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8 processos bizarros envolvendo a NASA

A NASA é alvo de processos bem antes do Jeff Bezos. Alguns incrivelmente bizarros, incluindo o de uma astróloga russa. Conheça os melhores

2 anos e meio atrás

Jeff Bezos conseguiu uma rara unanimidade: Todo mundo achou ridículo a Blue Origin processar a NASA para tentar entrar na concorrência para o pouso na Lua, mas nem de longe foi a primeira vez que a Agência foi processada, e surpreendentemente, nem de longe foi o motivo mais ridículo.

Dura Lex Sed Lex Per Astra. Ou algo assim. (Crédito: Internet/Editoria de Arte)

Vamos conhecer outros desses processos ridículos:

1 - Yemenitas Marcianos

Em 1997 a NASA conseguiu um de seus grandes sucessos: A missão Pathfinder pousou em Marte, liberando o robozinho Sojourner, que demonstrou a viabilidade de um robô semi-autônomo praticando ciência em outro planeta.

O que ninguém poderia imaginar é que Marte tinha dono, e a NASA estava praticando invasão de domicílio espacial. Ao menos na cabeça de três sujeitos lelés-da-cuca chamados Adam Ismail, Mustafa Khalil e Abdullah al-Umari.

Nativos do Iêmen, os três entraram com uma ação na Justiça Iemenita alegando que como descendentes das civilizações Sabaeana e Himiriática, baseados em lendas de 3000 anos atrás que diziam que Marte era parte dos reinos, eles eram os legítimos herdeiros, e a NASA teria violado a propriedade deles.

“Sojourner e Pathfinder, que são propriedade do Governo dos Estados Unidos, pousaram em Marte e começaram a explorar sem nos informar ou pedir autorização”

Eles exigiram a imediata suspensão de todas as operações da NASA em Marte até a Corte chegar a um veredicto. Também pediram que a NASA não divulgasse qualquer informação sobre gravidade, composição da atmosfera ou do solo marciano, sem a aprovação dos três.

O caso foi descartado pelo tribunal do Iêmen, mas em 1998 os Três Patetas apareceram de novo, dessa vez vendendo lotes em Marte, a US$2,00 o metro quadrado.

2 – O Dono de Eros

Como todo mundo que assiste The Expanse sabe, Eros é um asteróide importantíssimo para o desenvolvimento do Sistema Solar exterior, o que nem todo mundo sabe é que no ano 2000 Eros já tinha um bosmang, um sujeito chamado Gregory Nemitz, que tinha planos para minerar Eros, construir uma base de operações e até instalações para turistas. E por ter planos eu quero dizer ele tinha vontade de fazer tudo isso, só carecia de dinheiro, tecnologia, conhecimento técnico, etc, etc e mais etc.

Eros é uma bizarra batata espacial de 17Km de comprimento (Crédito: NASA)

Ah sim, ele também tinha uma empresa espacial, a Orbital Development, fundada em 1997 e que em teoria existe até hoje, embora o site permaneça em 1997. Em termos de realizações a Orbital Development consegue ser um pouquinho melhor que a Blue Origin, pois conseguiu enviar em 2007 um pacote de beef jerky pro espaço, de carona em um ônibus espacial. Fora isso até hoje, nada.

Isso não impediu que Nemitz desse entrada em um registro de propriedade para Eros, em 2000. Quando a missão NEAR Shoemaker pousou em Eros, em Fevereiro de 2001, Nermitz resolver ser generoso, e cobrou apenas o estacionamento, mandando uma fatura de US$20 pra NASA.

Obviamente ele foi ignorado, o que rendeu um monte de cartas iradas, e um processinho numa Corte Federal. Quando o Juiz mandou Nemitz pastar, ele tentou de novo, entrou com outro processo que se arrastou até 2005, quando a brincadeira ficou cara demais e ele retirou a ação.

3 – Astróloga russa

Em 2005 a NASA lançou a Deep Impact, uma missão que iria estudar o cometa Tempel 1, com um diferencial: A sonda iria lançar um projétil que colidiria com o cometa, criando uma cratera e ejetando material no espaço. Com isso os cientistas aprenderiam muito sobre a composição, estrutura interna, densidade e outras características do cometa.

Nunca vi esse troço, tem a ver? (Crédito: Reprodução Internet)

Além do cometa a missão impactou uma dona chamada Marina Bayross, uma astróloga russa que como todo astrólogo moderno, conhecia muito pouco sobre o que realmente acontece lá em cima.

