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Resenha — Guardiões da Galáxia Vol. 2 (sem spoilers)

James Gunn fez de novo? Descubra em nossa resenha livre de spoilers de Guardiões da Galáxia Vol. 2, a nova produção da Marvel Studios em cartaz nos cinemas.

7 anos atrás

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Sim, eu sei que este pôster foi inspirado na capa do álbum Rocket to Russia, o terceiro dos Ramones

James Gunn tinha uma difícil missão: fazer com que Guardiões da Galáxia Vol. 2 superasse a obra-prima que foi o primeiro filme que dirigiu em 2014, e que seguia até o momento como a melhor e mais divertida produção cinematográfica da Marvel. A trupe de Peter Quill viveria outra aventura despreocupada e divertida ou seguiriam outros rumos? A pegada de gibi moleque permaneceria ou a trama seria mais séria? Bem, sim e não.

Pegue seu Walkman, dê o play na Awesome Mix Vol. 2 e nos acompanhe nessa aventura.

♪ Família êh! Família ah! Família… ♫

Há muito tempo atrás, quando a Marvel anunciou um filme baseado nos quadrinhos dos Guardiões da Galáxia quase ninguém levou a sério. Personagens que quase ninguém fora do círculo de devoradores de gibis conheciam (a bem da verdade o Homem de Ferro também não tinha um popularidade do nível do Superman ou mesmo do Homem-Aranha, e ainda assim o latinha deu o pontapé inicial no Marvel Cinematic Universe e tudo foi perfeito), sem falar em um guaxinim e uma árvore falantes? Só que os trailers foram saído, o ceticismo do público foi se desfazendo e quando o filme estreou o sucesso surpreendeu todo mundo. Até a Marvel.

Com mais liberdade e um budget maior graças à autêntica matinê que vendeu, Gunn decidiu neste filme mergulhar nas psiques dos heróis de modo a  torna-los menos bidimensionais. O foco da película se dá nas relações não só de amizade, mas principalmente familiares entre Peter Quill/Senhor das Estrelas (Chris Pratt), Gamora (Zoë Saldaña), Drax (Dave Bautista), Rocket Racoon (Bradley Cooper) e Groot (Vin Diesel), agora em sua versão diminuta (e hilária). Mesmo improváveis personagens como Nebulosa (Karen Gillian) e Yondu Udonta (Michael Rooker) mostram enfim suas diversas camadas.

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Ego chega para virar a vida de Peter Quill do avesso

O filme entrelaça duas subtramas em uma só mas a principal é a que envolve o suposto pai de Quill, o alienígena Ego (Kurt Russell). Como o tema principal do Vol. 2 é a família e suas relações nem sempre estáveis, o misterioso personagem chega para complicar a cabeça de quem até então não dava muita bola para o tal "ser de luz" que sua mãe dizia que era seu progenitor. Dá a impressão que o Senhor das Estrelas, antes tão despreocupado e alheio a tudo está cada vez mais incomodado por não saber sua origem, o que pode resultar em desdobramentos inesperados.

Há também a relação entre Yondu e seu superior no grupo dos Saqueadores e a presença da empata Mantis (Pom Klementieff, de Old Boy: Dias de Vingança), uma misteriosa auxiliar de Ego que também tem suas camadas sob a pele. O filme é basicamente uma cebola, e interprete isso como quiser.

Claro que o ponto alto do filme ainda são as perfomances hilárias do Baby Groot, seja lutando ou fazendo gracinhas devido seu tamanho, sem falar que ele foi dublado por um Vin Diesel solto no pasto. Ao contrário do que pode parecer, embora o alienígena vegetal não saiba falar nada além de “eu sou Groot” o ator o faz com diversas entonações desde o filme anterior, e com o tempo você absorve perfeitamente o que ele quer dizer e não precisa do Rocket (e não Rocky; como sempre, “traduttore, traditore) para traduzir o que ele fala, com exceção no caso de sentenças complexas. Ou nem isso às vezes.

Por outro lado Rocket também é bastante aproveitado, desde suas tiradas e ações absurdas como seu lado mais, digamos assim… “humano”, que foi só pincelado no primeiro filme. E a atuação de Bradley Cooper dublando o guaxinim (não o chame assim) é novamente excepcional.

