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Ciência Comprova: Milagres Existem

13 anos atrás

1100110550310.low_resolutionImagine algo ruim, tipo um ataque cardíaco. Agora imagine algo pior e mais fulminante. OK, agora imagine algo pior que o Chuck Norris. Você tem as mortes súbitas cardíacas causadas principalmente por arritmias. Essas mortes súbitas são situações onde o coração deixa de funcionar, sem nenhum dos avisos associados aos ataques cardíacos, como dor no peito e falta de ar.

Mais ainda: Não dependem de condição física. Você pode ser sedentário ou um atleta, se sofrer de uma condição genética poderá morrer de uma hora para outra, sem aviso. Em qualquer idade. A morte súbita cardíaca é a principal causa de óbito entre atletas jovens.

As origens genéticas são muitas, assim como os tratamentos para controlar a condição, mas na hora que o bicho pega, só quem te salvará será uma força superior. Na verdade uma das Forças Fundamentais do Universo: Eletricidade.

Quando de uma arritmia extrema seu coração pára de bater. Não fica quieto, mas os sinais elétricos saem de ritmo, são emitidos aleatoriamente por todo o músculo cardíaco, cessando o bombeamento de sangue. Isso é péssimo, todo homem sabe que o cérebro, nosso segundo órgão mais importante depende de sangue para exercer sua função. Aliás, o primeiro também.

Quando o sujeito entra em taquicardia ventricular, parte do coração pulsa com ritmo próprio. Um choque elétrico sincronizado com o ritmo cardíaco principal, em um processo chamado cardioversão costuma resolver.

Já na fibrilação ventricular, melou tudo. Os ventrículos se contraem sem ritmo nenhum, aleatoriamente. O paciente fica sem pulso detectável, um dos cinco médicos que sempre estão no quarto grita “code blue” e em 5 segundos uma enfermeira chega empurrando um carrinho da NASA. House acompanha tudo enquanto come um churro e olha pras pernas da M3.

Na vida real tirando alguns detalhes é assim mesmo. O famoso carrinho existe (ao menos nos hospitais que frequentei) mas o choque é aplicado não para reiniciar o coração, e sim para pará-lo.

Exato. O desfibrilador é um reset. Faz com que o coração receba uma carga muito maior do que a que está sendo repassada pelo tecido fora de sincronismo. As células musculares entendem como um CALABOCA! NÃO VAI SUBIR NINGUÉM! TODO MUNDO EM FORMA! faz-se o silêncio e com sorte o ritmo natural é restaurado.

Um erro que Hollywood já eternizou é: Não se desfibrila um coração parado. Flatline, quando o eletrocardiograma está em modo piiiiiiiiiiiiiii… Isso indica que não há nenhuma atividade elétrica no músculo cardíaco. Não somos Frankenstein. Um choque não fará diferença nenhuma nesse caso. O tratamento é massagem cardíaca e, como diria Charlie Sheen, drogas, muitas drogas.

Problema é que não dá para levar na rua um carrinho com um desfibrilador, não em todo lugar. Como fazer se sua condição genética te torna propício a uma morte súbita? Reze, meu filho, e sua resposta virá do Sinai.

Mais precisamente do Hospital Sinai, em Baltimore, onde em 1969 um grupo de pesquisadores, Michel Mirowski, Morton Mower, e William Staewen tiveram a idéia de um dispositivo implantável que detectaria arritmias graves e as trataria, com choques elétricos.

A idéia foi tão ousada que foi descartada inclusive pelo criador do desfibrilador manual.

A idéia foi tão ousada que Arthur Clarke só inventaria o ACOR – Alarme Coronariano como parte de seu excelente romance de ficção científica As Fontes do Paraíso em 1979, e mesmo assim Clarke não pensou no ACOR como um agente ativo, apenas um sistema de alerta ao paciente.

A idéia foi tão ousada que o primeiro aparelho só foi implantado em um paciente em 1980.

Hoje empresas como a Medtronic fabricam cárdioversores-desfibriladores implantáveis dos mais variados modelos. O “Zippo” da imagem de abertura é um exemplo, dos antigos! Os mais modernos reconhecem alterações normais de ritmo devido a atividade física (provavelmente usando dicas como temperatura e acelerômetros) e dispõe de vários programas para situações específicas, também deduzidas através de sensores. Assim existe menos chance de um esforço físico genuíno resultar em uma descarga elétrica indesejada, o que diminui a vida da bateria, que é de alguns anos, e, convenhamos incomoda.

Esses aparelhos mudaram a vida de muita gente, inclusive de um atleta de 20 anos chamado Anthony Van Loo, que joga pelo Roeselare, da Bélgica. Portador de uma condição arrítmica dessas, foi equipado com um cárdioversor-desfibrilador implantável, e recebeu OK para continuar com atividades físicas. Em uma partida contra o Antwerp o pior –mas esperado- aconteceu. Ele entrou em arritmia aguda, em estado de Morte Súbita Cardíaca. Sua única chance seria uma equipe de emergência bem equipada e treinada, do contrário da morte ninguém volta.

Exceto os discípulos de Volta. Conforme programado o ICD (sigla em inglês do negócio) detectou o estado arritmico, percebeu a atividade física, considerou isso como um fator mas manteve a contagem. Quando depois de 30 segundos o ritmo não se estabilizou, começou  a carregar os capacitores. Identificada como uma arritmia ventricular, era  caso de carga máxima.

Aqui, e somente aqui Anthony percebeu que havia algo errado. Foi quando ele foi ao chão. Depois de oito segundos o ICD emitiu sua descarga elétrica, reiniciando o coração condenado do igualmente quase morto jogador. Ritmo cardíaco restaurado, ele se senta e pede pra voltar pro jogo, pedido que compreensivelmente é negado pelo técnico.

A diferença desses milagres da tecnologia dos milagres dos velhos livros de história é que não é preciso sequer acreditar para saber que os modernos acontecem. Bastar ter olhos para ver. Sim, a sutil mas vital ação do ICD foi registrada em vídeo.

Aqui, para da próxima vez que sua tia falar de gente que ressuscitava os mortos, você dizer que conhece um isqueiro que faz o mesmo:

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