Ela entrou com uma ação em um tribunal em Moscou, exigindo que a NASA cancelasse a missão, pois ao atingir o cometa a NASA estaria “arruinando o equilíbrio natural das forças do Universo”. E ela não parou por aí. Segundo um profundo conhecedor de astrofísica, seu advogado, o impacto alteraria as propriedades magnéticas do cometa e isso afetaria as ligações de celulares na Terra.

Se isso soa ridículo, lembre-se que ela era uma astróloga. O feijão com arroz dela é inventar efeitos esdrúxulos de corpos celestes no dia-a-dia das pessoas.

A doida além do cancelamento da missão exigiu uma indenização de US$300 milhões, para compensar o stress emocional e o dano que a NASA havia causado a sua fé e seus “valores intelectuais”, como se ela tivesse algum.

O impacto foi lindo, e surpreendeu os cientistas pelo brilho. (Crédito: NASA)

A NASA foi intimida várias vezes mas nunca se deu ao trabalho de aparecer nas audiências, no final o Juiz decidiu que a palhaçada havia ido longe demais, e anulou o caso. Marina tentou recorrer, mas não rolou. Como astróloga ela deveria ter previsto isso.

Quanto aos horóscopos, o impacto não afetou em absolutamente nada as previsões futuras e a astrologia continua com o mesmo grau de precisão e capacidade de prever o futuro que sempre teve.

4 – O Fungo Marciano

Em 2014 Spirit e Opportunity eram dois robozinhos muito ocupados estudando a superfície marciana, e como era normal toda sorte de “anomalia” aparecia nas fotos enviadas para a Terra. Todas elas perfeitamente explicáveis, como uma estranha estrutura branca que apareceu “do nada” em um período de 15 dias.

A superfície marciana é toda oxidada, cor de ferrugem, de barro vermelho, então algo branco deve ser novo. A tal estrutura realmente deixou a NASA com a pulga atrás da orelha, e depois de muito bater cabeça, os cientistas concluíram que a tal pedra poderia ser um fragmento de meteorito que por acaso caiu ali perto, ou, mais provável, uma pedra deslocada pelas rodas da Opportunity, virada de cabeça pra baixo com a parte mais clara, não oxidada ou afetada pelo sol, para cima.

O tal "fungo". (Crédito: NASA)

Isso não satisfez um tal de Rhawn Joseph, que achou um absurdo a NASA dar uma explicação tão mundana para algo que “obviamente” era um cogumelo alienígena. Rhawn Joseph era um ufeiro, autor de livros que relacionam o ataque de 11 de Setembro com... aliens.

Ele contactou vários funcionários da NASA exigindo que o tal “cogumelo” fosse estudado em detalhes, mas foi ignorado. Isso resultou em uma ação judicial, citando nominalmente Charles Bolden, administrador da NASA.

O mais divertido é que na ação é dito que o organismo alienígena foi “identificado e descoberto” por Joseph, e então “fotografado pela NASA”.  COMO ele descobriu o bicho, ninguém sabe.

Joseph se apresenta como astrobiólogo, que convenhamos é basicamente bulshitagem, visto que temos ZERO exemplos de vida extra-terrestre para ser estudada. É basicamente como ser especialista em mecânica quântica Yanomami.

OK, eu menti. Divertido mesmo é que a NASA já havia examinado a tal pedra em detalhes, inclusive com microscópios, e postado como é de praxe todo o material, incluindo fotos em alta resolução, no site do projeto.

Pra um cogumelo, se parece surpreendentemente com uma pedra. (Crédito: NASA)

Obviamente a ação não deu em nada, e consultando a capivara do sujeito, o tal “astrobiólogo”  tinha o hábito de querer ganhar no tapetão. Ele havia processado a revista Springer Nature, por ter recolhido um artigo dele que “provava” que Vênus tinha abrigado vida no passado.

5 – NASA e a atéia à toa

1968 não foi um bom ano para a NASA. Pensando bem não foi um bom ano para ninguém. A Guerra do Vietnã estava comendo solta, nos EUA as manifestações por direitos civis atingiam sua fase mais violenta e boa parte da população era contra o programa espacial, principalmente as alas mais militantes, que acusavam a NASA de ser uma distração dos problemas reais do país.