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Elizabeth Debicki, a Jordan Baker de O Grande Gatsy está perfeita (tu-dum-tish!) como a soberana Ayesha

Falando do andamento do filme em si, ele se desenrola de uma forma mais lenta e espaçada do que o anterior que era um frenesi intenso, justamente pela questão do aprofundamento. Ayesha e os soberanos (que prometem ser uma fonte de problemas de escala cósmica nos próximos filmes), que compõem a outra metade do plot estão lá para acelerar as coisas e não deixar o clima ficar moroso demais, de modo a evitar a criação de uma barriga caso o filme se centrasse apenas em Ego e Quill.

A trama segue engraçadíssima com piadas colocadas no momento certo, tanto para crianças quanto algumas de duplo sentido para os adultos, sequências de ação impossíveis e brincadeiras com a trilha sonora, sejam as excelentes canções escolhidas a dedo por Gunn (e que se encaixam perfeitamente no roteiro, ainda que falte uma canção épica como Hooked on a Feeling do Blue Swede; talvez a mais próxima nesse sentido seja a excelente The Chain, do lendário Fleetwood Mac) ou a trilha incidental.

Aliás, vale inseri-la de novo aqui também porque ela é muito boa:

No mais as pontas enfim estão se amarrando. As últimas peças do tabuleiro chamado Os Vingadores: Guerra Infinita que tem estreia marcada para abril do ano que vem estão sendo posicionadas e a perspectiva é que a guerra contra Thanos estoure na cara de todos os heróis do MCU sem exceções. E ele é apenas o primeiro dos dois filmes sobre a saga do titã louco em busca das Joias do Infinito: o segundo, ainda sem título estreia em 2019.

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A empata Mantis é muito mais poderosa do que demonstra

No fim o Vol. 2 é um filme divertido e para toda a família, com mais nuances que o original mas embora não seja suficientemente tão divertido quanto, ainda é um deleite para quem aprecia uma boa aventura despreocupada e que ainda quer absorver mais dos personagens e da trama. Quem quer apenas um pipocão sem culpa numa tarde de sábado terá seu desejo atendido, mas quem procura entender melhor como cada um dos membros dessa família para lá de disfuncional são o que são também sairá satisfeito.

E como não podia deixar de ser, Gunn se deu ao luxo de brincar com o filme e inseriu não só uma série de easter eggs, como também diversos personagens obscuros do panteão cósmico da Marvel. Vale dizer que Sylvester Stallone está presente num um papel pequeno mas muito importante. E este filme contém o maior herói de ação dos anos 1980 (na verdade dois... OK, três) em uma participação para lá de especial.

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"Hora de ouvir música boa e salvar a galáxia mais uma vez!"

Conclusão

Guardiões da Galáxia Vol. 2 não consegue superar o brilhantismo do primeiro filme, mas é muito bom em seus próprios termos. Gunn decidiu focar menos em uma aventura pela aventura e se aprofundar mais nos dilemas pessoais de cada um dos membros do grupo, mesmo os mais improváveis como Nebulosa, Yondu e até Mantis. O resultado é uma história bem contada, com bastante ação e reviravoltas de plot mas que passa a sensação de um grande DLC, uma expansão da fórmula original que não é exatamente ruim; só não é nova e francamente, não há nada errado nisso.

O filme é um dos mais divertidos e prazerosos de se assistir do MCU, sabendo dosar drama e comédia na medida certa e coloca os heróis (e vilões) encarando seus dilemas internos sem a carga soturna e pesada que Zack Snyder utiliza nas produções da DC. É possível equilibrar a balança e isso Guardiões da Galáxia Vol. 2 sabe fazer bem.

Dica final: os efeitos em 3D são lindos e muito bem aproveitados mas de novo, não valem o ingresso (o último que realmente compensou foi Doutor Estranho). Guarde os cobres para os eventuais bonequinhos ou o game da Telltale e assista em 2D, não vai perder nada.

Cotação:

5/5 Baby Groots.

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BRAMarvel — Guardiões da Galáxia Vol 2 - Trailer Legendado

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