. Os cameramen? Aparentemente rodaram, dada a declaração do diretor de jornalismo Laurent Keller:

É uma questão de portabilidade e receptividade, e também um meio de reduzir os custos das transmissões.”

Keller diz que a emissora pensou naquilo que deve ter ocorrido a você, que é a questão da qualidade. O executivo diz que o nível do iPhone não é drasticamente inferior ao de um equipamento profissional, o que justificaria se livrar tanto da aparelhagem quanto de um profissional qualificado para captar imagens externas. O repórter de campo agora que se vire, tendo que manusear um pau de selfie e se preocupar com outros fatores que não apenas olhar para a câmera. E nem estou falando de transmissões ao vivo, que adicionam uma camada adicional de complicações.

A Léman Bleu não está preocupada com uma ocasional queda na qualidade por não ter concorrentes na Suíça, mas nos Estados Unidos a história é bem diferente: em 2013 uma afiliada da Fox tentou uma estratégia “inovadora” para cobertura de campo, fornecendo iPads para que os jornalistas pudessem captar as imagens eles mesmos, além de serem encarregados de editar os vídeos. O resultado foi desastroso e o projeto foi cancelado.

Não é só uma questão de inovar a todo custo, é uma falta de respeito com profissionais que dedicam anos de estudo e ralam para captar imagens nas condições mais adversas, se vendo substituídos por uma vareta com um iPhone espetado só porque além de mágico ele é mais barato. Enfim, melhora para eles que eventualmente conseguirão empregos em lugares onde serão pelo menos reconhecidos. Quanto à emissora, vamos ver quanto tempo essa ação vai durar antes de perceberem que fizeram caca.

Fonte: Le Temps (em francês).

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