1968 também foi o ano em que a Apollo 8, com Frank Borman, Jim Lovell e William Anders se tornou a primeira missão humana a orbitar a Lua, rendendo toneladas de informações científicas necessárias para um futuro pouso, além de imagens icônicas como o Nascer da Terra:

Durante sua órbita final antes de retornar, os astronautas fizeram uma transmissão de TV para a Terra, e como era 25 de Dezembro, a NASA planejou que os astronautas lessem um trecho da Bíblia, no caso os versículos do Gênesis relativos à Criação do Mundo, bem adequado pro cenário.

Após a leitura Frank Borman se despediu:

“Da tripulação da Apollo 8, encerramos com um boa noite, boa sorte e Feliz Natal, e que Deus abençoe a todos, todos vocês na boa Terra.”

Foi um momento simples e bonito, e dos mitos de Criação humanos, o do Gênesis é um dos mais tranqüilos, complicado seria se usassem Atum, o deus primordial egípcio, que criou os outros deuses com seu catarro, espirrando, ou se masturbando, dependendo da versão do mito.

Claro, não ser Atum não foi o suficiente para uma certa atéia, chamada Madalyn Murray O'Hair. EM 1963 ela fundou a American Atheists, uma ONG voltara para preservar a separação entre Igreja e Estado, e no começo fizeram um bom trabalho, mas como todo movimento organizado, acabaram tendendo pro radicalismo.

Madalyn Murray O'Hair, um doce de pessoa (Crédito: Reprodução YouTube)

Madalyn ficou irada com a leitura da Bíblia no que ela entendia como uma ação governamental, e como era especialista em botar Governo na Justiça, ela entrou com uma ação contra a NASA, por causa da pequena cerimônia.

Chamada de “a mulher mais odiada da América”, Madalyn O’Hair fez com que o Governo gastasse uma grana preta se defendendo. O caso foi levado até a Suprema Corte dos EUA, que anulou a ação alegando que não tinham jurisdição na órbita lunar.

Por causa disso a NASA passou a proibir menções a religião, e a pequena cerimônia de comunhão que Buzz Aldrin realizou na Lua não foi transmitida.

Ela não gostou nada quando o Correio Americano lançou um selo comemorativo da Apollo 8.... (Crédito: NASA)

Quanto a Madalyn, ela continuou processando todo mundo e aparecendo em programas de TV. Em 1980 William, um de seus filhos se converteu ao cristianismo e virou pastor batista. Ela nunca o perdoou.

Em 1995 Madalyn, o filho Jon e a neta Robin sumiram de casa. Na porta uma nota datilografada dizia que eles haviam partido para resolver problemas de família. Um joalheiro local vendeu para Jon US$400 mil em moedas de ouro.

Desconfiados, amigos chamaram a polícia, e os três haviam partido deixando para trás até os cachorros. No final, a verdade era bem mais sombria: David Roland, ex-detento e ex-funcionário da American Atheists havia roubado US$54 mil da ONG. Madalyn denunciou Roland em um artigo.

Roland e alguns cúmplices a sequestraram, junto com os outros dois parentes. Depois de forçados a sacar o dinheiro, os três foram mortos e esquartejados (espero que nessa ordem) e os corpos tão destroçados que só foram reconhecidos por arcada dentária e DNA. Madalyn O’Hair tinha 76 anos.

Mas antes que você fique muito triste, ela também era negacionista do Holocausto...

6 – NASA e os cristãos à toa

A NASA, como já deu pra perceber, nunca está certa. Sempre sobra pra ela, se faz A, pessoal reclama que quer B. Faz B, processam pq deveria fazer A. Por isso era esperado que a decisão de manter a Agência isolada de manifestações religiosas iria sair pela culatra.

David Coppedge, especialista em computação do Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena, Califórnia entrou com uma ação contra a NASA em 2012, alegando ter sido demitido injustamente.

Tripulação da Apollo 1 reza, preocupada com os problemas de segurança da espaçonave. Spoiler: Não adiantou. (Crédito: NASA)

David trabalhou por 15 anos na missão Cassini, a sonda que explorou Saturno, mas seu comportamento não agradava aos chefes. Ou aos subordinados. Ou aos colegas. David, que foi rebaixado em 2009 e demitido em 2011 era adepto do Design Inteligente.

Basicamente, Design Inteligente é criacionismo disfarçado, quando começaram a ensinar Teoria da Evolução nas escolas, o lobby religioso tentou forçar ensino de criacionismo, mas como legalmente é proibido ensino religioso em escolas públicas nos EUA, o DI foi criado como “teoria alternativa”, que se resume a dizer que o Ser Humano é complexo demais para ter surgido “por acaso” (o que não é Evolução) e, portanto, deve ser obra de alguma inteligência externa.

