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US$ 20 mi de multa se você vazar aquilo que vazar

WikiLeaks impõe multa por vazamento de informações vazadas, mesmo se acontecer pela própria fonte da informação.

13 anos atrás

Quem viveu, pode agora ver. Ou quase...

Os tempos em que acreditaríamos em organizações totalmente transparentes já estão escritos no passado. Hoje, vivemos a época da transgressão como viés para o esclarecimento e a justiça. Hmm-Hmm. Nem sempre - quase nunca agora - as coisas são bem assim.

É necessário que, além da vocação para transgredir, um veículo adequado possa dar suporte a isso. Foi exatamente aí que Julian Assange entrou com o WikiLeaks.

Algumas pessoas estão mesmo dispostas a dizer o que presenciam de disfuncional ao seu redor e, por razões óbvias, não querem se expor e nem correr o risco inerente das retaliações.

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Agora, perceba uma nova mecânica dentro dessa meta-atmosfera moderna de neo-justiça versus informações sensíveis: o veículo agora, mais do que a potencial injustiça a que se propõe denunciar, quer os direitos totais sobre a informação compartilhada.

"Mas a informação compartilhada não é de posse nem do leaker! Comofaz-Comofica?" - É aí que a porca torce o rabo.

Direitos de exploração podem até fazer bastante sentido do ponto de vista jurídico e econômico, mas vira um conundrum sem fim de conflitos, do ponto de vista que mais importa quando se fala no WikiLeaks: o de expor a irregularidade e proteger a fonte denunciadora.

O WikiLeaks acaba de anunciar através da complexa pessoa de seu fundador que vai lhe multar em US$ 20 milhões se você vazar para mais alguém aquilo que você vazou para o WL. Está achando esquisito a total ausência do discurso libertário de transparência a qualquer preço? Eu explico...

De acordo com uma matéria da Wired, a fundação de Assange agora passa a prever de maneira compulsória através de seu termo de confidencialidade "uma multa de £ 12 milhões (US$ 20 milhões) deve recair sobre qualquer pessoa responsável por vazar parcial ou totalmente informações vazadas ainda não-publicadas do WikiLeaks".

Imagino que uma medida desse calibre pudesse ser tomada pela organização para proteger a informação ainda sob escrutínio de publicação e, sobretudo, proteger a fonte. Mas US$ 20 milhões de multa? Para a própria fonte!?

Julian diz que, além de se proteger até contra seus próprios colaboradores (afinal, pode-se sustentar até os tataranetos com a informação certa na hora certa), os "leaks de leaks" podem debilitar a organização para explorar oportunidades de negócio e venda com exclusividade das informações vazadas para agências nacionais de notícias, redes de televisão e outros publishers.

Um discurso que sai ao contrário e agigantou inúmeras críticas que questionam a capacidade da organização de realmente proteger suas fontes, em contraponto com suas políticas internas de exploração comercial da informação denunciada.

O paradoxo se instala finalmente ao observamos que o WikiLeaks pode até procurar se proteger quanto ao vazamento de informação sensível ainda não publicada para garantir o DNA de seu propósito como organização; pode até achar que isso não torna débil a sua imagem e confiança em relação à proteção de suas fontes; pode até achar que isso não denote que lidera o leaking do mundo por dinheiro... mas o que mais pode o WikiLeaks achar?

É muito difícil de acreditar que Julian não esteja levando em consideração o fato de que sua posição atual pode mudar muito rapidamente, de Robin Hood das Novas Mídias para Sotheby's do Escândalo. Se já não mudou.

E a medida que as camadas dessa cebola vão sendo removidas, eventos como o (literalmente) "leilão" de acesso privilegiado à informações contra o presidente venezualano Hugo Chávez, que acabou não vingando, acabam por mostrar aos poucos uma nova faceta do WikiLeaks.

"Nós vamos continuar vazando. Nossos encanadores custam uma fortuna. E recebemos sim, para publicar ou para... esquecer?".

E quem vazar o que foi vazado, geme com US$ 20 milhões. Punto e basta!

Bem saidinho para uma "organização não-governamental sem fins lucrativos que publica mídias privativas, secretas e confidenciais de fontes anônimas e whistle-blowers", não acha?

Agora, se você quiser salvar o mundo, vá pensando por aí no seu contrato como sub-herói licenciado. E lembre-se que seu anonimato depende do seu silêncio.

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