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EUA vão tentar — de novo — substituir uma arma de 100 anos

O Pentágono vai aposentar uma arma que tem praticamente 100 anos. No papel soa razoável, mas na prática é uma péssima idéia, até porque já tentaram antes, três ou quatro vezes. Será tão difícil não mexer no que funciona?

8 anos atrás

160322-N-KK394-052ATLANTIC OCEAN (March 22, 2016) - Aviation Boatswain's Mate (Handling) 2nd Class Kira Edgehill mans the hangar deck control Ouija board aboard the aircraft carrier USS Dwight D. Eisenhower (CVN 69), the flagship of the Eisenhower Carrier Strike Group. Ike is underway conducting a Composite Training Unit Exercise (COMPTUEX) with the Eisenhower Carrier Strike Group in preparation for a future deployment. (U.S. Navy photo by Mass Communication Specialist 3rd Class Anderson W. Branch/Released)d)

Existem tecnologias que apenas funcionam, mas tão bem que toda tentativa de modernizá-las fracassa. Uma faca é essencialmente a mesma ferramenta desenvolvida por nossos antepassados proto-humanos 2,5 milhões de anos atrás, e qualquer um deles não teria problema nenhum em usar uma faca moderna de cerâmica e titânio. Imagine qualquer outra ferramenta que mantenha a mesma usabilidade por tanto tempo.

Um exemplo mais moderno são os tabuleiros de Ouija. Não a palhaçada paranormal, mas os quadros usados em porta-aviões para gerenciar a logística das operações, sabendo quais aviões estão municiados e abastecidos, onde estão as bombas, etc. Criado e aperfeiçoado informalmente pelos próprios marinheiros, o sistema usa parafusos, porcas e silhuetas recortadas em papelão para representar os insumos de cada aeronave.

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A Marinha, claro sempre achou que o processo seria mais eficiente se informatizado. De vez em quando tentam implantar uma alternativa com computadores, eu mesmo escrevi uns dois ou três textos anunciando finalmente a morte do Tabuleiro Ouija. A foto de abertura deste texto, tirada 22/3/2016 no USS Dwight D. Eisenhower mostra que ainda não foi dessa vez.

Como não é a vez deste brinquedo aqui morrer:

M2

É uma M2 Browning, uma metralhadora pesada, calibre .50, com tripé pesa 58 kg (eu falei que era pesada) e consegue disparar com uma cadência de 1.200 tiros por minuto. Tem alcance efetivo de 1.800 m e como fogo de supressão, chega a 6.800 m. É uma arma mortal e magnífica no que se propõe a fazer: garantir absolutamente completamente totalmente que o inimigo tenha um péssimo dia.

Ela é tão confiável que mesmo quando engasga, um operador treinado consegue manter a danada funcionando, para desespero de Alah que tem que virar a noite produzindo mais e mais virgens.


FUNKER530 - Veteran Community & Combat Footage — 50 Cal Gunner Engages Taliban Positions During Ambush

A M2 é tão versátil que é ou foi usada por infantaria, em navios, jipes, como arma antiaérea e em aviões:

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A M2 só tem um problema, na visão dos militares: ela foi projetada em 1918, mas por burocracia e outros problemas só entrou em operação em 1933. Os generais não aguentam mais usar algo tão obsoleto, acham que os soldados merecem armas melhores e mais modernas, e gastaram uma boa grana em um programa de desenvolvimento de sua sucessora. Isso foi em 1939.

A Segunda Guerra Mundial paralisou essa iniciativa, e a M2 só foi substituída nos Anos 50, com a entrada da M85. Que os soldados odiavam. Depois de milhões de dólares, no começo dos Anos 80 a M85 foi aposentada e a M2 voltou a ser usada.

No final da década projetaram a XM312 e a XM806, com um monte de vantagens inclusive pesando metade de uma M2. A verba do projeto acabou sendo usada para modernizar as M2, quando os generais perceberam que uma metralhadora pesada muito leve não faz sentido. Você perde estabilidade e ela não vai ser levada na mão: você não é o Rambo. Aliás, nem o Rambo usava uma M2, ele carregava uma M60 de calibre 762, bem mais civilizada.

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A M2 em si não é o problema. Para ser útil ela precisa disto:

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Cada caixa dessas pesa 16 kg e tem 105 projéteis. Mesmo na cadência de tiro mais baixa da M2, 450 tiros por minuto isso dá para uma rajada de 14 segundos. Por isso a M2 é quase sempre usada embarcada, então não faz diferença seu peso.

Agora os generais vão tentar de novo. Querem uma nova metralhadora no mesmo calibre .50, mas com munição sem estojo (algo que economiza no peso mas demanda muito mais cuidado), lasers, partes em titânio, vários canos intercambiáveis, controle de fogo e… eu falei de lasers? Então Bluetooth. Duvido que não tenha gente pensando em Bluetooth.

A tal nova metralhadora pesada computadorizada provavelmente vai custar uma fortuna, exigirá um PhD em engenharia para ser usada, vai estragar se você falar alto perto dela o nome de algum deserto famoso, e depois de centenas de milhões de dólares, vão decidir que a boa e velha M2 continua sendo a melhor opção.

Como eu sei? Já vi esse filme, e nem falo da M2. O Pentágono gastou bilhões para substituir a pistola-padrão das forças armadas, equipou todo mundo com Berettas, apenas para admitir que era moderna mas inadequada, e agora estão aos poucos voltando para a boa e velha Colt 1911. Adivinhe de que ano ela é…

Coltautos12

Fonte: The FireArm Blog.

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