Design Inteligente é tão mal-visto que sua introdução em escolas foi altamente criticada pelo astrônomo George Coyne:

“Design Inteligente não é Ciência e não tem lugar em salas de aula”

O Reverendo George Coyne, na época era diretor do Observatório do Vaticano.

David Coppedge vivia enchendo o saco dos colegas com história de Design Inteligente, inclusive distribuindo DVDs, as reclamações se acumularam e a NASA tomou a decisão inteligente de demiti-lo.

7 – NASA vs Jesus

Esse é um raro caso onde ninguém tem razão.

A NASA, como toda organização grande, tem um monte de atividades envolvendo os funcionários, as pessoas se aglomeram em grupos de interesses em comum, de times de pelada ao Glee Club. Também é normal que surjam grupos religiosos, e para a NASA tudo bem ser religioso, desde que você não encha o saco dos colegas ou isso interfira com seu trabalho.

Essa relação cordial falhou em 2005 quando alguém do Centro Espacial Johnson, em Houston decidiu que era um problema um grupo de oração do Centro convocar via newsletter os membros para uma sessão com o tema “Jesus é nossa vida!”.

Os russos não só não têm problema como fizeram uma tradição das B6ençãos dos sacerdotes ortodoxos. (Crédito: Roscosmos)

O burrocrata não viu problema com o Grupo de Louvor e Oração, criado em 2001, nem com a bandinha do grupo,  “Aliados com o Senhor”. O problema foi mencionar “Jesus”, pois isso daria a impressão que a NASA estava favorecendo cristianismo em detrimento de outras religiões, o que é ilegal.

Quer dizer, o cara acha que um grupo de louvor e oração, com uma banda chamada “Aliados do Senhor” não remete ao cristianismo. Qual Senhor é esse? Sr Burns? Starlord?

O Liberty Institute, uma organização religiosa dos EUA tomou as dores dos funcionários da NASA, e o caso está nas mãos de um Poder Maior: Advogados.

8 – NASA processada por causa de poeira

É seguro dizer que a NASA era nazista em relação a material usado no espaço, e principalmente amostras trazidas da Lua. Por muito tempo era ilegal comercializar ou mesmo apenas possuir material lunar originado pela NASA. Não que isso importasse para Laura Cicco. Com dez anos de idade, em 1972, ela não ligava muito pra essas coisas, então não deu muita bola quando seu pai, Tom Murray que trabalhava na indústria aeronáutica deu de presente a ela dois pequenos souvernirs souvenires duas pequenas lembranças:

Um cartão de visitas do pai com um autógrafo de Neil Armstrong nas costas e

Um tubinho de ensaio com o que seria... poeira lunar.

Laura soltou um “meh” e esqueceu dos presentes até alguns anos depois da morte do pai, quando já burra velha percebeu o valor dos presentes.

Sabendo que a NASA era draconiana com esse tipo de material, Laura fez o que todo americano médio faz quanto está em dúvida de alguma coisa: Meteu um processo para garantir a propriedade da amostra de poeira lunar.

Pega de surpresa, a NASA tentou entender de onde veio a tal amostra, não havia registro. Quanto ao autógrafo, foi autenticado, já a poeira, depois de examinada duas vezes, o resultado foi “inconclusivo”, podia ser poeira lunar, poeira lunar misturada com poeira terrestre ou uma amostra de terra da Terra mesmo.

O tal vidrinho suspeito com a suposta poeira lunar (Crédito: CBS)

O que deixa a NASA bem tranquila, e a motivou a não correr atrás, é que a história de Laura não bate. Neil Armstrong era o sujeito mais Caxias do Universo, ele era completamente by-the-book, um total escoteiro. Ele nunca se arriscaria além do necessário, e nunca jamais violaria uma regra sem um excelente motivo.

A regra era clara: Não era permitido aos astronautas recolher amostras pra uso próprio. É imensamente improvável que Armstrong se arriscasse para contrabandear uma amostra de solo lunar, só pra dar de presente pra filha de um conhecido.

A hipótese mais provável é que o pai de Laura tenha montado o tal tubinho de poeira por conta própria, pra melhorar uma história que por si só já era excelente, afinal Neil Armstrong detestava dar autógrafos.

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