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Coréia do Norte avisa que VAI lançar um ataque nuclear contra os EUA. Há defesas?

Estados Unidos estão ao alcance dos mísseis norte-coreanos: como Washington se defenderia de Pyongyang?

11 anos atrás

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A Coréia do Norte, a FEMEN das relações internacionais anda inquieta. Fizeram num mesmo ano um teste nuclear e um lançamento de um ICBM disfarçado de lançador de satélites, e antes que venham dizendo que os malvados americanos estão boicotando o programa espacial pacífico coreano, lembre-se que eles mesmos anunciaram depois do teste que agora os EUA estão ao alcance de seus mísseis, e que poderiam apagar os EUA da face da Terra.

Essa retórica apocalíptica é comum quando a fome aperta e precisam de MAIS doações de alimentos da ONU, mas ultimamente as ameaças estão se tornando mais sérias. A ONU está para votar um aumento de sanções contra o país, justamente por terem continuado a produzir armas nucleares e meios de lançamento, coisa proibida pelo último acordo.

Em resposta a Coréia avisou em um comunicado que não concorda com os exercícios anuais entre as marinhas dos EUA e da Coréia do Sul que se eles continuarem, irão cancelar o Armistício, voltando ao estágio de guerra, tratando os navios das duas nações como “alvos”.

Para piorar, disseram que como os EUA querem iniciar uma guerra nuclear na Ásia, irão se defender realizando um ataque preventivo:

“Agora que os EUA decidiram acender o pavio da guerra nuclear, as Forças Armadas Revolucionárias da Coréia irão exercer o direito de um ataque nuclear preventivo para destruir as fortalezas dos agressores e defender os supremos interesses do país”

Simples assim. Também falam de transformar Seul e Washington em um oceano de fogo, bla bla bla. A questão é: Eles podem?

Sim e não.

Em essência, não devem. Primeiro, se uma bomba coreana cair em território americano, mesmo Porto Rico, em menos de 10 minutos um dos submarinos balísticos classe Ohio na costa da Coréia do Norte lançará um Trident, com 5 ogivas W88, cada uma com 475 quilotons de poder destrutivo.

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Ogivas independentes, parte de um míssil Peacekeeper

O equivalente a 5 meteoros russos vaporizará Pyongyang, e quando esfriar os Marines chegarão para pintar as faixas do maior estacionamento do mundo.

“O míssil pode ser interceptado?”

Depende. Durante a Guerra Fria muita pesquisa foi feita para isso, as idéias chegavam ao ponto de prever detonações nucleares na alta atmosfera para confundir os misseis inimigos, com isso criou-se um jogo de gato-e-rato onde foguetes nucleares eram dotados de diversas contra-medidas, como balões laminados para gerar imagens falsas de radar, geradores de ruído eletrônico e ogivas múltiplas de reentrada (MIRV) que em grande altitude se desprendem, mudando de direção para atingir alvos isolados.

O mais seguro era interceptar o míssil na fase de lançamento. O YAL-1 Airborne Laser era um projeto onde um 747 modificado levaria um laser químico com potência de 1 MW ou mais, e destruiria mísseis na fase de lançamento. Em teoria ele seria capaz de destruir um ICBM decolando a 600 km de distância.

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“pew pew pew”

Legal, mas na prática o raio era instável, manter os tanques de substâncias químicas altamente venenosas e reativas era um inferno, e o avião precisaria estar no lugar certo na hora certa, complicado mesmo se os EUA tivessem superioridade aérea na região, o que nem sempre é o caso.

O melhor sistema que os EUA possuem é o Ground-Based Midcourse Defense (GMD), projetado para interceptar os mísseis ainda no espaço. Lançado na administração Clinton, o projeto usa um projétil cinético, ao contrário de um explosivo.

A explicação é simples: Nas velocidades envolvidas explosivos são inúteis. Um ICBM na fase espacial do vôo está se movendo a 7 km/s, ou 25 mil km/h. Se você detonar uma carga de TNT a 1 mm do míssil, ele não será atingido. A velocidade de explosão do TNT é de 6,9 km/s.

Nessas velocidades até um travesseiro da Hello Kitty é mortal para um míssil, o essencial é acertar, e isso demanda muita, muita, muita matemática. E sorte.

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Um dos mísseis do GMD

Embora esteja certificado e em uso, o histórico do sistema não é dos melhores. Em 16 testes de interceptação, ele errou 8, e 50% de acerto não é aceitável, quando o número ideal de bombas nucleares explodindo em seu território é zero.

Há ainda uma última linha de defesa, a Marinha dos EUA, provavelmente depois de ler Tom Clancy equipou com mísseis SM-3 seus cruzadores Aegis. Projetados para interceptar ICBMs em fase final de vôo. são guiados ao alvo por radar,  mais próximos por infravermelho.

O sistema é impressionante, como podemos ver no teste bem-sucedido abaixo, mas mesmo nas estatísticas massageadas pelo Departamento de Defesa, conseguiram atingir 5 de 6 alvos. Em condições ideais.

O melhor sistema de defesa antimísseis hoje ainda é o A135 russo, usado no famoso anel em torno de Moscow. Usando da grosseria e praticidade que lhes é peculiar, os (então) soviéticos não se preocuparam com sutilezas. O antimíssil exoatmosférico tem a proposta do GDM americano, de interceptar o ICBM inimigo no espaço, mas ao invés de uma ogiva cinética, ele usa uma bomba nuclear de 10 quilotons.

Como se/quando um ICBM coreano for lançado em direção aos EUA ele será alvejado com tudo que Obama tem nas mangas, as chances de uma interceptação são bem altas, mas a menos que estejam escondendo o jogo e as tecnologias estejam bem mais avançadas do que se imagina, com tudo isso não dá para dormir 100% tranquilo.

A menos que você seja o Kim Jong Un, maluco não tem preocupação.

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