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Tio, que câmera eu compro?

Um pequeno desabafo sobre a importância excessiva dada a equipamentos em detrimento ao olhar e à sensibilidade na fotografia contemporânea.

10 anos e meio atrás

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O e-mail que mais recebo aqui no Meio Bit é em relação a indicação de equipamentos. Qual a melhor câmera, qual a melhor lente e qual o melhor custo benefício. Na mesma vertente de assunto também temos as infinitas discussões sobre qual marca é a melhor, qual câmera é a melhor e em qual lente devemos investir dinheiro. Nesse ponto entram os xiitas na discussão defendendo seu equipamento com unhas e dentes. E, para finalizar, temos o sujeito que é viciado em comprar equipamentos e nunca está satisfeito, pois acha que isso vai ser o diferencial em sua fotografia. Tudo isso que acabei de falar é resultado da explosão da fotografia digital e toda a revolução que ela trouxe. Pessoas tiveram acesso a equipamentos e tecnologia, mas poucos aprenderam realmente qual é o ponto principal da questão.

Sempre faço uma brincadeira com meus alunos quando vou falar de equipamentos fotográficos. Mostro várias fotos e pergunto se todos concordam que a qualidade técnica das imagens está boa. Depois dessa concordância eu pergunto se conseguem distinguir qual equipamento ou lente foi utilizada em sua produção. Ninguém foi capaz até hoje de identificar equipamentos vendo as fotos. E nesse bolo de imagens mostradas tenho fotos feitas com todos os tipos de equipamentos, inclusive feitas com filme fotográfico e digitalizadas a partir do negativo. Então temos que concordar que equipamento não é sinônimo de boas fotos. Sempre conto também a história de uma amiga que fazia imagens belíssimas com uma Mitsuka de 1,3 megapixels, coisa de deixar todos os marmanjos com suas reflex caríssimas com vergonha. Mas, então por que a coisa está tão deturpada? Por que é tão importante ficar focado em megapixels e quantidade microscópica de ruído nas imagens. Por que dar credibilidade excessiva a testes de laboratório que classificam equipamentos em fatores que só podem ser medidos com testes apurados?

Provavelmente tudo isso se deve a um grupo de fatores. Temos o marketing dos fabricantes que nos levam a comprar cada vez mais, temos a insegurança de quem está começando (e de alguns que já estão nesse caminho há muito tempo) e que acham que o equipamento vai suprir esse vazio, e também temos a concepção de que fotografia é apenas uma câmera, o que explica a quantidade gigantesca de novos profissionais sem nenhuma qualificação entrando no mercado. Quando falo em qualificação não estou falando apenas dos aspectos técnicos da fotografia (que alguns dominam até chegar a perfeição), mas da alma da fotografia. Quando estava na faculdade, uma das discussões da aula de psicologia era se o ser humano nascia com algum tipo de dom ou se tudo era construído pela sua interação com o meio em que vivia. Hoje tenho plena certeza que todos possuímos as mesmas capacidades e podemos aprender, basta termos o estímulo, a vontade e a intenção de evoluir e aprender. O seu dom é você quem faz, e fotografia tem muito mais a ver com alma do que com equipamento. Estude arte, visite museus, vá ao cinema,  ouça música, se inspire nos grandes mestres da pintura e tente trazer para o seu trabalho toda essa overdose de cultura. Seja um fotografo artista e não simplesmente um fotógrafo comercial apertador de botão. Tente alcançar o seu potencial. Mesmo que seu objetivo seja a área comercial, com tudo isso você vai se destacar e seus clientes vão te agradecer.

Sei que isso é complicado. Conheço muitos fotógrafos medíocres que se acham os donos da verdade e possuem a firme certeza de que não precisam aprender mais nada. Sinais do egoísmo de nossos tempos, mas a única certeza no caminho de um fotógrafo/artista é que sempre existe mais um pouco a se aprender e evoluir. Me considero eternamente um aprendiz a procura de mestres que possam compartilhar o seu saber. Da mesma forma, estou sempre disposto a ensinar o que sei. É dessa forma que nos transformamos.

Uma câmera profissional com lentes top de linha são desejáveis? Sim, claro, mas não são imprescindíveis. Equipamentos mais avançados e com melhor qualidade trazem conforto para sua fotografia, mas são apenas ferramentas. Não vão adiantar nada se as mão que as seguram não possuem conhecimento e sensibilidade. Seu cérebro faz a fotografia e não a câmera. Se entupa de cultura, arte e conhecimento. Depois, somente depois,  invista em equipamento.

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