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Resenha: American Gods — você não vai entender nada, mas é ótimo

Deuses Americanos já chegou no terceiro episódio, indo muito fundo na mitologia do romance de Neil Gaiman. É um Sandman para adultos, visceral, explícito violento e primal. Uma história que nos tempos antigos estaria na Bíblia ou no Mahabharata. Vale cada centavo e cada segundo assistido. Clique e leia nossa resenha…

7 anos atrás

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Deuses Americanos é uma espécie de Sandman para adultos. Um romance de Neil Gaiman passado no mundo “real”, onde um sujeito com o improvável nome de Shadow Moon cai no meio de uma literal Guerra dos Deuses.

A série do canal Starz tem Gaiman como produtor executivo, e demorou o tempo certo para sair. A produção é impecável, o clima de roadmovie foi mantido e o texto atualizado, afinal se até os deuses evoluem, um livro de 2001 pode ser atualizado para os dias atuais. 

A história começa quando Shadow, futuro ex-presidiário é libertado alguns dias antes do fim de uma pena, por um motivo justo: sua mulher havia morrido. A vida de Shadow entra em parafuso, e isso antes de descobrir que sua mulher morreu num acidente de carro junto com seu melhor amigo, com o melhor amigo do amigo na boca, se é que você me entende.

Shadow encontra um sujeito estranho, o da foto acima e recebe uma oferta de emprego como guarda-costas. Perguntado de seu nome o sujeito diz que é Mr Wednesday, afinal “é meu dia mesmo”. Quem conhece um pouco de mitologia já sacou, e em outro episódio quando o cidadão é chamado de Wotan, fica óbvio (os corvos ajudam) ele é Odin.

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Como Odin foi parar nos EUA? Isso é mostrado no começo do primeiro episódio, quando um barco Viking aporta em uma região inóspita da costa americana, e os guerreiros acabam em um frenesi de sacrifício a seu deus, para que o vento surja e os leve embora. O primeiro dos velhos deuses chegou ao novo mundo. Muitos o seguiriam.

Gaiman fez uma pesquisa primorosa, desencavando deuses há muito esquecidos, como o Chernobog, uma entidade eslava mencionada de forma menor em textos do século XII. Há outros, muitos outros deuses antigos, inclusive os nativos. E há os deuses novos.

Quem são os deuses novos? Olhe à sua volta:

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Neil Gaiman diz que os deuses deixam de existir quando o último de seus fiéis morrem. Os deuses antigos hoje têm uma fração de seu antigo poder. Quanta gente ainda acredita em Odin? Bilquis, outrora Deusa do Amor e Rainha de Sabá trabalha como prostituta e sobrevive das migalhas de adoração de seus clientes (aos quais ela devora em êxtase com a perseguida. É complicado de visualizar).

Globalização, Tecnologia, Mídia, todos são novos deuses crescendo em poder e alcance. A Mídia aliás é Gillian Anderson, que aparece para Shadow em um videowall, interrompendo um episódio de I Love Lucy. Sim, ela é… Lucille Ball:

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Wotan quer reunir os velhos deuses para uma última batalha contra os novos, esses por sua vez querem trazer Shadow para o lado deles, por algum motivo. Shadow mesmo não liga pra nada, anda apático e sem esperança, depois de ter descoberto o lado oculto da esposa. Mesmo assim ele permanece leal a Odin.

De certa forma Deuses Americanos lembra um pouco a mitologia de Supernatural, mas os deuses antigos são mais benignos e em condição pior. E são caçados por coisa bem pior que os Irmãos Winchester.

Por enquanto os episódios são entremeados por sequências mostrando deuses isolados, como Anúbis recolhendo a alma de uma velhinha e testando sua pureza. Todos irão se encontrar no final? Deuses Americanos já foi renovada para uma segunda temporada, Neil Gaiman escreveu cenas novas e a primeira só usaria um terço do livro original. Histórias não faltam.

Sexo e Violência

Na sequência de abertura já fica evidente que vai ter sangue sim, e muito. No terceiro episódio um leprechaun azarado sofre um acidente de carro horrível, e o destino dos agressores de Shadow é… sinistro. Só que não é isso que vai chocar a audiência. O Starz já não teve pudores em Davinci's Demons, mas em American Gods decidiram humilhar Game of Thrones no quesito pirocas por metro quadrado.

As cenas de sexo são bem fortes, e digamos assim se você não gosta — ok ficou estranho — se você se incomoda em ver pirocas, não veja Deuses Americanos, elas estão presentes, em posição de sentido e quem não gostar que saia da frente.

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Bilquis. DM;HS

Ah sim, o ISIS vai mandar matar todo mundo da produção, no terceiro episódio há uma cena de sexo gay quase explícita, entre dois muçulmanos. Desnecessário? Filho, no primeiro episódio a Bilquis empurra um sujeito inteiro pra dentro da ppk, esse trem já partiu faz tempo.

Conclusão

Se você não leu o livro não vai entender nada. Seu único bote salva-vidas é Shadow Moon, que também não está entendendo nada, ele é um sujeito endurecido, basicamente ateu vendo todo um novo Universo surgir diante de seus olhos, e nem ele mesmo sabe se acredita em tudo que Wotan conta, embora a história de que o Jesus Mexicano entrou nos EUA como ilegal faça bastante sentido.

Vale assistir? Claro que vale, a série vai te tirar da zona de conforto aula de catecismo gibi da Marvel, você vai ver coisas estranhas, deuses esquecidos, primais, violentos, surgidos da mente de nossos ancestrais mais remotos, maravilhados e assustados com o mundo á sua volta.

Sugestão: leia o Livro

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A série é ótima e pode ser assistida no Starz ou na Amazon Prime, mas o livro é sempre melhor. Deuses Americanos está na Amazon a R$ 34,90 edição normal e R$ 29,90 no Kindle.

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