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Não conte para os alienígenas, mas todos os F-22 estão no chão desde maio.

Falhas nos caças F-22 obrigam pilotos a somente treinarem em terra, com simuladores. Em algumas aeronaves faltava até oxigênio.

12 anos e meio atrás

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Em 1981, antevendo o fim da vida útil de seus F-15 e F-16, os EUA lançaram um edital buscando um novo caça, que inauguraria a 5ª Geração da categoria. O projeto tinha exigências ousadas, como capacidade de supercruise, voando acima da velocidade do som sem uso de pós-queimadores, e ser totalmente invisível ao radar. Depois de muita briga, lobby, surbornos e festinhas proibidas para menores o projeto escolhido foi o da Lockheed Martin, que se tornaria o F-22.

O avião em si é magnífico, com propulsão vetorial consegue alterar a direção dos jatos da turbina, fazendo manobras impossíveis para qualquer avião mais antigo. Seu armamento é todo interno, a assinatura de radar mínima permite que ele invada impunemente qualquer espaço aéreo, e pode se comunicar com aviões-radar e outros F22 em volta através de um link de dados de 1 Gbit/s, coordenando automaticamente escolha de alvos, por exemplo.

O programa, como sempre nunca esteve livre de problemas. Com 1,7 milhão de linhas de código somente para o sistema de radar, é normal que o F-22 tenha bugs, mas alguns são piores que outros. Um piloto ficou preso no Cockpit depois que o computador se recusou a levantar a capota, a solução foi trazer uma serra e abrir um buraco no plexyglass.

Outro resultou num prejuízo bem maior: em 2004 durante uma decolagem um F-22 sofreu uma falha momentânea de energia, durante menos de um segundo os 3 conjuntos de sensores que medem aceleração angular da aeronave ficaram sem energia. O computador de vôo não conseguiu se recuperar e o subsistema entrou em loop. Foram US$ 150 milhões para o lixo, em um dos acidentes mais bestas da História da Aviação, vejam:


Karthikeyan Muthukrishnan — f22 plane crash in take off

Esse tipo de coisa é comum em qualquer projeto aeronáutico, mas a complexidade do F-22 torna os problemas bem mais complexos. A necessidade de inovação também. Infelizmente para o Capitão Jeffrey Haney, que em novembro de 2010 cessou contato com o controle de tráfego aéreo no Alaska e inexplicavelmente bateu em uma montanha.

Investigações mostraram que vários pilotos estavam reclamando de tontura, dor de cabeça e problemas com o sistema de fornecimento de oxigênio.

Em caças comuns desde a 2ª Guerra Mundial o sistema de oxigênio é a coisa mais simples do mundo: a clássica garrafa verde, ligada à máscara de vôo. Aí em 1983 resolveram inovar e inventaram o OBOGS - onboard oxygen generating system, um equipamento que retira e concentra oxigênio do ar, permitindo que o piloto voe quanto tempo quiser em grandes altitudes, sem se preocupar com falta do que respirar.

Na rabeira do acidente os F22 foram proibidos de voar acima de 25 mil pés (quando o teto de vôo deles chega a 50 mil), mas estudos mostrando que os pilotos estavam respirando anticongelante queimado, propano e outros compostos nocivos. A decisão em maio foi radical: toda a frota de 168 caças foi proibida de voar.

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Encontro de Gerações: um F22, um P38 e um F86

Agora, o grande problema: os pilotos precisam de treinamento constante. Simuladores de vôo ajudam mas não são a mesma coisa, é preciso estar lá em cima constantemente, do contrário não conseguirão manter o grau de prontidão necessário para comandar um caça de última geração.

Pior ainda: após 210 dias sem voar os pilotos precisam passar por todo o treinamento básico novamente. Isso deixará a frota inativa por mais tempo ainda. No momento já são 97 dias, e nada do problema com o OBOGS ser resolvido.

A lição é que não adianta ter a melhor tecnologia do mundo se ela não for 100% confiável. É necessário ter um Plano B convencional para sistemas críticos, por isso aviões ainda levam bússolas.

Também não existe isso de achar que um sistema testado continua testado quando usado em uma nova situação. É preciso testar de novo, certificar de novo, garantir que o sistema antigo não terá interações indesejáveis com os sistemas novos.

Do contrário quando os alienígenas chegarem só teremos pra nos defender o médico emo de E.R.

Fonte: Defense Tech.

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