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Roberto Carlos e Ana Carolina — quem diria, a Velha Guarda

Pelo visto proibir projetos como o 366 Músicas não é o suficiente. Agora artistas estão indo atrás de sites de cifras e letras. Isso mesmo, Roberto Carlos não quer que você LEIA as letras dele. Ouvir, pelo menos por enquanto ainda está autorizado.

9 anos atrás

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Imagem meramente ilustrativa fruto de uma busca absolutamente aleatória.

Imagine que você gostou de um filme. Viu diversas vezes vezes, sabe falas inteiras de cabeça… passa o fim de semana inteiro com o DVD no autoreplay. Chega segunda você espera ansiosamente o recreio e entre uma coxinha e uma groselha, conta aos amigos, em detalhes tudo sobre Emmanuelle IV.

No meio do filme um grupo de advogados ninjas invade a quadra, mata todos os seus amigos e diz:

“Isso é só um aviso! Nós detemos os direitos autorais sobre o filme e você não está autorizado a recontá-lo.”

É o que acontece com letras e cifras de músicas. As pessoas montam sites com letras, tiram cifras no violão, distribuem, colaboram, executam as canções que a gente quer ouvir, às vezes de forma legal, às vezes bem ruinzinho, mas é assim que se aprende.

Não mais. Ressuscitando a velha briga contra as revistinhas de cifras, Roberto Carlos e Ana Carolina entravam com representação legal contra o Cifra Club e o Letras.mus, exigindo a retirada de várias músicas do acervo. Note, por músicas entenda-se letras e cifras, o que não é nem uma partitura, muito menos uma cópia da versão dos músicos.

Dody Sirena, advogado do Roberto, declarou inacreditavelmente:

“Algumas letras têm peso comercial, como Esse Cara Sou Eu. Não temos interesse em disponibilizá-la. Isso é um negócio, não é questão de censura.”

Eu pergunto: tenho cara do irmão retardado da Hellen Keller? Ou estou correto ao imaginar que qualquer um com um bloquinho, uma caneta e um gravador K7 consegue “piratear” uma letra? Eu não consigo, é uma deficiência minha, mas há gente que decora letra de música. Será que isso é um inconveniente? Então o Rei deveria distribuir com seus LPs um desses:

will smith neuralizer

O mercado de licenciamento de música é um inferno, uma zona, um bataclã. Muitas vezes episódios de séries são reeditados em DVD sem as músicas que foram ao ar, o licenciamento para DVD é caro demais. Dependendo do caso a série não passa em outro país pois as músicas não estão licenciadas, e complica mais ainda quando mais de uma empresa detém o licenciamento.

São regras arcaicas incapazes de lidar com um mundo moderno conectado.

No caso das letras e cifras estão exigindo a retirada de algo que qualquer um com ouvidos funcionando consegue sozinho. Os únicos prejudicados são os fãs, que precisarão de mais trabalho para conseguir tocar e cantar as músicas de seus ídolos.

Não sei realmente qual valor comercial uma letra de música teria, em um país com 200 milhões de habitantes e a grande maioria deles capaz de ouvir a música e ENTENDER a letra. Ana Carolina diz que se preocupa com a qualidade das cifras, e que até disponibiliza algumas.

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Pode isso, Arnaldo?

Poxa, será que um adolescente dedilhando um violão, trocando o Ré Bemol por um Sustenido é tão terrível assim? Eu entendo o desejo de controlar a própria obra, embora defenda que Han atirou primeiro, só que sem os fãs um artista não paga as contas. Subir num pedestal, ignorar as vítimas inocentes em nome de perfeccionismo ou “razões comerciais” é algo que soa muito mal.

O mais triste de tudo é perceber que, ao contrário do que dizem, um Rei pode perder a majestade, sim.

Fonte: Folha.

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