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Uma noite no Teatro

14 anos atrás

Quem acha que sabe fotografar de tudo, só porque tem um bom conhecimento da sua câmera e das técnicas básicas da fotografia é, no mínimo, um idiota. Eu comecei fotografando books ao ar livre. Ao contrário do que as pessoas possam pensar, é muito mais complicado fotografar usando a luz do sol do que em um estúdio. Por essa razão que esse tipo de ensaio é mais caro. Depois migrei para a luz contínua, onde deveria usar grandes aberturas de diafragma e baixa velocidade do obturador. Foi um bom aprendizado para dominar ainda mais um pouco a técnica. Depois, já com segurança, fui fotografar eventos. Mais alguns anos de aprendizado a se somar ao que já sabia (e ainda estou aprendendo). Agora, uma nova oportunidade surgiu: Fotografia de Teatro.

Desde Quarta-Feira (dia 02/06) está acontecendo aqui em Presidente Prudente a VI Mostra de Teatro. São várias apresentações acontecendo pela cidade com duas Companhias de Teatro vindas de fora e várias Companhias da cidade. Através de um contato com a Oficina Cultural consegui passaporte para fotografar todos os espetáculos que puder acompanhar. Há algum tempo que venho pensando que essa é uma área carente de profissionais e que seria interessante começar o meu aprendizado. Mas, a primeira coisa que bate é o medo, pois se trata de um terreno desconhecido. Procurei pela net algo que pudesse me ajudar e não encontrei nada de muito útil. Então decidi escrever esse pequeno relato de minhas impressões iniciais sobre o tema e onde acertei e errei. Se você está pensando em entrar na área, ou somente fotografar a apresentação de balé da sua sobrinha, essas pequenas observações lhe podem ser úteis.

No Teatro

A primeira apresentação que fui fotografar foi o espetáculo Cachorro Morto de São Paulo (se você tiver oportunidade de ver, eu recomendo) no Teatro Municipal. Local pequeno e com boa iluminação. O palco é baixo e as cadeiras da platéia se encontram em formato de arena. Ótimo, pois em qualquer lugar que estivesse no recinto teria uma boa visualização do espetáculo. Para a noite levei duas câmeras (Canon 30D e a Rebel XSi). As lentes que estavam na bolsa foram as Canon 28-135mm IS, Canon 18-55mm IS, Canon 50mm e Sigma 70-300mm. Tirando a 50mm, todas eram lentes escuras, não muito indicadas para pouca luz. Junto, para evitar fotos tremidas, levei também um monopé.

Primeira regra básica: nunca se usa flash em uma apresentação de teatro. Você corre risco de levar um puxão de orelha do produtor, além de incomodar a platéia e desconcentrar os atores. A configuração básica das duas câmeras foram ISO 800, diafragma em f/3,5 (menos que isso e a profundidade de campo ia para o espaço) e velocidade do obturador em 1/40 (XSi com a lente 28-135mm) e 1/100 (na 30D com a lente 70-300mm). Embora tenha uma velocidade maior em uma lente mais escura, a 30D tem uma resposta melhor na captura do RAW do que a XSi. Começa o espetáculo e o monopé dura apenas 10 minutos. Mesmo garantindo estabilidade, ele limita consideravelmente os enquadramentos e a mobilidade da câmera. Decidi fazer tudo na mão mesmo, tomando o cuidado de nunca passar de 200mm na distância focal.

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Duas coisas nortearam o trabalho. A primeira é uma atitude que sempre fui defensor. O fotógrafo tem que ser invisível, e não o ponto de atenção. Conheço profissionais da imprensa que quando chegam chamam a atenção de todo mundo. Devem se sentir estrelas. A coisa não é bem por ai. Você deve sempre estar presente nos momentos importantes, mas não deve ser um ponto de visibilidade. A segunda coisa é tentar se utilizar das regrinhas básicas dos ensaios fotográficos (e não estou falando de fotos da Playboy): sempre manter uma Unidade Formal e uma Unidade Temática. Por Unidade Temática entendemos que todas as fotos vão ser sobre o mesmo tema e contar uma história por trás de todas as imagens que vão ser feitas. Unidade Formal é manter a composição das fotos dentro de um mesmo estilo (tanto na hora de fazer as fotos quanto no pós-processamento das imagens).

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Dois problemas encontrados. O primeiro é que, mesmo usando duas câmeras com distâncias focais diferentes, senti falta de mais liberdade. Às vezes era necessário uma grande angular de 18mm. Até trocar de lente era perdido algum detalhe importante. A lente ideal seria uma 18-200mm. Para a Canon encontrei uma lente da Sigma que se encaixa nessa distância focal (próxima aquisição). O segundo problema é, por incrível que pareça, o barulho do obturador. Em um local fechado e totalmente em silêncio, ele faz um barulho absurdamente notável. Em alguns momentos até pensei que seria melhor estar com uma prosumer como a Fuji S200EX.

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No auditório

O segundo espetáculo que presenciei (na verdade duas apresentações) foi de um grupo Prudentino. Muita interpretação corporal e poucas falas. O problema aqui é que a apresentação não foi em um teatro, e sim em um dos auditórios do Centro Cultural Matarazzo. O palco é muito alto e a iluminação foi improvisada com quatro refletores colocados no chão. Em alguns pontos a luz estava muito forte, e em outros muito fraca. O que causa um pequeno problema na hora de fazer a fotometria. Não havia local para ficar perto do palco fazendo as fotos e tive que ficar atrás do público usando a 70-300mm em quase todas as fotos. Isso prejudica um pouco a variação de enquadramentos, mas temos que nos adaptar ao ambiente, e não o contrário.

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Espetáculo de Rua

Outra modalidade dessa mostra de teatro é o Espetáculo de Rua. Dessa forma, o primeiro que tive a oportunidade de presenciar foi a apresentação circense da Companhia Rosa dos Ventos. Espetáculo de rua é uma coisa completamente diferente de fotografar, se compararmos a um teatro fechado. Primeiramente, você tem que concorrer com o público que se aglomera em volta para assistir às brincadeiras. A luz não é fixa, pois como estava meio nublado, o sol saia de vez em quando obrigando a mudar totalmente as regulagens. Tudo é muito rápido e realizado em pouco espaço. Nem pensar em trabalhar com uma Teleobjetiva. Aqui foi usado a 28-135mm (mas poderia ser uma 15-55mm) com ISO em 320 e usando o modo de prioridade de velocidade com o obturador em 1/150. O resultado foi satisfatório, mas pode melhorar muito mais.

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Por fim, dicas básicas. Sempre use o foco e a leitura da fotometria no ponto central da lente. Facilita muito na hora de fazer o foco você saber qual ponto a câmera está usando. Conhecer um pouco do espetáculo antes das fotos pode ser uma boa pedida para saber onde se posicionar. Converse com o diretor e peça dicas para ele sobre onde vão acontecer as principais ações do espetáculo. Conheça de maneira obsessiva as configurações da sua câmera, pois você pode ter que mudar alguma no escuro ou sem tirar o olho do visor ótico. Seja humilde, converse com todo mundo, divulgue seu trabalho de maneira não ofensiva, fique aberto a outras oportunidades que possam aparecer no local e entregue um cartão (ter um cartão é importante) para os atores dizendo que as fotos estarão a disposição para eles.

Como não sou o perito, alguns leitores podem ter mais a adicionar a esse pequeno texto. Vamos trocar informações e nos especializar.

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