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É feito com espelhos, parece magia, mas é tecnologia quântica

Cientistas criam luz através de complexos movimentos de espelhos minúsculos.

13 anos atrás

zpmAlguns dias atrás escrevi sobre um mega laser em desenvolvimento na Europa, que se tudo der certo romperá a estrutura do Espaço-Tempo transformando partículas virtuais em reais. Pois bem, um grupo de cientistas da Suécia, Japão, Austrália e EUA conseguiram algo semelhante, com meios bem menos dramáticos mas igualmente impressionantes.

Eles demonstraram pela primeira vez o Efeito Casimir Dinâmico. O efeito Casimir é uma leve (muito leve) força que surge entre duas placas metálicas extremamente próximas. É causado pela criação e aniquilação de partículas virtuais mescladas na estrutura do vácuo. É a fonte de energia dos módulos de Energia de Ponto Zero usados em Stargate Atlantis.

No caso do efeito dinâmico a teoria é que um espelho se movendo em velocidades relativísticas, ou seja, a uma fração relevante da velocidade da luz perturbaria o Espaço a ponto de refletir um dos fótons de um par de partículas virtuais, que estariam sendo criadas e aniquiladas todo o tempo.

Como graças ao movimento angular o espelho se moveria acima da velocidade da luz, não haveria tempo das partículas se atraírem e desaparecerem, uma seria estapeada para… a realidade.

Assim teríamos um espelho produzindo luz.

Problema é que não é simples criar algo assim. Um cálculo simples (pra eles) determinou que um espelho microscópico oscilando a uma frequência de 2 GHz, com deslocamento de um nanômetro produziria um fóton por dia, e exigiria 100 MW de energia mecânica para sua movimentação. Fora a temperatura, que teria que ficar abaixo de 20 miliKelvins. Inviável.

Felizmente há meios de se conseguir resultados equivalentes. O escolhido foi o SQUID. Não são as lulas malignas de Matrix, mas poderiam ser. É sigla em inglês de Dispositivo Supercondutor de Interferência Quântica. Funcionam como magnetômetros MUITO sensíveis, utilizando o Efeito Josephson.

Efeito Quem?

O Efeito Josephson é uma corrente elétrica que surge entre dois supercondutores separados por uma camada isolante, em temperaturas criogênicas. Uma das características é que a corrente é muito, muito precisa, por isso um de seus usos é padronização de unidades. Aqui algo que pouca gente já viu: Um Volt.

800px-NISTvoltChip

O chip acima (detalhes no paper aqui) foi projetado pelo National Institute of Standards and Technology, o INMETRO dos gringos, que pelo visto tem mais o que fazer do que criar tomadas. A estrutura do lado esquerdo é uma antena de microondas, ela alimenta 3020 junções Josephson, que retificam a energia recebida gerando uma saída de precisamente 1 Volt. O uso em calibração de dispositivos eletrônicos é imenso; o Laguna deve estar babando neste momento.

Só que não queremos medir voltagem, queremos interferir no circuito. Coisa, aliás, que é a base da física quântica e o Princípio da Incerteza de Heisenberg. Normalmente um incômodo, principalmente para a área de teletransporte, o ato de uma observação alterar o fenômeno observado aqui se torna crucial.

Dois SQUIDs em paralelo alteram o comprimento do circuito de indução, agindo como se você movesse o “fio” para frente e para trás. Isso tem o mesmo efeito de um espelho, só que é milhões de vezes mais rápido e mais simples de implementar.

O comportamento do circuito é bem simples, a dispersão dos fótons obedece a uma transformação de Fourier primária, que eu adoraria explicar mas estou sem espaço (colou?):

Snap147

Com o circuito resfriado em Hélio líquido, detectores de radiação eletromagnética começaram a apitar mostrando fótons de microondas surgindo onde antes não havia nada. Comparando a temperatura do circuito amplificador isolado e depois com o circuito gerador acoplado viram uma diferença de vários Kelvin, indicando que havia energia térmica ali.

Os gráficos bateram com as fórmulas, os fótons gerados não só obedeciam a princípios de pares de partículas, com ângulos e velocidades distintas, como sua frequência e energia eram bem dispersos, seguindo o modelo do vácuo:

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Hoje vejo que mais uma vez a 1ª Lei de Clarke continua valendo: “Toda tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de mágica”. Que o digam cientistas que produzem luz abanando espelhos.

Os detalhes do experimento podem ser lidos no paper original.

Via Twitter do Carlos Hotta.

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