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Séries da Netflix estão incentivando o público americano a aceitar as legendas

Uma análise sobre o possível impacto das legendas e áudio original de Narcos e Orange Is The New Black no Brasil e nos EUA. E você? Assiste dublado ou legendado?

8 anos e meio atrás

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Há algumas semanas a Netflix passou a exibir a série Narcos, na qual Wagner Moura interpreta o traficante Pablo Escobar, que criou literalmente um cartel bilionário na Colômbia. Se você ainda não assistiu, assista.

E se acha que o enredo sensacional, a fotografia interessantíssima e o ator brasileiro não são atrativos suficientes para despertar sua curiosidade, saiba que a série ainda conta com uma excelente trilha sonora e o ator chileno Pedro Pascal, o príncipe Oberyn Martel de Game of Thrones, da HBO. Pois é, quando eu descobri quem era, minha cabeça implodiu. Digo… bom… continuando…

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Uma das principais críticas que essa série está recebendo no Brasil é sobre o portunhol concebido por Wagner Moura. Em algumas frases fica nítido, mesmo pra nós brasileiros, que a palavra não está correta. Soa familiar demais aos nossos ouvidos. Para quem fala espanhol de forma nativa, imagino que o incômodo deva ser ainda maior. De qualquer forma, e mesmo com outras críticas relacionadas à “visão imperialista da América do Sul”, fato é que Narcos está sendo muito bem recebida pelo público em geral.

Nos EUA o problema não é o sotaque, é a legenda

Uma vez Helen Mirren, que entre outras coisas estrelou The Hundred-Foot Journey no Reino Unido, mas falando francês, disse que os americanos não vão aceitar filmes com legendas. Eles tiveram que adaptar a obra e a atriz passou a usar então um Franglês (Frenglish), uma mistura de francês com inglês, caso contrário a comédia da DreamWorks não seria bem recebida nos Estados Unidos. Pois é.

E a gente pode aqui bradar quanto for, e escorregar no estereótipo de que os caras não sabem ler, que são ignorantes, sem cultura, mas há de se ter muita calma nesta hora. Pra gente, legenda é algo comum, há muitas décadas. A gente está acostumado a assitir filmes estrangeiros, a maioria deles, veja só, dos EUA, com legendas. E mesmo no Brasil, existe uma gigante parcela da população que tem verdadeira aversão às letrinhas, à leitura durante a obra.

Poucos sabem, mas há alguns anos eu ajudei a criar e hoje mantenho um site e uma página do Facebook para fãs de The Big Bang Theory, e lá eu pude ver que mesmo uma série que é tida para nerds, ou sobre nerds, há um enorme número de fãs que preferem assistir os episódios dublados. O SBT é responsável por isso também, mas eu não julgo, cada um cada um.

Agora, se mesmo na nossa sociedade, onde existe o costume de abraçar sem pudores a cultura estrangeira, muitas pessoas se incomodam com legendas, o que dizer dos EUA, onde só se consome filme e séries americanas, com idioma americano, atores americanos ou que falam única e exclusivamente inglês? Eles não estão acostumados com isso, e mudanças como essa são um verdadeiro desafio desta indústria.

Aí entra a Netflix mudando os paradigmas

De uma forma bem articulada e inteligente, a empresa está provando que as legendas são indolores, inodoras e não soltam as tiras.

Em Narcos, por exemplo, existem diversos diálogos entre policiais e traficantes única e exclusivamente em espanhol. Com legendas. Evidentemente existem atores americanos, como Boyd Holbrook, que esteve em Gone Girl e Milk, e que aqui faz o papel do investigador Steve Murphy. Ele é o principal narrador da trama toda, explicando a história de Escobar para quem não conhece (em inglês), mantendo os mais avessos às legendas em uma posição bem mais confortável.

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E essa transição é feita de forma suave. No primeiro episódio, por exemplo, os autores apresentam ao espectador como funciona essa dinâmica, da seguinte forma: um personagem está falando em espanhol ao telefone, e os americanos estão acompanhando tudo através de uma escuta e repassando as informações para Steve. As legendas em espanhol são curtas, pontuais, e boa parte da conversa acontece em inglês. É como se o diretor fosse aquela enfermeira gente boa que aplica e injeção com maestria e diz: “Viu só? Nem doeu, foi super rápido e já passou…

Orange Is The New Black também ajuda no processo

Essa é outra série da Netflix, uma das que eu mais gosto, que também está recebendo cenas com legendas. Pra quem nunca assistiu, trata-se de um enredo que se passa principalmente em uma cadeia feminina nos EUA, contando a história das detentas, seus medos, anseios, crimes, e uma mistura étnica como não poderia deixar de ser em um ambiente assim. Mulheres brancas, negras, asiáticas, européias e latinas convivem juntas.

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E como bem lembrou Stephanie Merry do The Washington Post, em vários momentos as mulheres de cada um desses grupos conversam entre si em seus idiomas nativos, com legendas. Nada absurdo, nenhum diálogo complexo, mas de qualquer forma é um princípio mais que necessário para que esse tipo de recurso cinematográfico passe a ser melhor recebido pela audiência americana.

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hahahah não, não é assim…

E quem sabe um dia possamos ver filmes estrangeiros sendo exibidos em toda sua magnitude e autenticidade para a grande massa americana, não só no computador de um crítico especializado ou geeks de cinema. E isso pode vir a ter impactos extremamente significantes, não só no fator financeiro, mas também em fatores sociais.

E você? Está acompanhando alguma destas séries? Prefere dublado ou legendado? Deixe sua opinião aqui embaixo na área de comentários!

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