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É do Brasil! Continuamos campeões mundiais de raios

Aproveitando que está tempesteando direto em São Paulo, o INPE divulgou o relatório anual de morte por raios, e a terra da garoa gabaritou como sempre. Se você não quer virar esse tipo de estatística, convém dar uma lidinha…

9 anos atrás

Lightning2

Pára-raios salvam vidas.

Normalmente quando a gente estuda a ciência por trás de um fenômeno tende a se familiarizar, mas no caso dos raios aconteceu o oposto. É uma área que quanto mais aprendo mais tenho medo. Não de trovão, isso é bobagem. O medo é saber que se estiver no mar no meio de uma tempestade eu vou ser atingido. Se estiver em um descampado, vou ser atingido e se correr para debaixo de uma árvore, idem.

E ser atingido significa uma nuvem com uma carga elétrica altíssima, interagindo com o solo até que a diferença de potencial seja tão grande que canais de baixa condutividade se formem no ar. Aí entra em ação o Eletromagnetismo, uma força ordens de magnitude mais forte que a gravidade.

Todos os corpos possuem carga elétrica, na maioria das vezes está equilibrada. Quando essa diferença aumenta um pouco, tomamos um choque eletrostático. A fagulha que você vê saltando da maçaneta pra sua mão em essência é o mesmo que um raio.

Quão forte pode ser essa diferença de potencial?

Digamos assim: se conseguíssemos tirar toda a carga positiva de 1 cm² da traseira do Ônibus Espacial, a atração eletromagnética entre ela e a base de lançamento seria tão grande que mesmo com os motores principais E os foguetes auxiliares ligados, ele não conseguiria decolar (fonte: NDT).

Agora imagine uma nuvem de tempestade, das grandes, pesando 1,1 milhão de toneladas (fonte). Lembra do choque na maçaneta? Extrapole.

Melhor ainda, assista isto:

FunnyOnYT — Close Up Lightning Strike Compilation!

O resultado é que filamentos dentro da nuvem começarão a se formar, correntes potenciais de 30 mil ampères tatearão pelo ar até que a resistência não consiga isolar a nuvem do solo. CONTATO! Um canal estará formado e um fluxo elétrico na casa dos gigawatts descerá, aquecendo o ar a uma temperatura de 50 mil kelvin. A temperatura da superfície do Sol é de 5.800 K.

Isso gera ondas de rádio, luz, raios-gama e, como se descobriu recentemente, até antimatéria.

O ar tentará se expandir, mas isso acontecerá tão rápido que ele atingirá velocidade supersônica. O que você chama de trovão é um tubo de ar de quilômetros de altura se expandido mais rápido que uma bala.

Quando o raio atinge o chão, se o solo for de terra macia ou areia, ele continua seu caminho, derretendo a areia e formando tubos de vidro chamados Fulgurita:

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Se o raio atingir você, a carga percorrerá a superfície de seu corpo, procurando o caminho de menor resistência. Com a carga se dividindo em padrões fractais a pele vai ficando marcada com as chamadas Figuras de Lichtenberg, que são estranhamente bonitas:

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Isso claro é o Melhor Cenário, com um raio caindo próximo mas não direto, a eletricidade tendo caminho fácil de saída… Na vida real é muito mais provável que você morra ou tenha surdez permanente, sofra amputação das extremidades carbonizadas por onde o raio saiu (sim, por lá também) e uma parada cardíaca não está fora do cardápio.

Agora a boa notícia: o Brasil é campeão mundial de raios, raios duplos, raios triplos, todos os tripos. São mais de 50 milhões por ano. E internamente o Sudeste sai na frente.

Segundo o relatório 2014 do Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE em 2014 foram 98 mortes por raios no Brasil, os Estados com mais mortes foram:

  • 17  - São Paulo
  • 16 - Maranhão
  • 7  - Piauí
  • 6 - Amazonas
  • 6  - Pará

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Os dados vem sendo acumulados desde o ano 2000 e de lá pra cá já foram 1.792 mortes. São Paulo é campeão absoluto com 288 fatalidades, Rio de Janeiro vem em segundo com 132. RS leva bronze com 130.

Pra dar idéia de como está feia a coisa, este é o mapa de raios em tempo real:

Screenshot - 02_02_2015 , 18_05_47

Ok tecnicamente é uma imagem do mapa de raios em tempo real.

Se você sentir cheiro de ozônio no ar, perceber que o tempo está fechando, ouvir trovões ao longe, abrigue-se. Não dê sorte ao azar. Abrigue-se em um carro, Faraday te protegerá. Estações de metrô também são uma boa. Na falta, procure um prédio ou estrutura protegidos, fique longe das janelas.

Pode ser uma escola, um shopping, ou até mesmo uma igreja, mas nesse caso evite as que não têm fé em pára-raios.


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Fonte: INPE.

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