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Fotógrafos Cegos? Vencendo as Limitações

14 anos atrás

Uma das coisas que tenho orgulho de dizer é que a fotografia é uma arte democrática. Para praticá-la não existem limitações financeiras, éticas, religiosas ou raciais. Ela aceita a todos e pode ser representada em vários formatos. Para praticar a arte não é necessária uma câmera digital super avançada. Câmeras descartáveis ou latas de leite em pó podem ser os veículos de manifestação artísticos perfeitos. Basta ter vontade e sensibilidade. Dentro desse pensamento, uma das maiores provas da abrangência da fotografia é o crescimento da existência ao redor do mundo de um grupo de fotógrafos muito especial: os que não podem ver.

Recentemente, fiz um ótimo curso de avaliação de imagens aqui em Presidente Prudente e o professor estava falando sobre a questão do uso da luz na imagem. Sabendo que eu era fotógrafo ele me perguntou da importância da luz para a fotografia. Respondi que a luz era muito importante e que o fotógrafo nem precisa enxergá-la, mas ela precisa estar presente. No intervalo me perguntaram sobre essa afirmação e me expliquei para eles dizendo que mesmo pessoas cegas podem captar imagens com grande eficiência. Mesmo que isso seja difícil para nós que enxergamos bem compreender, os cegos trabalham com outros sentidos. Eles fotografam sons, cheiros, texturas, mas necessitam que alguém depois lhes explique as imagens que eles captaram.

Aprendi isso de maneira prática ao conhecer uma artista aqui da cidade que, mesmo sem boa parte de sua capacidade visual, é uma grande fotógrafa de natureza. Com ela aprendi que existem mais sentidos além da visão a serem levados em conta na hora de se fazer uma fotografia. Mas, mesmo não prestando atenção nisso, todos nós já passamos por algo que prove esse posicionamento. Quem aqui nunca teve sua fotografia afetada por estar em local com cheiros fortes ou ruído alto? Podemos não notar, mas tudo isso influencia na qualidade da imagem que estamos captando. Tenho um professor de fotografia que diz que o fotógrafo profissional sempre tem que estar de bom humor e de bem com a vida, pois isso vai se refletir em sua fotografia. Ou seja, mal humor é um luxo que não temos. Os sentidos do olfato e da audição trazem o mesmo efeito sobre nossa produção fotográfica.

Mas, tudo isso que escrevi serve de introdução para o caso de Brian Negus, um britânico de 62 anos que mesmo após perder quase toda a visão por causa de uma doença degenerativa, se voltou para a fotografia e, mesmo com sua limitação, produz imagens belíssimas. No caso de Brian, que ainda consegue ver vultos, a orientação para a captura da imagem vem através de sombras e sons. Segundo ele “freqüentemente não sei o que estou fotografando”. Do ponto de vista da composição fotográfica isso é uma maluquice, mas a sensibilidade e o registro do momento são fatos que compensam a deficiência.

Mais bacana do que saber que existem pessoas com deficiência visual que estão fotografando bem melhor do que muito fotógrafo profissional é saber que eles estão se organizando e que já existe um site especializado no assunto. O Blind Photographers reúne notícias e portfólios de fotógrafos cegos através do mundo. Ótima dica para quem quer abrir seus horizontes e ver que nem tudo se resume simplesmente a ver.

Fonte: Blog do Globo Rural (sim, eu leio globo rural)

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