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Montar seu smartphone como Lego? Não vai acontecer...

Limitações práticas inviabilizam o projeto que prometia ser a solução para a obsolescência programada.

10 anos e meio atrás

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A essa altura do campeonato você já deve ter assistido o vídeo da campanha promocional do Phoneblok, um design modular para construir smartphones, criado pelo holandês Dave Hakkens, na pegada de encaixar peças Lego. A ideia é que você possa customizar sua experiência, com mais ou menos recursos, trocar a tela caso um novo display apareça no mercado, novo processador, novo módulo Wi-Fi, memória e assim por diante, evitando que você jogue fora um aparelho inteiro quando precisar trocar uma ou outra peça.

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Parece interessantíssimo, certo? Pois é… Odeio ser o portador de más notícias, mas é muitíssimo improvável que este projeto saia do papel. “Será que o design com princípios dos blocos de montar poderia mesmo ser aplicado aos smartphones?” foi a primeira pergunta que surgiu na minha cabeça. A mesma coisa aconteceu com John Brownlee, que escreve para o Co.Design.

John conversou com o autor do projeto, que admitiu que sua construção é inviável, mesmo nos próximos 10 anos de evolução tecnológica. Hakkens não deu maiores detalhes sobre os motivos que fizeram com que ele chegasse à essa conclusão, mas nós mesmos podemos extrapolar os motivos com um pouco de curiosidade.

Veja: o conceito do Phoneblok consiste em uma placa principal com várias conexões na qual o proprietário possa encaixar a bateria, tela, processador, memória, câmera e todos os módulos que ele quiser e que couberem, como alguém troca uma memória de uma placa mãe. Mas esta ideia ignora um monte de problemas práticos.

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Existem boas razões para que os smartphones sejam integrados: engenheiros trabalham duríssimo para conseguir que os componentes conversem entre si em velocidades inimagináveis. Cada milímetro de distância entre eles vem acompanhado de um ganho ou perda de velocidade. Tente, por exemplo, conceber a ideia de um processador A7 - o mesmo do iPhone 5s - com instruções de CPU, gerenciamento gráfico e RAM, tudo espremido em uma bolacha wafer.

Mesmo para manter tudo isso separado em módulos, seria necessário desenvolver conectores ultra-rápidos, com pinos de metal padronizado para todos os blocos, que custariam uma fortuna. Eles precisariam ter protocolos que permitissem a comunicação entre soquetes da CPU, GPU, RAM, unidades de armazenamento e recursos de rede, mantendo esta velocidade.

Vê? Na realidade, utilizando o que conhecemos hoje, o resultado seria desastroso: um dispositivo lento, que consome muito mais bateria e precisaria triplicar seu espaço físico.

Infelizmente os Phonebloks não são o futuro. Imagino que todos nós nos sentimos um pouco culpados quando trocamos nossos gadgets ao vermos que eles se tornaram “obsoletos(sim, com aspas). E adquirimos outro produto que custa centenas de reais ano após ano.

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Vender seu celular antigo, por um preço bom, também ajuda a dar uma aliviada nesta pseudo-culpa. Aliás, acho que foi por isso que o vídeo do produto viralizou: algo que pudesse dar fim a esse sentimento seria muito bem vindo.

Mas a ideia do smartphone modular pode nos confundir e propor uma esperança que, infelizmente, não se traduz em realidade quando aplicamos os conceitos práticos por trás da construção de um equipamento como este.

Convido vocês pra entrar em um outro ponto de vista agora: Na década de 1960, o co-fundador da Intel Gordon Moore disse que à cada dois anos, o clock do processador dobraria. E ele estava certo. Anos mais tarde ele disse que esta sua concepção, nomeada Lei de Moore, não era uma previsão, e sim uma meta. Talvez o Phoneblok seja isso: Não uma previsão, mas uma meta.

Por enquanto, este projeto é o sonho de um designer, mas o pesadelo de um engenheiro.

Fonte: Co.Design.

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