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Criador do Rocket assiste sessão exclusiva de Guardiões da Galáxia

Bill Mantlo, criador do Rocket e um dos melhores roteiristas que a Marvel já teve assiste Guardiões da Galáxia na clínica em que está internado desde 1992

9 anos e meio atrás

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Fato: a Disney está enchendo as burras de grana com Guardiões da Galáxia (alías, já leu a resenha?). De longe o filme era a aposta mais arriscada do Marvel Cinematic Universe, principalmente por se focar em personagens absolutamente desconhecidos do grande público e um tanto obscuros mesmo para quem lê quadrinhos. No fim a película se mostrou não só o melhor filme da Marvel até agora como um dos mais divertidos dos últimos anos: uma aventura que diverte, emociona e traz conteúdo, não sendo nem de longe descerebrada. E mais, conseguiu gerar empatia no público por personagens que até então ninguém nem sabia que existiam, principalmente Rocket e Groot.

E a Marvel resolveu dar um presente justamente ao co-criador do guaxinim desbocado e beberrão: Bill Mantlo ganhou uma sessão exclusiva do filme, já que ele não poderia de forma alguma se dirigir ao cinema para assistí-lo.

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Mantlo é seguramente um dos melhores roteiristas que os quadrinhos já tiveram. Tendo começado sua carreira em 74 na Marvel como um mero colorista, não demorou muito para que ele mostrasse sua habilidade em contar histórias, quando escreveu um script de uma história dos Filhos do Tigre em 1975. A partir daí conseguiu se firmar como roteirista, escrevendo em diversos títulos como Homem-Aranha, Manto e Adaga, Homem de Ferro, Tropa Alfa, Demolidor, X-Men, Os Defensores e etc., e dividiu a co-autoria do personagem Rocket Raccoon com Keith Giffen, um dos criadores do Lobo, "o maioral". Mantlo e Giffen admitiram tempos depois eles criaram o nome e a personalidade de Rocket baseados na música Rocky Raccoon dos Beatles.

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Bill Mantlo é geralmente lembrado por sua passagem em dois títulos envolvendo linhas de brinquedos: no Natal de 1977, ao ver que seu filho ganhou de presente bonecos da linha conhecida como Micronautas, ele se sentiu imediatamente inspirado a escrever histórias sobre os bonecos. Com isso ele convenceu o então editor-chefe da Marvel Jim Shooter a conseguir a licença para produzir os quadrinhos que ele queria escrever, resultando nessa série (laureada com o Eagle Award em 1979) e na de Rom: O Cavaleiro Espacial, que era conhecida aqui principalmente por vir encartada nas revistas do Incrível Hulk. Autores como Frank Miller passaram pela revista, que durou 75 edições.

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Entretanto sua passagem pelo Hulk foi a mais emblemática de todas, e frequentemente Bill Mantlo é considerado o melhor escritor que o Golias Esmeralda teve em toda a sua história. Aliado ao traço marcante de Sal Buscema, que transformou o personagem em uma besta que pouco lembra um humano (talvez sua melhor caracterização até hoje), Mantlo definiu que o Hulk não é uma maldição de Bruce Banner criada como punição por brincar com bombas, mas uma parte dele mesmo da qual ele nunca poderá se livrar: ele é a manifestação física de todo o ódio, amargura, frustrações, decepções e sentimentos negativos que Banner reprimiu uma vida toda, dentro de uma psique prestes a explodir. A bomba gama não criou o Hulk, ela só deu forma física ao que já existia dentro de Banner.

Mantlo escreveu aquela que é considerada a melhor saga do Hulk de todos os tempos: A Encruzilhada (cujo encadernado nunca saiu aqui. Ô dona Panini!). Ao ter sua mente manipulada por Pesadelo, Banner se fecha dentro da psique do Hulk, que perde totalmente o controle e é jogado pelo vilão contra seu maior desafeto, o Dr. Estranho. O mago supremo então exila o monstro num nexo de dimensões como forma de evitar que ele ferisse ou fosse ferido por alguém, já que sua fúria era incontrolável e desmedida. Na Encruzilhada, o Hulk poderia ir para qualquer realidade que quisesse e voltar para o ponto inicial sempre que desejasse ou se uma dimensão não lhe agradasse. Contudo, nenhum dos caminhos o levaria de volta para casa.

Na série Mantlo brincou com a própria concepção do Hulk, definindo-o como uma criatura nem boa nem má, apenas um ser incompreendido que sequer sabia o que ela própria desejava. Foi aqui também que vimos o quão fraturada era a mente de Banner, que lutava para recuperar o controle e não perder a sanidade, tentando guiar o monstro inconscientemente através da chamada tríade, personificações dos instintos mais básicos do Hulk (todos originados de traumas da infância de Banner, de onde vem boa parte de seu ódio reprimido), que aqui era pouco mais do que um animal.

Bill Mantlo, que chegou a trabalhar como defensor público depois de se afastar dos quadrinhos (por melhor que fosse, ele via nas HQs um meio de conseguir dinheiro para estudar direito, tanto que depois que entrou para a universidade seu ritmo de produção diminuiu bastante) teve um destino trágico: em 1992, ele foi atropelado por um motorista que não prestou socorros, sofreu traumatismo craniano e permaneceu em coma por semanas. Ele se recuperou mas sofreu danos cerebrais irreparáveis, e por isso ele necessita de cuidados médicos constantes. Desde então ele vive no Centro de Reabilitação e Enfermagem Nassau no Queens, em Nova York.

A Marvel por anos se recusou a auxiliar no tratamento do ex-roteirista, mas nos últimos tempos (e talvez por influência da Disney) ela finalmente está custeando parte de suas despesas médicas como também reconheceu os direitos que ele tem por seus "filhos" (ele é justamente creditado pela co-criação de Rocket nos créditos de Guardiões). E mais: como seu estado impossibilitava que ele se deslocasse para ver o filme em que seu personagem brilha, a Marvel levou uma cópia digital até a clínica e realizou uma sessão exclusiva para Mantlo, acompanhado de seu irmão Michael que disse o seguinte no Facebook:

Bill adorou o filme e deu sua maior aprovação (um grande polegar pra cima), e quando os créditos começaram a rolar seu rosto expressou o maior sorriso que eu já vi nos últimos anos (junto com uma ou duas lágrimas de alegria)! Foi o melhor dia dos últimos 22 anos para mim, nossa família e principalmente, para Bill!

UPDATE: como as custas do tratamento de Mantlo são altas (mesmo com a Marvel ajudando), o ex-roteirista tem sido ao longo dos anos ajudado por amigos que revisitam suas obras, e quando possível juntam uns trocados com vendas beneficentes e campanhas de doações para que seu tratamento permanente seja mantido. Todos sabemos, saúde nos EUA não é gratuita e Obama está passando pelo inferno para mudar isso. Quem quiser ajudar pode realizar uma doação em nome de seu irmão e guardião legal Michael através deste link. Mesmo que a doação seja pouca, ele e Bill Mantlo agradecem.

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