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Chatbot é o 1º supercomputador a passar no Teste de Turing. Sério?

Desculpa aí, gente, mas não foi dessa vez que um (super)computador ganhou senciência e passou no Teste de Turing. Era apenas um chatbot, uma “brincadeira” que pegou muita gente.

10 anos atrás

dt

Spoiler: não.

Inteligência Artificial é uma pedreira. Nos velhos tempos achava-se que era só uma questão de adicionar poder de processamento, mas assim como Ruby, inteligência artificial não escala. Mesmo assim dá pra dizer que temos, sim, inteligência artificial. Hoje um computador consegue decolar, voar e pousar um avião melhor do que 99,999% da Humanidade.

Sistemas elétricos são continuamente monitorados e balanceados, transações financeiras ocorrem tão rapidamente que os servidores são instalados fisicamente próximos às Bolsas de Valores, para não perderem nanossegundos preciosos. O Kinect aprendeu “sozinho” a reconhecer pessoas. O controle de estabilidade em um carro moderno transforma qualquer zé ruela tipo a gente no Stig. 

Mesmo assim não chamamos esses computadores de inteligentes. É um erro. Eles são inteligentes, o que não são é sencientes, para usar um termo cunhado por Star Trek. Eles não têm noção da própria existência, não possuem consciência. No máximo fingem.

Aí entra o Teste sugerido pelo matemático inglês Alan Turing. Representado no cinema em Blade Runner pelo Teste Voight-Kampff, o Teste de Turing apresenta um cenário onde uma pessoa interagiria através de um teclado com uma entidade, e se depois de um determinado tempo não pudesse determinar se a entidade era outra pessoa ou não, então ela seria considerada inteligente.

O problema do teste é que não exclui a entidade que FINGE ser inteligente, e é isso que os softwares atuais fazem.

A mídia está ensandecida hoje anuciando que “um supercomputador” passou no Teste de Turing, o que não é verdade.

Primeiro, não foi um supercomputador, foi um chatbot chamado Eugene Goostman, criado em 2001 por dois russos e um ucraniano (imagino que hoje role um certo climão entre eles).

Chatbots não são novidade. O primeiro deles, criado em 1966 foi o ELIZA, tão popular que tinha versão até pra CP-500. Lembro de ter portado uma dessas para o ZX Spectrum e era emocionando “conversar” com o computador.

Esses softwares simulam conversas, fazem análise de texto (ao contrário de comentaristas de YouTube) e dentro do razoável compreendem contexto. Sim, Siri e Cortana são o estado da arte dessa tecnologia, ao menos no que tange aplicações comerciais. Watson, da IBM é a versão “à sério”, o cérebro por trás e capaz de efetivamente entender do que está falando, mas ele, ironicamente não fala.

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O “teste” alardeado é pouco mais que uma brincadeira. Eugene teria convencido 30% dos juízes, mas as regras foram pra lá de abusadas. Pra começar “Eugene” foi apresentado como um garoto ucraniano de 13 anos, desculpando eventuais incompreensões de idioma. O tempo de conversa foi restrito a 5 minutos, nos quais o juiz conversaria com um humano e uma máquina. 

Outros problemas: os 33% de sucesso não são nada extraordinário. EM 1991 um software chamado PC Therapist III convenceu 50% dos juízes de que era um humano. Em 2011 o Cleverbot chegou a enganar 59% dos juízes, e nem por isso foi tratado como o novo HAL-9000.

Humanos enganados por bots não são novidade, o chat do UOL está cheio de gente assim. Inteligência, senciência é algo bem mais sutil, talvez impossível de definir, e aqui cabem as palavras do Juiz Potter Stewart, que em um caso em 1964 teve que determinar se um material era pornográfico ou não.

“Não vou tentar definir o que é [material pornográfico], mas eu sei que é quando eu vejo!”

Afinal, um computador que finge ser humano é só um truque de salão. Extraordinário será o dia em que um computador souber que é um computador.

Fonte: BF.

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