Carlos Cardoso 14 anos atrás
Existe uma ilusão de que música online trará fortunas para todos os envolvidos, os músicos encontrarão um novo nirvana e todos serão felizes, mas igual ao Albert Hall, o buraco é mais embaixo.
O gráfico acima foi produzido pelo blog Information is Beautiful, e deve ser visto em sua total completitude para ser devidamente apreciado. A fonte é uma pesquisa do Cynical Musician, que calculou quanto um artista precisa vender em cada formato para atingir um salário de US$1.160,00/mês.
Os números são surpreendentes e decepcionantes para a Geração Digital.
Em casos como o iTunes uma faixa de US$0,99 rende US$0,63 para a gravadora, e US$0,09 para o artista. Ele teria que vender 12.399 faixas para atingir os tais mil doláres americanos.
Outros cenários são piores ainda. Sites de streaming como o last.fm e o Spotify são praticamente caso de polícia. O artista para conseguir is incríveis US$1.160,00 no Spotify teria que ter sua música executada 4.549.020 vezes durante o mês.
A facilidade da distribuição online trouxe preços mais baixos, mas a mordida dos intermediários aumentou e muito. Mesmo o mais safado carcamano descarado pirateiro do planeta achará que pagar ao artista US$0,00043 pela execução de uma música, como o Spotify faz, é sacanagem.
Mesmo o álbum tradicional não ajuda muito. Na pesquisa um CD de gravadora de $9,99 rende ao artista US$1,00, para atingir o salário-alvo, teria que vender 1.161 cópias por mês.
A produção independente está se saindo a grande alternativa. Antigamente era algo para, bem... alternativos, hoje nomes conhecidos preferem encarar o preconceito da mídia e do público, cair no quase-ostracismo ao fugirem do esquema de jabás das rádios e gravadoras, a trabalhar por migalhas.
Lobão por exemplo botou CDs para vender em banca de jornal. Já o Ritchie, chutou o pau da barraca, gritou Independência ou Morte (ia citar algo do William Wallace, mas pegaria mal) e passou a produzir seus álbuns. Em 2009 lançou "Outra Vez", o primeiro Blu-Ray gravado, produzido, masterizado, autorado e fabricado no Brasil.
Sim, uma produção independente atropelou toda a indústria das gravadoras.
Mercy Street - Ritchie - Ao vivo - o inglês dele é excelente, será que fez Brasas?
Ele vende menos do que se estivesse no esquemão de grandes gravadoras? Com certeza. Vai a menos programas de TV, toca menos na rádio? Fato, mas vejam os números da pesquisa:
Um CD de produção independente de US$9,99 rende ao músico US$7,50, um CD gravado em casa chega a US$8,00 por unidade. O mesmo CD, em um bom contrato com gravadora renderia US$1,00.
É CLARO que o trabalho da gravadora é importante, claro que toda a insfraestrutura faz falta, mas nos tempos modernos de hoje, onde vídeos de um garotinho chorando porque não é uma Single Lady chegam a quase 3 milhões de visualizações, talvez as gravadoras não sejam o ÚNICO caminho.
Hoje vemos muitos músicos estabelecidos usando e abusando de mídias sociais, tanto o pessoal da velha guarda como os mais novos, nacionais e estrangeiros. Os bons estão se tornando referência, depois do deslumbramento inicial eles se tornam gente legal que faz música, da mesma forma que há gente legal que faz blog, e gente legal que faz empadinhas de forno, e são esses os nomes que lembramos e recomendamos quando alguém pede dicas de música, blogs ou empadinhas.
Tem o mesmo glamour dos velhos tempos, com pedestais enormes, artistas inatingíveis e gravadoras monstruosas dominando todos os detalhes do processo? Sim e não, mas posso dizer que o pessoal do Twitter que vai aos shows se diverte tanto quanto os fãs de antigamente. Proximidade não destrói a admiração por um trabalho bem-feito.
Claro, isso não vale pras bandas emo ou de pagospel (yes, existe) que usam Twitter para fazer SPAM. Essas podem ir para o Inferno.