Carlos Cardoso 9 anos atrás
Costumo usar o termo “jornaleiro” de forma pejorativa, para me referir ao segmento da imprensa cujo único objetivo na vida é vender jornal, dane-se o conteúdo. Essa postura infelizmente é estimulada pelas empresas e pelos leitores que financiam essa bosta. Daí você vê sites que colocam lado a lado matérias de correspondentes cobrindo a guerra civil na Ucrânia e… isto.
A crítica ao jornalismo é ao jornalismo caça-cliques, à buzzfeedificação do jornalismo com títulos “Você não vai acreditar no que Vladmir Putin fez com seus mísseis nucleares”, é uma crítica ao Huffington Post, que quer ser referência jornalística tendo uma editoria “Sideboob”.
Esperamos mais do jornalismo e dos jornalistas, idealizamos nomes como Woodward e Bernstein. Nos quadrinhos Clark Kent faz diferença, mesmo quando o único poder que usa é digitar mais rápido.
Esse sentimento foi muito bem representado no pedido de desculpas de Will McAvoy, em The Newsroom.
A idéia de que redes sociais mataram ou matarão o jornalismo é idiota. Rede Sociais são Miojo, jornalismo de verdade é a Nigella.
O jornalismo investigativo, opinativo, o jornalismo ponderado e racional não irá morrer. A Apple sabe disso, tanto que dispensou soluções automáticas e está contratando jornalistas de verdade para fazer a curadoria de seu serviço de notícias.
O YouTube se associou com o Storyful e lançou o Newswire, um canal com curadoria com matérias verificadas por jornalistas de verdade, não algoritmos.
Agora foi a vez do Twitter. Convenhamos, ele é excelente, maravilhoso para acompanhar eventos em tempo real, mas isso demanda uns três pés atrás por parte do usuário.
Primeiro, hashtags são inúteis. Pronto, falei. Isso mesmo. Essas porcarias que o Laguna me obriga a colocar não servem pra nada. No Twitter toda tag de grandes acontecimentos passa pelos estágios:
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Segundo, tags são agnósticas, não ligam se é um sujeito no meio do terremoto ou um idiota a 10 mil km de distância dizendo que é culpa do HAARP.
Terceiro, a quantidade de espíritos de porco que adoram zoar huehuehue tragédias é imensa. Seja idiotas subindo fotos de dentro do avião da Gol, seja imagens aleatórias de tsunamis e terremotos anteriores, há um prazer mórbido em enganar um site grande e ver sua desinformação no ar.
A curadoria por jornalistas evita a informação repetida E a informação de baixa qualidade. Mesmo com a agilidade que a internet exige é possível manter um alto nível de confiabilidade, a não ser que você seja a Globo News com seus estagiários, claro.
O Projeto Lightning do Twitter permitirá que você acompanhe eventos, não apenas pessoas ou tags. Editores selecionarão tweets com imagens, vídeos e informações, compilarão esses dados e disponibilizarão de forma autenticada.
É algo que os usuários mais experientes já fazem, mas é trabalhoso. Muito melhor ter uma equipe de profissionais sérios do que passar meia hora pesquisando se a imagem que o @bigusdickus4231 postou da Ucrânia é atual ou antiga, e da Bielorrússia.
No final temos o melhor de dois mundos: a informação via curadoria e a fonte bruta, para quem desconfia de tudo e todos. Entre mortos e feridos salva-se o menino jornalismo. Os boatos de sua morte foram um tanto exagerados.
Fonte: Reuters.