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O Linux será enterrado

17 anos e meio atrás

Tom Yager, colunista do InfoWorld, publicou um artigo interessante sobre como ele vê o futuro do mercado de TI a curto prazo. Especificamente para o final desta década. É uma visão muito interessante de mercado que pode, ou não, tornar-se real perto de 2010. Além de interessante, é um artigo que pode (e vai) gerar alguma polêmica. Com o título “O Linux será enterrado” Yager chama atenção para um aspecto muito discutido mas pouco entendido das aplicações de TI: dispositivos embarcados. Para entender em que sentido o Linux será enterrado, continue a ler este artigo.Para começar a entender o panorama proposto por Yager você deve refletir sobre a premissa básica que ele implementa já no sub-título da matéria: Microsoft e Apple irão empurrar, com seus sistemas, o Linux para o que ele chama de underground. Conceitualizar esse termo é, aqui, fundamental. Existe cultura underground, música, uma internet, e até uma cultura underground. Esse termo, que em uma tradução livre e direta poderia significar submundo não deve ficar restrito apenas à esse tipo de significado. Tão pouco dizer que o Linux estará mais no underground por ocupar nichos específicos e de pequena visibilidade prática para o usuário desktop explica o conceito que Yager quer implementar em seu artigo. Parece mais correto interpretar o underground, no contexto do artigo, como locais onde os sistemas operacionais convencionais, como MacOSX e Windows, não conseguirão chegar, por um motivo ou outro. Será nesses nichos, segundo Yager, que o Linux será “enterrado” até o final desta década. Uma metáfora que em português não faz muito sentido, mas que em inglês é uma boa metáfora, pois underground também pode ser interpretado como algo que está “abaixo do chão”.

Uma vez que você entenda que o “enterrado” e o “underground” de Yager não são depreciativos e nem significam que o Linux vá desaparecer, soterrado pelas novas versões dos sistemas mainstream de Apple e Microsoft, a visão de Yager fica ainda mais interessante e controversa. Entendendo por Linux um kernel e não um sistema operacional completo o autor adverte que em termos de sistemas UNIX-like será o MacOS (ou qualquer outro nome que o UNIX da Apple venha a ter) o sistema que irá assumir o segundo lugar em aplicabilidade em desktops e servidores de uso geral até o final da década. Para fundamentar isso Yager cita que até metade de 2008 será o MacOS o UNIX com maior número de instalações de fábrica computadores x86 do mercado, superando qualquer outro sabor ou tipo de UNIX. RedHat, Novell, IBM, ou qualquer outro fabricante de sistemas ou equipamentos não conseguirão vender mais computadores com um UNIX instalado e configurado de fábrica, para sair da caixa e funcionar, do que a Apple. E isso seria o bastante para tornar o MacOS o sistema UNIX mais presente no mercado e o segundo sistema operacional mais popular em desktops e servidores x86, atrás apenas do Microsoft Windows. É um argumento que faz bastante sentido já que até agora todas as ações para colocar o Linux pré-instalado como sistema de fábrica em algum sistema x86 de uso geral não deram resultados muito proveitosos para nenhuma parte envolvida.

Com a melhoria contínua do Windows e o aumento de penetração de mercado do MacOS, pelas novas capacidades das máquinas da Apple de executarem de forma natural o Windows, o mercado desktop e de servidores x86 daria cada vez menos atenção ao Linux (o kernel, não o sistema operacional) que por sua modularidade e alta flexibilidade ainda exigem um esforço relativamente maior de seus administradores para um startup inicial em relação aos concorrentes. Entretanto, exatamente por esse poder e flexibilidade, o Linux (que é hoje o kernel que suporta o maior número de plataformas e devices no mundo) seria a escolha natural para aplicação em dispositivos embarcados. Em lugar da expressão “dispositivos embarcados” Yager sugere que “dispositivos especializados” enquadraria-se como uma melhor descrição do que essas pequenas máquinas poderão fazer. Então o principal uso do kernel Linux não seria para computadores desktop ou servidores x86 como sistema operacional mas sim como um “dispositivo especializado” extremamente otimizado para executar determinadas funções com o menor esforço e configurações on-demand possíveis.

Acrescentando à essa mistura o papel que a virtualização irá ter na computação dos próximos anos o autor descreve um panorama onde servidores x86 rodando Windows ou MacOS para gerenciamento de hardware receberiam funcionalidades através da aplicação de pequenos cartões de memória flash. Cada cartão de memória incluiria um kernel Linux com uma aplicação configurada e pronta para operar e dispararia a execução de uma máquina virtual no sistema hospedeiro. Essa máquina carregaria o kernel Linux e sua aplicação, que executaria sua função sem demandar outras configurações ou modificações externas. É um conceito muito parecido com o Appliance da VMWare, porém com mais flexibilidade e velocidade, usando não um sistema operacional completo, mas apenas um kernel. Do artigo:

Aperte um botão, você tem um database empresarial, configurado, carregado com exemplos de dados e aguardando conexões. Quer um servidor J2EE? Aperte outro botão e ele descompacta-se, busca por aquelas databases que você já instalou e conecta-se à elas.

O autor afirma que soluções como essa descrita podem ser oferecidas por grandes nomes de TI, como a IBM, para rodar sobre diversas plataformas montando um grande sistema onde novas funcionalidades são adicionadas com facilidade, rapidez, em tempo real e a custos baixos.

O artigo termina comentando que os fornecedores de Linux irão ganhar muito mais dinheiro assim do que provendo sistemas operacionais para desktop. Pois estariam fugindo da briga grande entre Apple e Microsoft por um segmento que, para o Linux, ainda não proporcionou vantagem ou lucro efetivo. Em nenhum momento ele decreta a morte do Linux como sistema para desktops, mas deixa claro que sua visão não inclui esse posicionamento para o sistema livre. Ele acredita que a grande presença do Linux na próxima década será atrás das cortinas, rodando no seu banco, provedor de internet ou nos sites web que proporcionam serviços à você. E que em seu desktop o sistema terá uma janela ou uma maçã.

Via Slashdot

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