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Relogio GaGa

13 anos e meio atrás


Quando eu era criança estavam saindo de moda aqueles relógios digitais de 1ª geração, com displays de LED vermelhos que acendiam quando se apertavam um botão. Eram feios, grandes pouco práticos e comiam pilha pacas, ainda mais que sempre tinha algum moleque em festa que ficava apertando a noite inteira o relógio do tio pra ver acender. Com a chegada dos digitais LCD de verdade, logo todo mundo tinha um, dos mais genéricos paraguaios (em nossa inocência a origem era o Paraguay  mesmo, não atentávamos para a conexão xing-ling) aos mais sofisticados japoneses.

Os sonhos de consumo eram os relógios-calculadora ou os avançadíssimos relógios-games, como o da foto. Nunca fui fã de Dick Tracy, confesso que nunca vi o filme, embora tenha assistido várias vezes Traci Dick, com a Traci Lords (não posso recomendar pois anos depois descobriu-se que ela era dimenor e o filme foi recolhido, mas isso são outros 500) mas imaginei que o futuro estava no pulso (ok, dada a revelação da frase anterior isso pegou muito, muito mal).

As opções eram muitas. Relógios com games, relógios com vários tipos de calculadoras, relógios com agendas, relógios com controle-remoto de TV, relógios com rádio FM, relógios que gravavam 15 segundos inteiros de áudio e até relógios com televisão, dizem (mas nunca vi). Quando comecei a trabalhar tive vários relógios incrementados, com calculadoras, agendas, até que um dia vi um que custava uma fortuna mas PRECISAVA ser meu: Era um relógio revolucionário que sincronizava com seu computador, através de um sensor no próprio aparelho, totalmente sem-fio. Um programa gerava uma janela no Windows que piscava em determinado padrão, emulando uma comunicação serial e passando os dados.

Claro, era totalmente unidirecional sem correção de erros, lento e sujeito a falhas, mas era excitante ver algo assim funcionando. Pela primeira vez um dispositivo meu falava com outro, meu mundo mobile estava crescendo. O caderninho de telefones perdia espaço, a agenda de compromissos não precisava ser programada manualmente no relógio. Nas filas de espera, os joguinhos (muito) casuais, como o de submarino acima. Eram melhores que os jogos pra Symbian, mas não muito.

Um belo dia surgiram os celulares, logo achei os programas que as operadoras juraram não existir e integrei os aparelhos em minha vida diária, com agendas, livros de endereços e joguinhos ocasionais (quantos milhares de Km de Snake não jogamos?) tudo no bolso. Quando percebi a própria hora passou a ser algo que eu consultava não no relógio, mas no celular.

De repente, não mais que de repente meus relógios viraram História. Toda a certeza que eu tinha, de que eles seriam o Futuro, acabou. Os protótipos futuristas de relógios com telefones embutidos? Acabaram, hoje você vê telefones que por acaso trazem um relógio entre suas Apps. Não foi uma mudança longa e gradual, foi uma ruptura completa. Traumática, um dia eu estava com o relógio no pulso, no outro, gaveta.

Claro, um monte de gente usa relógio ainda, principalmente jogadores de futebol, mas do meu ponto de vista geek o relógio é uma tecnologia totalmente obsoleta, sua função de informar a hora é cumprida por outros aparelhos e toda aquela promessa tecnológica foi suplantada por... uma idéia melhor.

É uma lição que todo mundo que vive de e para a tecnologia precisa aprender. Nada é eterno nessa área, não existem certezas e tudo pode mudar do dia para a noite. (ouviu, PALM?) Não há nada de errado em ter certezas. É muito melhor viver com certezas do que viver em eterna dúvida ou, como trolls em eterna insatisfação. O que não dá é viver em estado de certeza absoluta, que não admite mudança. Na época tudo apontava para um futuro de comunicadores de pulso, que convenhamos faziam muito mais sentido do que alguma coisa saída de ficção científica, como aquele fone sem-fio que a Uhura usava em Jornada nas Estrelas.

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